Comprar ossos de dinossauros é moda que veio para ficar? – 31/07/2024 – Ciência

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Quem não gostaria de ter um Tyrannosaurus rex para assustar os vizinhos ou criar um museu privado e cobrar entrada para visitação? Comprar fósseis de dinossauros virou uma tendência de investimento no mundo, até porque eles são extremamente raros e podem se valorizar com o tempo.

O Museu de História Natural de Abu Dhabi certamente tinha isso em mente quando, em 2020, fez um lance de US$ 31,8 milhões (R$ 180 milhões) por Stan, num pregão da casa de leilões britânica Christie’s. Com 67 milhões de anos, o T. rex foi comprado por um valor bem acima da estimativa de US$ 6 milhões a US$ 8 milhões (R$ 34 milhões a R$ 45 milhões, respectivamente).

O museu, que deve ser inaugurado em 2025, tem a infraestrutura para exibir o esqueleto de 11 metros de comprimento e 4 de altura. Composto de 188 ossos com elementos adicionais fundidos, o fóssil foi originalmente encontrado em 1987, em Dakota do Sul, Estados Unidos.

Há uma dúvida, entretanto, se essa moda veio para ficar e se de fato comprar ossos de animais antigos é uma boa forma de fazer dinheiro. Um ponto considerado positivo é que eles são difíceis de serem roubados, já que um crânio de tricerátopo não caberia na mochila de um ladrão. Por outro lado, isso também significa que são difíceis de transportar, e é preciso dispor de espaço, como nos museus.

Não à toa, a maioria dos mais de 50 esqueletos de T. rex descobertos desde 1902 está em museus de história natural, o que não é muito quando se considera que cerca de 2,5 bilhões deles viveram na Terra em um período de 2,4 milhões de anos.

A Christie’s não é o único endereço para se obter ossos caros. A Sotheby’s, a Drouot e a Heritage Auctions também ultrapassaram a marca de US$ 1 milhão em vendas recentes, mesmo quando apenas uma fração dos ossos originais estava disponível.

No entanto, dois leilões no final de 2022 causaram preocupação. A Christie’s interrompeu a venda planejada de um T. rex dias antes de ele chegar ao mercado em Hong Kong. Essa possível transação de US$ 25 milhões (R$ 141 milhões) foi interrompida quando especialistas chamaram a atenção para o número de réplicas de ossos incluídas como parte do esqueleto.

O uso de reproduções para completar esqueletos é bastante comum. Algumas semanas depois, houve outra grande decepção. Um T. rex que a Sotheby’s estimava capaz de render US$ 20 milhões (R$ 113 milhões) foi vendido por apenas US$ 6,1 milhões (R$ 34,5 milhões).

No dia 17 deste mês, entretanto, a maré mudou, e a Sotheby’s leiloou os restos de um estegossauro apelidado Apex por um recorde de US$ 44,6 milhões (R$ 252 milhões), bem acima de sua estimativa de US$ 4 milhões a US$ 6 milhões (R$ 22,6 milhões a R$ 34 milhões).

Apesar dessas compras milionárias, há formas mais modestas de obter um fóssil. Casas de leilão, revendedores e lojas especializadas estão tentando convencer colecionadores e investidores a olhar mais de perto os espécimes de história natural, como ovos fossilizados, dentes gigantes, meteoritos, minerais ou até mesmo fios de cabelo de mamute. Embora não sejam tão atraentes quanto um dinossauro em escala real, eles ainda fazem parte da história e, em alguns casos, são bastante raros.

“Os fósseis são raros porque certas condições são necessárias para que uma planta ou animal seja preservado e fossilizado”, explica Claudia Florian, diretora consultora do departamento de história natural da casa de leilões Bonhams, em Los Angeles. “O organismo precisa ser soterrado rapidamente e sem alterações.” Acrescente-se um senso de aventura e o enorme trabalho árduo envolvido na busca e escavação desses fósseis e eles se tornam ainda mais interessantes.

Num breve tutorial, a Bonhams apresenta algumas dicas para os compradores. A qualidade, grau de preservação e integridade são os principais fatores a serem levados em conta na hora da aquisição. Também são importantes autenticidade, procedência e documentação comprovando que o espécime foi escavado legalmente.

“Raridade, integridade e condição podem afetar o preço no leilão”, diz Florian, que tem quase 40 anos de experiência. “Os fósseis, especialmente os altamente estéticos vendidos em leilões públicos, estão disponíveis em pouca quantidade e provavelmente aumentarão de valor no longo prazo.”

Durante os primeiros anos da pandemia de Covid, investiu-se muito em ativos não tradicionais, como criptomoedas, vinho, NFTs (tokens não fungíveis) ou artigos colecionáveis e figurinhas de esportes. Com a lenta normalização, a questão é: os investidores voltarão aos ativos tradicionais e deixarão os outros para trás?

Vendo beleza em ossos antigos

A Bonhams, que tem 14 salões em todo o mundo, está tentando fazer incursões no mercado de história natural. Em 2022, seus leilões renderam mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) pela primeira vez, um aumento de 27% em relação ao ano anterior. Do total, cerca de US$ 4 milhões (R$ 22,6 milhões) vieram de seus 11 leilões de história natural, três dos quais incluíam fósseis.

Florian está cautelosamente otimista, mas vê grandes oportunidades. “O mercado de fósseis teve um grande aumento nos preços nos últimos 3 a 5 anos devido ao maior interesse do público e, consequentemente, ao aumento da demanda”, disse ela. Mas adverte que “pode haver um nivelamento nos próximos um ou dois anos no atacado e nos leilões públicos, principalmente se houver uma desaceleração ou recessão econômica”.

Para mostrar como os preços aumentaram, Florian aponta dois exemplos: o primeiro é um crânio de urso das cavernas vendido em Nova York por US$ 4.750 (R$ 27 mil) em 2012. Um crânio semelhante foi vendido em 2022 por mais de US$ 26 mil (R$ 147 mil) em Paris. Outro exemplo é um único dente de T. rex, arrematado por US$ 11,2 mil (R$ 63 mil) em 2013: nove anos depois, um dente semelhante foi vendido por quase o dobro. Até mesmo réplicas de esqueletos de alta qualidade estão ganhando popularidade para quem não pode comprar grandes espécimes originais, acrescenta com Florian.

Como em qualquer investimento, ao procurar por fósseis grandes ou pequenos, existem algumas regras gerais:

  • Fazer a sua lição de casa. Quanto mais informações houver sobre o que existe no mercado, melhor. Nem todos os fósseis são raros e há uma infinidade de falsificações. Itens podem ter sido restaurados, substancialmente alterados ou simplesmente identificados incorretamente.
  • Comprar o melhor que puder pagar e não colocar todos os seus ovos –especialmente os de dinossauros– numa cesta só. Diversificação é sempre um bom plano de investimento.
  • Comprar objetos com histórico comprovado e uma cadeia de propriedade clara. Embora isso não garanta o sucesso futuro, fornecerá alguma orientação.
  • Para fósseis realmente importantes, certificar-se de obter os direitos de reprodução. Possuir o esqueleto real não significa automaticamente que se possui a marca registrada. No caso do Stan de Abu Dhabi, os novos proprietários não podem fazer reproduções. Esse direito pertence ao Black Hills Institute of Geological Research, uma empresa privada dos Estados Unidos especialista em escavações, que já vendeu vários moldes do famoso T. rex.
  • Por fim, os compradores precisam confiar muito nos vendedores. Isso pode ser difícil num campo científico em que os especialistas ainda discutem sobre o número total de ossos que um T. rex realmente tinha. Eram 300 ou 380? Com perguntas como essa ainda sem resposta, é importante saber de quem se está comprando.
  • No fim das contas, mesmo que os fósseis não rendam milhões, eles ainda são um investimento ousado que impressionará os vizinhos.


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