Uma melhor resolução, reforço da luminosidade e dos comandos resultam num salto qualitativo de Luigi’s Mansion 2 para a Switch como jogo portátil. A ausência do segundo ecrã é sentida, o efeito 3D nem tanto, enquanto que o corpo da experiência transita sem novos desenvolvimentos.
Ainda com Luigi’s Mansion 3 na retina, lançado em 2019 na Nintendo Switch, recebemos Luigi’s Mansion 2 HD, o remaster de Luigi’s Mansion 2 Dark Moon, título originalmente editado na 3DS em 2013. Na altura, Dark Moon veio pôr termo a uma ausência de pouco mais de dez anos da série. O original da GameCube (2001) ainda é um jogo marcante e assinalável, a partir do qual as sequelas souberam explorar e desenvolver esse aprisionamento de fantasmas fabricado pela Nintendo. Se o jogo da 128 bits é curto mas simultaneamente diferenciador de um Super Mario, o que o tempo demonstrou é que no “outsorcing” da Nintendo para com outros estúdios (neste caso a Next Level Games) não se perdeu o tratamento adequado.
A verter uma jogabilidade que incorpora elementos de acção, puzzles e exploração no interior de mansões e torres assombradas, Luigi assume as rédeas da acção como protagonista que não se coíbe a uns sustos de morte, ao mesmo tempo que não quebra a espinha quando enfrenta os luminosos e poderosos seres fantasmagóricos, aprisionando-os na sua engenhoca cujo poder de sucção é a arma mais forte. O estúdio Next Level Games soube erigir com mestria este medir de forças e se hoje reina na Nintendo a confiança neste modelo de “Caça Fantasmas, muito se deve ao estúdio canadiano.
Foi um tanto especial jogar Luigi’s Mansion 2 Dark Moon na Nintendo 3DS. As capacidades da consola foram exploradas até ao limite. Graficamente é um jogo que vive muito de contrastes e de um forte impacto da luminosidade, ao mesmo tempo que a renderização dos elementos em 3D e dos espectros em movimento imprimem um rápido desenvolvimento da acção. Ao mesmo tempo, o ecrã inferior da 3DS serviu para revelar os mapas e conduzir mais facilmente o jogador por entre os vários pisos das mansões. Com algum “backtrack” à mistura e a necessidade de ligar o fio à meada, o segundo ecrã da consola é facilitador da tarefa. A análise ao jogo da 3DS pode ser lida por aqui.
Luigi’s Mansion 2 HD – remaster ou remake?
Jogar Luigi’s Mansion 2 HD numa Switch é superior a jogar numa 3DS. Essa perda de exclusividade é benéfica desde logo na troca por um ecrã maior e de melhor resolução. Além disso, sendo um jogo com uma componente de acção, os botões mais espaçados e o “rumble” dos joy-con tornam a experiência mais orgânica e coerente por via das vibrações quando os fantasmas se aprestam a fazer das suas. Visualmente é um jogo mais próximo do grafismo de Luigi’s Mansion 3, com melhorias assinaláveis face a Dark Moon, especialmente a melhor resolução, ainda que corporalmente seja o mesmo jogo. É assim um remaster, que aprimora os visuais do original mas que mantém intacta a estrutura e o núcleo das mecânicas.
Sinto que a ausência de um segundo ecrã dedicado aos mapas das mansões não é favorável. Se era um dos pontos a favor da versão 3DS por estar sempre à mão bastando desviar o olhar para baixo enquanto controlava Luigi, aqui obriga a ter de pausar regularmente o jogo. É curioso verificar que o acessório que Luigi exibe e que lhe foi entregue pelo professor Anacleto Luado é precisamente uma DS. Teria sido mais engraçado, julgo, que nesta versão HD esse acessório fosse uma Nintendo Switch. Mas isto já é um pequeno detalhe.
Para lá da disponibilidade do “rumble” através dos joy-con, os dois analógicos e o maior espaçamento dos botões possibilitam um controlo melhor e mais sensível de Luigi, na alternância entre a iluminação dos fantasmas e apontar a arma. A passagem do jogo para o televisor revela as melhorias em termos visuais. Luigi recebeu mais texturas, a renderização em 3D está melhor. Diria que para um jogo desenvolvido originalmente para uma consola portátil, a passagem para um televisor não é de todo de menosprezar. As melhorias ao nível da luminosidade e da aceleração da renderização tornam a acção bastante fluida e equilibrada.
Conteúdo robusto
Esta segunda aventura de Luigi expande sobremaneira o original. Enquanto que a acção do jogo para a GameCube decorre numa mansão, neste título são cinco as mansões e ainda há uma área adicional para multiplayer. Em termos de longevidade é substancialmente um jogo não só mais longo e desafiante, como produtor de uma multiplicidade de mecânicas, puzzles e exploração.
O assombro que impera sobre o vale das sombras, passem o pleonasmo, é resultado de uma maldade praticada pelo rei Boo, que por ter estilhaçado a lua negra, símbolo da tranquilidade dos fantasmas, espalhou o caos na região. Os fantasmas estão inquietos, fazem travessuras e aterrorizam mais uma vez o assustadiço Luigi. A acção decorre por cinco mansões e em cada uma há quase uma temática ou conjunto de desafios que funcionam como puzzles em torno de algum elemento. Explorando os vários pisos de uma mansão, da cave ao sótão, passando por terraços, jardins, quartos, cozinhas, salas ou bibliotecas, há várias maneiras de interagir.
Desde a recolha de dinheiro imprescindível para a melhoria de equipamento, passando pela detecção dos espectros, até ao boss final, cada mansão é única e detentora dos seus desafios e fantasmas que por lá habitam. Há uma mão cheia de missões, algumas mais demoradas do que outras a resolver, mas grande parte delas são bem divertidas de fazer. No final de cada mansão, uma parte da lua aguarda por Luigi que assim vai refazendo a peculiar Lua Negra e se abeira do desafio derradeiro.
Luigi não está só nesta fornada de eventos. O professor Anacleto Luado é o típico “cientista louco” que o acompanha, telepixelizando Luigi para vários pontos onde existem vestígios e sinais de actividade fantasmagórica, produzindo uma risada frenética sempre que isso acontece. Mais do que isso, o professor Luado desenvolveu o Sugospectro 5000, uma potente máquina de transportar às costas e capaz de aterrorizar os fantasmas devido ao seu enorme poder de sucção e aprisionamento. A estrobolâmpada é essencial para os atordoar quando se revelam e saem da sombra.
A luz negra, um acessório complementar, permite revelar portas secretas, fantasmas escondidos e objectos ocultos, em especial os boos. Esta panóplia de equipamentos resulta em pleno ao permitir uma interacção constante. Por vezes essa interacção acontece com elementos do cenário, usando o aspirador para fazer rodar ventoinhas, deslocar tapetes, pegar em baldes com água e até atiçar as chamas. É todo este conjunto de mecânicas diferenciadas e em plena rotação que tornam a exploração tão desafiante como divertida. Claro que se pensarmos só no tempo para completar a missão e avançarmos directamente para o objectivo perdemos metade do que pode ser explorado.
Sugar fantasmas é muitas vezes um desafio que também obriga a interagir com objectos espalhados pelo cenário. É isso que acontece nas “boss fights”, com criaturas que ficam mais fortes à medida que passam por várias fases de transformação (normalmente do segmento mais fácil para o mais difícil). Há muitos fantasmas que criam dificuldades adicionais, arremessando livros ou armadilhando o espaço por onde circula Luigi. Ainda que possa incorrer em alguns danos abundam os corações regeneradores. Não se pode dizer que seja um jogo particularmente difícil mas é bastante desafiante e engenhoso nos confrontos.
À semelhança do que acontecia em Dark Moon, uma sexta mansão é atribuída à componente multiplayer para que se possa competir com outros jogadores até um máximo de quatro, pela via online ou através de uma rede local. A torre dos sustos é uma mansão composta por múltiplos pisos (de dificuldade e em divisões variáveis) e com desafios para vários jogadores. As tarefas requerem coordenação, activação de mecanismos e aprisionamento de fantasmas só possíveis com várias personagens em actividade e em coligação de esforços. Destaque para a tradução do português de Portugal do texto do jogo. Um jogo desta dimensão na nossa língua é sempre uma mais valia para os mais pequenos.
Com uma mão cheia de mansões e uma panóplia de sistemas de captura e interacção com objectos espalhados pelas inúmeras divisões, Luigi’s Mansion 2 HD ainda é um desafio muito consistente e equilibrado, revisto visualmente a fim de funcionar com dignidade num televisor ou num ecrã táctil de uma Switch. Não traz conteúdos novos nem proporciona novas mecânicas mas ainda é uma opção bastante válida no alinhamento da Switch, sobretudo se não o jogaram na 3DS. À excepção do segundo ecrã dedicado aos mapas, sinto que é uma experiência claramente melhor na Switch. O sistema de dois botões analógicos é o ideal, o grafismo recebeu alguns retoques, há mais texturas, a luminosidade é melhor, o áudio conta com melhores altifalantes e há uma vibração que prenuncia confrontos com espectros.
Prós: | Contras: |
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