O futuro de Portugal apresenta-se com um horizonte de grandes desafios e muitas oportunidades. Como sempre na história, o nosso futuro coletivo será parcialmente definido pelas escolhas estratégicas que fizermos hoje. Neste artigo proponho duas estratégias que permitiriam ao nosso país afirmar-se no contexto global, nomeadamente investindo nas pessoas e na tecnologia, e mais especificamente 1) apostar na liderança global em Inteligência Artificial (IA) e 2) tornar o nosso país num destino global de educação superior, o que obrigará as universidades nacionais a reformarem-se e desenvolverem-se.
Estas duas ideias podem contribuir para transformar a economia do país e para estabelecer Portugal como um líder inovador no século XXI.
1) Liderança na Inteligência Artificial (IA)
A Inteligência Artificial (IA) está a transformar a sociedade e a economia, colocando desafios para os quais não temos ainda respostas, mas prometendo ajudar-nos a resolver alguns dos desafios mais prementes dos nossos tempos. O seu potencial pode ser comparado ao da eletricidade na medida em que é difícil imaginar e antecipar todas as maneiras como ela pode ser usada, todas as aplicações que pode potenciar, todos os problemas que pode resolver e formas como pode ter impacto nas nossas vidas.
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Setores como saúde, finanças, educação, produção industrial e entretenimento estão a ser completamente transformados e têm visto um crescimento exponencial da integração de IA nas atividades do dia a dia. Empresas e empreendedores nos principais blocos (EUA, China e União Europeia) olham para a IA como uma nova oportunidade. Porém, nos diferentes blocos geopolíticos, as empresas e empreendedores encontram níveis diferentes de regulação da utilização de AI.
A UE tem centrado a sua abordagem na ética e na regulamentação, sendo líder na criação de políticas e diretrizes para o uso responsável da IA, enquanto vários países se têm afirmado pela implementação de estratégias para estimular o desenvolvimento e a aplicação da IA. Mas, apesar de esta ser uma das tecnologias mais estratégicas do século XXI, na UE assistimos, além dos debates sobre regulação, a alguma apatia no debate sobre as oportunidades e desafios que a IA representa para a nossa economia e o nosso futuro coletivo em sociedade. Este é um debate que nos devia mobilizar a todos, da universidade às organizações empresariais, do cidadão comum aos governos.
De facto, o Parlamento Europeu aprovou recentemente o primeiro grande conjunto de regras regulatórias para governar a IA. Criado em 2021, o Ato de IA da UE divide a tecnologia em categorias de risco, variando entre “risco inaceitável”, o que levaria à proibição da tecnologia a alto, médio e baixo perigo.
Apesar de a própria IA continuar a evoluir de forma acelerada, na EU parece não haver dúvidas sobre como regular. Por exemplo, muitas das empresas que desenvolvem e treinam sistemas de IA trabalham para se alcançar a chamada Inteligência Artificial Geral, ou seja uma máquina que pode superar os humanos em todas as tarefas possíveis. A maioria dos cientistas da computação parece pensar que esse tipo de IA Geral é possível.
Estes movimentos europeus têm levado especialistas em inovação a levantar dúvidas sobre os reais benefícios desta regulação. Veja-se o exemplo de Eric Schmidt, ex-CEO da Google, que afirma que os EUA estão dois a três anos à frente da China em IA, enquanto a Europa está muito ocupada a regular e perdendo oportunidades de inovar. Schmidt vê a regulação, incluindo o novo quadro regulatório da União Europeia sobre IA, como um impedimento à inovação.
Neste contexto, Portugal tem uma oportunidade de se destacar investindo fortemente no desenvolvimento de uma política nacional para IA que possa colocar o país na vanguarda da inovação tecnológica, nomeadamente através do desenvolvimento de aplicações de IA. Na Nova SBE vamos dar o nosso contributo e estamos a desenvolver um instituto designado de D^3 Data, Digital & Design e será um instituto gémeo do mesmo instituto da Universidade de Harvard liderado pelo conhecido professor da Harvard Business School, Karim Lakhani.
2) Portugal como destino global de educação superior
Portugal tem vindo a afirmar-se como destino muito atrativo para jovens de todos o mundo. O país oferece hoje uma combinação de boa qualidade de vida, clima apetecível e tradições culturais ricas, que tem atraído milhares de jovens. Apesar de tradicionalmente Portugal não ser reconhecido internacionalmente pelas suas universidades, algumas têm, nos últimos anos, vindo a afirmar-se no contexto internacional. Nas áreas da gestão, finanças e economia, por exemplo, algumas escolas (Nova SBE, Católica, ISEG, ISCTE ou Porto Business School) têm vindo a afirmar-se nos rankings das melhores instituições e tem vindo a atrair alunos internacionais em quantidades nunca antes antecipáveis. Temos várias escolas que se estão a afirmar nos rankings internacionais, com destaque para a Nova SBE, que por exemplo oferece hoje o 11º melhor Mestrado de Finanças do mundo, o 15º melhor Mestrado de Gestão do mundo, ou a 18ª melhor Formação de Executivos do mundo, de acordo com o Financial Times, entre outros.
Estamos a colocar Portugal entre os principais destinos para estudar no mundo, um grupo de países restrito que inclui EUA, Inglaterra, França, Holanda, Alemanha. Obviamente, Portugal é muito conhecido pelo futebol, o que nos traz popularidade global. Mas, em termos reputacionais, colocar algumas universidades no topo das listas dos rankings mundiais pode ajudar-nos muito mais do que a popularidade do futebol. A internacionalização do ensino superior aumentaria a diversidade cultural nas universidades e melhoria a qualidade académica, atraindo professores e recursos de todo o mundo.
Com estas duas estratégias ambiciosas, Portugal pode moldar o seu próprio futuro e contribuir para o progresso global. Ao investir no potencial dos jovens e da tecnologia, Portugal pode garantir um lugar de destaque no mundo do amanhã.
Pedro Oliveira é doutorado em Gestão de Operações, Tecnologia e Inovação pela University of North Carolina. Professor Catedrático e detentor da Cátedra da Fundação Calouste Gulbenkian na Nova SBE, a Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, é atualmente dean da mesma instituição. É membro do Clube dos 52, uma iniciativa no âmbito do décimo aniversário do Observador, na qual desafiamos 52 personalidades da sociedade portuguesa a refletir sobre o futuro de Portugal e o país que podemos ambicionar na próxima década.