Não parece, mas já se passaram mais de dois anos desde o lançamento de Elden Ring, o soulslike da FromSoftware responsável por furar a bolha deste gênero tão caótico. Com a chegada de Shadow of the Erdtree, uma longa espera se encerra e cada segundo que aguardei por esse DLC, valeu a pena. A expansão chega apresentando uma nova trama, um gigantesco mapa e inúmeros desafios.
Embora a trama careça de respostas que devem vir quando a comunidade se unir para desvendar os mistérios da Terra das Sombras — que são menos explícitos comparados à trama da campanha principal —, o DLC é o brilhantismo do soulslike em sua melhor forma e expande mecânicas com novas armas e áreas belíssimas.
Siga os passos de Miquella
Como já deve ser de conhecimento geral da comunidade de Elden Ring, para acessarmos Shadow of the Erdtree devemos derrotar o General Radahn e Mohg, Lorde do Sangue. Após derrotarmos os dois semideuses, na mesma arena em que derrotamos o agouro do sangue vemos a presença de uma guerreira de armadura preta e trajes brancos: essa é Leda, uma das seguidoras de Miquella.
Ela nos recepciona e explica mais sobre esse culto que se formou em torno do empíreo irmão de Malenia, então partimos para a Terra das Sombras. Ao chegarmos no novo mapa somos agraciados com uma bela vista para a Umbrárvore, uma contraparte da Térvore, que derrama uma seiva dourada. Logo em seguida, estamos completamente livres para partirmos para onde quisermos e da forma que quisermos.
Terra das Sombras é inóspita, perigosa e gigantesca
A Terra das Sombras é gigantesca, e a nível de comparação ela deve ter o mesmo tamanho de Limgrave somada à metade de Caelid e Liurnia dos Lagos — sim, é enorme para um DLC. Ao longo das 35 horas de jogo que tive durante minha gameplay, explorei praticamente todas as novas áreas, exceto uma cuja passagem não consegui encontrar. As novas localidades contam com extensas legacy dungeons, como Belurat, possivelmente a primeira grande masmorra que você visitará.
Lá temos inimigos novos, como cavaleiros negros (apesar do mesmo nome, estão muito distantes dos icônicos inimigos de Dark Souls 1), pássaros de pedra que cospem uma chama congelante, insetos gigantes, metade-aranha e metade-escorpião, invasões e, por fim, o grande chefe da área, a Besta Divina Leão Dançante, que não me apresentou muitos riscos, afinal, comecei a expansão com uma build de sangramento. Seus movimentos são majestosos e ela usa diversos elementos, como raio, gelo e rajadas de vento, o que me fez lembrar do summon Kujata de Final Fantasy 7.
Após Belurat, partimos para outra legacy dungeon, o castelo Ensis, onde encontramos Rellana, irmã de Renalla. Ela é uma chefe incrível, cheia de movimentos plásticos, usa feitiços, possui duas espadas encantadas, uma de fogo, outra mágica, e após passarmos pelos desafios dessa localização partimos para Fortaleza das Sombras, lar do tirano Messmer.
Rellana e a Besta Divina foram fáceis, e após derrotá-lo troquei a build de sangramento para a de cavaleiro encantado, para que o desafio fosse maior. Messmer é um dos grandes destaques, senão o grande destaque de Shadow of the Erdtree ao lado de Miquella. Não posso falar muito sobre o personagem, mas ele possui um papel de destaque e guia a narrativa.
Todos os locais são inóspitos, sombrios e perigosos. Um dos melhores exemplos disso é a Floresta Abissal, uma localização secreta da expansão que possui grande ênfase na Chama Frenética, elemento da loucura que é uma das tramas de notoriedade da campanha principal e volta a ser destacado dentro do DLC. Nesta localização, não podemos usar o Torrente, porque ele fica assustado, então precisamos seguir a pé. Temos um inimigo imune a nossos ataques, e caso ele te veja e consiga te agarrar, esqueça, é morte instantânea.
No quesito exploração, tudo continua impecável e orgânico: é muito fácil se perder em busca do seu objetivo, mas encontrar algo completamente inusitado logo à frente e que te surpreende. O único problema é que Elden Ring repete o mesmo erro da campanha principal: a repetição de inimigos. Apesar dos novos rivais que temos na Terra das Sombras, alguns deles são os mesmos das Terras Intermédias, além do fato de que as batalhas contra Dragões, exceto por uma da qual falarei mais a frente, são iguais e não apresentam nada inédito.
Além das localizações principais, temos um campo de flores cerúleas que exala beleza, um pico de dragões que transpira hostilidade e é repleto dessas feras, raios e muito mais. Toda a estrutura do mapa me deixou bastante satisfeito e eu não queria soltar o controle por um minuto sequer.
Temos que falar também das gigantes fornalhas que perambulam pela Terra das Sombras. Esse seres colossais ganharam bastante destaque nos materiais de divulgação e vamos nos encontrar com alguns deles com bastante frequência. Enfrentá-los é muito tedioso, afinal eles possuem uma barra de vida enorme e devemos bater em suas pernas inúmeras vezes para derrubá-los e inflingir um ataque crítico. Porém, existem momentos em que eles usarão armaduras nas pernas, ai devemos ir para um terreno alto e atacar sua cara, se você usar flechas ou magias é possível atacar com mais facilidade.
Combate ganha um brilho extra com novas armas
Quanto ao combate de Shadow of the Erdtree, tudo permanece excelente assim como no jogo base. No entanto, as novas armas dão um brilho a mais à expansão de Elden Ring. Seja pela espada longa Milady, que apesar de ser uma lâmina grande, executa movimentos rápidos e graciosos, pelos frascos de perfume, uma alternativa às magias elementais, ou até mesmo pelas curiosas luvas do Folhaseca, que adicionam uma espécie de combate corpo a corpo bastante eficiente.
Para ajudar o jogador com a dificuldade que a Terra das Sombras apresenta, uma nova mecânica foi inserida e é semelhante ao que vemos em Sekiro. Ao longo da jornada, encontraremos Fragmentos da Umbrávore e Cinzas Espirituais Referenciadas, esses itens podem ser usados para aumentar o poder de ataque e a negação de dano. No meu save, consegui colocar os fragmentos no nível 15 e as cinzas no nível 8, e o buff só é válido para o DLC. Dentro da expansão, o dano da minha arma que escala com força e inteligência estava em 1859, enquanto nas Terras Intermédias eu possuía apenas 1062, o que deixa evidente o salto de dificuldade que existe em Shadow of the Erdtree.
Nada é muito novo nesse quesito, algumas armas dão apenas uma nova cara para os embates, o que é ótimo. O histórico de DLCs da FromSoftware se mantém em não trazer enormes adições ao combate, mas sim ter foco imenso em uma nova história, localizações inéditas e batalhas de chefe emocionantes. E falando nas boss fights, elas merecem um destaque à parte.
Encontros com chefes são emocionantes e me fizeram tremer
Um dos maiores trunfos do gênero soulslike são as batalhas de chefe. Seja nos jogos da FromSoftware, ou nos títulos de outras desenvolvedoras, muito do alicerce que sustenta esses jogos é formado por esses combates.
Já falei um pouco sobre as lutas contra a Besta Divina e Rellana nos parágrafos anteriores, mas essas são apenas as lutas iniciais. A terceira grande localização do jogo é a Fortaleza das Sombras, onde encontramos Messmer. O filho de Marika impõe um desafio estarrecedor que na minha experiência foi potencializado por conta do New Game +2 — meu save mais próximo do DLC estava nessa jornada e eu resolvi encarar a expansão desta forma. Messmer é ágil, ataca com sua lança, com fogo e usa golpes que te dão hitkill com extrema facilidade, e ainda possui uma segunda fase, porém esta não pode ser comentada em detalhe por motivos de spoiler.
Outra luta que gostaria de destacar é contra Bayle, o Horror, um dragão gigantesco e poderoso que se encontra numa das áreas mais hostis de Shadow of the Erdtree. Bayle possui uma lore bastante interessante, pois ele é o responsável por ferir Placidusax, o Lorde Dragão que enfrentamos na campanha principal, tornado-se assim um traidor da própria raça. Para não ser morto por outros dragões, ele se exilou na Terra das Sombras, até que nosso Maculado chega em seu Ninho. Essa é uma luta estarrecedora, difícil, emocionante e cheia de poderes insanos que Bayle solta. Precisei de mais de 30 tentativas para derrotá-lo, e quando consegui, ele me matou no mesmo instante, mas a vitória foi contabilizada e não precisei enfrentá-lo novamente. Essa batalha, para mim, superou o embate contra Midir em Dark Souls 3, e Hidetaka Miyazaki conseguiu superar a melhor batalha de chefe de dragão da história da FromSoftware.
Todos os grandes combates foram bem difíceis para mim, esperem o mesmo nível de dificuldade que vimos no entrave contra Malenia. Talvez, em um New Game normal, o DLC não seja tão difícil, mas a minha experiência no NG+2 foi insana. Existiram três lutas que me deixaram completamente emocionado, e quando alcancei o meu triunfo contra o inimigo estava tremendo bastante com o controle na mão. Nada é frustrante, apesar da enorme dificuldade, e quando o desafio é superado a recompensa é alta.
Mais dúvidas do que respostas
Uma das grandes expectativas que existia para o DLC era de que respostas sobre a Ruptura e todos os eventos das Terras Intermédias seriam respondidas. Algumas questões recebem respostas, porém Shadow of the Erdtree me deixou bastante confuso, mesmo após ler descrições de itens e outros elementos narrativos que a FromSoftware usa.
A trama de Miquella possui algumas reviravoltas cujas motivações não consegui compreender. Temos também algumas subtramas que não podemos abordar por questões de spoilers, mas que ainda são confusas. Sabemos que a comunidade soulslike sempre se une para desvendar esses mistérios, no jogo base, porém, as coisas pareciam mais explícitas e facilitavam a compreensão.
As quests dos NPCs ajudam a dar mais contexto para a Terra das Sombras e são ótimas. Contudo, em uma delas tive um problema e simplesmente não consigo interagir com o NPC apesar de ele estar no local. Outra pequena decepção que tive com a expansão é a ausência de Godwyn e Melina, personagens misteriosos e que permanecerão sem respostas. Porém, como disse anteriormente, existe uma área do DLC que não consegui acessar, e talvez por lá tenhamos algumas respostas.
Hidetaka Miyazaki acerta mais uma vez ao expandir o mundo de Elden Ring com maestria. Alguns defeitos como a repetição de inimigos retornam neste DLC, porém não são suficientes para ofuscar a excelência que rodeia a Terra das Sombras. Infelizmente, algumas dúvidas quanto à narrativa das Terras Intermédias permanecem sem respostas, mas seguir os passos de Miquella é incrível. As batalhas de chefe estão mais emocionantes do que nunca e o novo mapa é gigantesco, rendendo muitas horas de exploração e, é claro, muitas mortes.
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