Jogos do tipo sobrevivência e criação tiveram um grande boom na última década. Diversos sucessos surgiram, mas também outros que apenas surfaram na onda tentando emplacar alguma temática diferente com alguma esperança de produtividade. De certa forma, a quantidade de jogos assim deixou evidente os problemas do estilo e um cansaço para o tipo. V Rising, disponível desde 2022 no PC, chega aos consoles trazendo uma das melhores aplicações da fórmula de survival até então.
No papel de um decadente vampiro que almeja voltar aos anos áureos de sua raça, o jogador precisa evoluir de uma forma caquética até um poderoso ser das sombras através de diversos itens, equipamentos, conhecimentos e mais. Explore uma região assombrada procurando os mais diversos materiais necessários para criar armas e vestimentas, acessórios únicos e até mesmo para reerguer um castelo há muito abandonado enquanto enfrenta caçadores, soldados, bandidos, feras e várias outras aberrações.
V Rising parte do princípio de qualquer jogo do tipo, com o jogador tendo que começar do zero e evoluir a partir disso colhendo migalhas iniciais até que isso te leve a outro patamar no ambiente local. De armas de ossos a equipamentos de metais raros, o jogador é incentivado desde o início a coletar materiais e transformar isso em itens e ferramentas que vão garantir sua evolução.
A grande sacada aqui é focar extremamente no essencial e naquilo que resultará em alguma coisa útil, o que não acontece em diversos jogos do tipo. Enquanto alguns jogos assim tendem a entregar mais e mais coisas ao jogador na intenção de rechear listas e popular áreas, o título da Stunlock Studios foca no que poderia até ser chamado de simplicidade.
Um bom exemplo disso, notado já inicialmente, é o de que suas armas também são suas ferramentas de coleta, com algumas tendo benefícios para cada tipo de material. Sem que o jogador tenha que ficar carregando uma marreta e um picareta para funções distintas, a solução é entregar uma maça que é capaz de quebrar pedras e demais minerais, interagir com outras opções e também servir para rachar crânios de inimigos.
Não há aqui também uma extrema necessidade de diversificação de um mesmo tipo de material, como peles diferentes e mais. Um só desses materiais é usado ou refinado diretamente para funções distintas. Em resumo, essa simplicidade foca o jogador naquilo que é inerente à jogabilidade e todas as opções ali, sem vários desvios e incremento de alternativas que no fim não acabam reforçando o que o jogo. Escolher por ser direto é uma vantagem imensa nesse tipo de jogo e não ocupa tanto a cabeça do jogador como o baú de inventário com coisas inúteis.
Partindo disso, as armas em V Rising já são pré-estabelecidas e o jogador vai criar do mesmo tipo, mas aperfeiçoadas. Espada, lança, maça, arco, balista, machado e mais estão presentes. Melhores tipos de vestimentas surgem do mesmo processo, assim como acessórios e outros. As magias do seu vampiro e demais habilidades vão surgindo no evoluir do que seria a campanha, que vai consistir em ir atrás dos grandes inimigos do mapa e suas recompensas únicas.
Cada nova criação ou conhecimento liberado te permite progredir com equipamentos melhores que, no fim, vão definir seu nível de personagem. Quanto maior o nível alcançado, mais desafios e melhores recompensas vão surgir até se tornar o vampiro mais poderoso do local.
Parte dessa evolução está ligada diretamente ao seu castelo. Várias ferramentas de criação, refinamento ou melhorias estarão disponíveis no decorrer da jogatina e diversas outras vão aparecer além disso. Seja uma máquina de teletransporte, uma refinaria de pedras, um curtume ou mesmo seu luxuoso trono, várias mobílias úteis ou de decoração vão fazer parte do seu lar de pedras. Inclusive isso é um charme único, com várias opções de criação disponíveis no decorrer da sua jornada para criar a moradia perfeita, seja para deslumbrar sozinho ou na disputa com outros jogadores.
O fator multijogador também é parte importante aqui, mesmo que eu acabe por recomendar a experiência solo como única para adentrar ao jogo e aprender pelas primeiras horas. Disputa ou colabore com vários outros jogadores no mesmo mapa e torne a experiência um tanto quanto mais sangrenta. Faça cerco a outros castelos e roube recursos ou trabalhe em equipe para uma jornada cooperativa de sucesso. De toda forma, é preciso ter força de vontade e sangue quente para encarar outros vampiros no modo jogador contra jogador, o que acaba sendo desafiador e frustrante em várias ocasiões.
Uma fantasia de vampiro não seria a mesma sem as diversas nuances que a acompanham. É interessante como tudo isso acaba sendo usado para enriquecer ainda mais a jogabilidade aqui, como a questão da luz do sol e como isso afeta seu personagem, fazendo com que haja um planejamento específico para explorar ou lutar. Imagine estar longe do seu castelo e o dia começa a nascer, com os raios solares começando a fritar o personagem enquanto o jogador procura desesperadamente sombras por uma região que o mesmo desmatou para colher madeira. Situações assim surgiram no início da minha jornada e foram importantes para fortalecer a ambientação e fantasia que o título propõe.
Se apenas o que foi apresentado já seria atrativo suficiente até para angariar jogadores que nunca se preocuparam em testar o estilo de sobrevivência e criação antes, o combate do jogo entrega robustez de sobra, reforçando a fantasia de vampiros com inimigos diversos, magias e ações distintas, transformação em outras formas de vida com funções úteis, interação com humanos via manipulação ou enganação e muito mais acabam entregando uma ambientação excelente e comprovando o acerto da mescla de universo de vampiros com sobrevivência. Com isso, nem sempre um dos seres mais poderosos das histórias de terror vai ser onipotente aqui e acaba precisando de diversos artifícios para não sucumbir aos mais diversos perigos.
V Rising fez valer a pena chegar mais tarde aos consoles quando consegue entregar uma experiência praticamente perfeita em termos técnicos e de design. Feedback de vários jogadores do PC transformou e aperfeiçoou o jogo ao longo do tempo, entregando um pacote completo em diversos aspectos. O trabalho de portabilidade para os controles entrega uma experiência bastante agradável, mesmo que ainda tenha percalços consideráveis.
Um dos grandes problemas do controle para mim foi a movimentação de câmera que é feita ao utilizar segurando o L2 e movimentando analógico direito. Fora disso, o jogador tem a tela fixa, sem giros e inclinações enquanto transita pelo mapa. É preciso bastante adaptação para uma função que no teclado e mouse é feita acionando apenas um botão de forma bem simples, mas que aqui é um pouco mais trabalhosa.
Além disso, o jogo poderia entregar mais opções de acessibilidade e ajustes na versão de console. Se for imaginar que o público de PC aproveita os jogos numa distância mais curta para um monitor, aqueles que aproveitam um sofá e uma TV mais distante aqui pode ter dificuldade com visualização de menus e textos, já que a interface foi feita para várias informações simultâneas e não há ajuste de tamanho de texto ou ajuste da área útil de visão. Confesso que precisei me aproximar várias vezes da TV de 48” para enxergar detalhes que faltavam à vista quando no sofá.
Com uma jogabilidade viciante, um design refinado e aprimorado de forma direta para um estilo de jogo que acaba se beneficiando disso, uma ambientação excelente e tudo isso num pacote bastante completo, além da parceria com diversos elementos do mundo de Castlevania, a versão de PS5 de V Rising é uma novidade que vale ser conferida por qualquer tipo de jogador e uma das melhores opções do gênero já lançada. Há pormenores que podem ser resolvidos facilmente em atualizações futuras, mas garanto que é um título que vale a pena ser conferido mesmo por aqueles que nunca se interessaram pelo estilo de jogo proposto.
Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Stunlock Studios.
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