Uma nova espécie de crocodilo, capaz de emitir sons para se comunicar entre a espécie e que era presa de dinossauros, foi descoberta por pesquisadores brasileiros no interior de São Paulo. O feito foi descrito em estudo publicado no último dia 14 na revista científica Historical Biology.
Batizada de Caipirasuchus catanduvensis —algo como crocodilo caipira de Catanduva—, a nova espécie viveu há 85 milhões de anos na região de Catanduva (a 360 km da capital paulista) e também no Triângulo Mineiro.
O animal era pequeno, com 1,20 metro de comprimento.
O crocodilo caipira tinha hábitos terrestres, convivia com grandes dinossauros e possuía uma espécie de caixa de ressonância junto às vias respiratórias, inexistente em outros crocodilos da época.
É essa característica que faz os pesquisadores acreditarem que a espécie emitia sons na tentativa de escapar dos seus predadores e também para cuidar dos filhotes.
“O animal deveria emitir sons ressonantes a partir de uma câmara ligada à cavidade nasal, como os atuais aligátores, principalmente na época de reprodução, quando os machos intensificam os ruídos para atrair as fêmeas”, afirma Marcelo Adorna Fernandes, paleontólogo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e um dos autores do estudo. “Ou até mesmo para o caso de disputa territorial e também para avisar o grupo sobre ataque de predadores. Quem ‘gritava’ mais alto ficava com o lugar.”
A vocalização, neste caso, é um indicativo de organização social entre os C. catanduvensis, similar ao observado nos suricatos, espécie de mamíferos que andam em grupos e que são encontrados na África.
Outra característica que diferencia o C. catanduvensis das outras espécies de crocodilos é o fato de eles não serem carnívoros.
Por meio da análise dos dentes e ossos da mandíbula, os pesquisadores concluíram que o animal se alimentava principalmente de plantas, podendo também comer ovos.
Os fósseis do C. catanduvensis foram encontrados em 2011 durante obras de duplicação na rodovia Comendador Pedro Monteleone (SP-351), no interior paulista. No entanto, apenas em 2018, quando foi realizada a tomografia do crânio, foi levantada a hipótese de que se tratava de uma nova espécie.
“Esse animal tem uma câmara no osso pterigoide (céu da boca) semelhante à de outra espécie do gênero, então por um tempo o fóssil foi atribuído a outro tipo de crocodilo”, diz Fabiano Vidoi Iori, paleontólogo do Museu Pedro Candolo, de Uchoa (SP), também autor do estudo. “Porém, quando chegamos à fase mais aprofundada de estudo, percebemos que essa câmara era mais complexa e ela tinha uma ligação com as vias aéreas superiores, então notamos que era algo bem distinto e específico.”
Além de Fernandes e Iori, assinam a pesquisa Aline Ghilardi, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Willian Dias, da UFSCar.
Com a descoberta, o número de espécies do gênero Caipirasuchus aumenta para seis. As duas primeiras foram encontradas em Monte Alto (SP), outras duas na região de General Salgado (SP), uma em Iturama (MG) e agora a nova espécie de Catanduva (SP) —daí deriva o termo catanduvensis no nome.
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