O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial e o mundo do trabalho: indicadores e tendências (por Atahualpa Blanchet)

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Atahualpa Blanchet (*)

O lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, marca um ponto de virada para o avanço tecnológico do Brasil. Este plano estratégico, com um investimento de R$ 23 bilhões ao longo de quatro anos, tem como objetivo posicionar o país como referência em inovação e eficiência no uso da inteligência artificial, com destaque para a modernização e aprimoramento de serviços no setor público e privado por meio de políticas como a Nova Indústria Brasil (NIB).

Estruturado em cinco eixos principais, o Plano Brasileiro abrange as seguintes áreas: (1) Infraestrutura e Desenvolvimento de IA, (2) Difusão, Formação e Capacitação em IA, (3) IA para Melhoria dos Serviços Públicos, (4) IA para Inovação Empresarial e (5) Apoio ao Processo Regulatório e de Governança da IA.

No início do mês de setembro, em São Paulo, foi lançado o Observatório Brasileiro de Inteligência Artificial (OBIA) cuja missão consiste em monitorar a aplicação do Plano Brasileiro nas suas diferentes dimensões. Ancorado no NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) e no CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), o OBIA promoveu um seminário para debater os principais impactos, oportunidades e riscos gerados pela Inteligência Artificial no Brasil. Ao mesmo tempo, as áreas de governo estão formulando o seu posicionamento para a inserção de contribuições ao Plano Nacional.

Um dos principais desafios consiste em identificar e analisar como a Inteligência Artificial vem sendo utilizada pelas pessoas e pelas instituições brasileiras, tanto as públicas como as privadas. Com relação ao eixo 2 do plano, que trata especificamente sobre formação e capacitação em IA, destaca-se os impactos da tecnologia no mundo do trabalho.

A Inteligência Artificial (IA) tem influenciado profundamente os processos produtivos alterando a forma como as tarefas são realizadas e impactando em variáveis como a substituição da mão de obra humana pelo processo de automação, a crescente interação humano-algoritmo no ambiente laboral, bem como a necessidade de capacitação e formação profissional especializada para aproveitar novas oportunidades e para garantir a adaptação às exigências da era digital.

Diante dessa realidade, é fundamental que os governos, empresas e, sobretudo os trabalhadores e o movimento sindical, desenvolvam métodos eficazes para mensurar os impactos dessa tecnologia emergente no mundo do trabalho. O relatório Work Trend Index Annual 2024, elaborado pela Microsoft e LinkedIn, por exemplo, apresenta um panorama sobre o uso da IA nas organizações e destaca a necessidade de definir indicadores específicos para monitorar sua adoção e consequências no mundo do trabalho.

O relatório revela que 75% dos trabalhadores do conhecimento já utilizam IA em suas funções diárias, sendo que 46% adotaram essas tecnologias nos últimos seis meses. Esse aumento rápido na adoção da IA, entretanto, traz consigo desafios significativos.

Outro indicador avalia os ganhos de produtividade decorrentes do uso da IA. O relatório revela que 90% dos usuários de IA relatam economias de tempo significativas, enquanto 84% afirmam que a IA aumenta a criatividade e 83% destacam a melhoria na satisfação no trabalho.

Por outro lado, um relatório publicado recentemente pela Organização do Trabalho aponta que entre 28% e 36% dos empregos na América Latina estão suscetíveis de serem substituídos pelo processo de automação proporcionado pelo uso de ferramentas de Inteligência Artificial Generativa.

Esses números indicam tendências que se podem aplicar em países do Sul global, pois permitem não apenas medir a eficiência da IA nas empresas nacionais, mas também entender como a tecnologia pode influenciar nas condições de trabalho e seus impactos na segurança e saúde dos trabalhadores.

No contexto brasileiro, onde o Plano Nacional de Inteligência Artificial estabelece metas ambiciosas para a incorporação da IA em setores estratégicos, a criação de indicadores sólidos é ainda mais relevante.

Esses indicadores são fundamentais não apenas para monitorar o cumprimento das metas estabelecidas, mas também para identificar os desafios que surgem com o uso crescente da IA, sobretudo em áreas como substituição de mão de obra, automação de tarefas e capacitação profissional.

Um estudo conduzido pela Talk Inc. revelou dados surpreendentes sobre a rápida adoção da Inteligência Artificial (IA) no cotidiano de brasileiros e brasileiras, abrangendo diversas faixas etárias e classes sociais. A pesquisa, que incluiu oficinas presenciais em quatro capitais do país e entrevistas com especialistas, mostrou que 63% dos brasileiros já utilizam IA em suas rotinas diárias, sendo que 70% começaram a usá-la há menos de um ano.

As ferramentas de IA estão sendo usadas para uma ampla gama de atividades, desde o uso como assistente virtual para tarefas simples até consultas sobre carreira. Pequenas e micro empresas têm utilizado ferramentas de IA para otimizar processos produtivos e economizar tempo. De padarias a salões de beleza têm se valido da tecnologia para diversificar a oferta de serviços e aumentar a satisfação dos seus clientes.

Além disso, metade dos entrevistados relatou utilizar plataformas como o ChatGPT, indicando que para muitos, essas ferramentas estão substituindo o uso de mecanismos de busca tradicionais, como o Google.

No entanto, especialistas destacam a importância de adotar uma postura crítica ao utilizar IA, alertando sobre a necessidade de verificar as informações e refletir sobre as “verdades” oferecidas por essas tecnologias. A pesquisa da Talk Inc. não só expõe como a IA já está inserida no cotidiano da população brasileira, mas também abre uma discussão sobre os desafios e as responsabilidades que essa nova realidade tecnológica traz.

Com relação ao mercado de trabalho, o relatório da Microsoft e LinkedIn, destaca indicadores particularmente relevantes para o contexto brasileiro. A porcentagem de uso de IA por trabalhadores é um dos primeiros elementos a serem monitorados, pois reflete diretamente o nível de aceitação e adesão a essas tecnologias.

Saber que 75% dos trabalhadores do conhecimento já utilizam IA globalmente oferece uma referência importante para medir a utilização da tecnologia no Brasil. Isso permite que o governo e as empresas tenham um ponto de partida para identificar se o país está alinhado com as tendências globais ou se existem lacunas na implementação.

A substituição de mão de obra também é um indicador que merece destaque. O relatório publicado pelas empresas do mundo digital revela que 30% das empresas que adotaram IA registraram uma redução no número de funcionários, sobretudo em setores onde a automação de tarefas administrativas é predominante.

Para o Brasil, será fundamental desenvolver indicadores que monitorem o impacto da IA na empregabilidade, especialmente em setores como a indústria, atendimento ao cliente e logística, que são propensos à automação. Saber quantos postos de trabalho foram eliminados ou modificados em decorrência da IA é essencial para a formulação de políticas públicas que busquem minimizar os efeitos negativos e promover a transição dos trabalhadores para novas funções.

Nesse contexto, a capacitação profissional emerge como um dos principais desafios para garantir que a IA seja integrada de forma justa e equilibrada. No Brasil, o desenvolvimento de indicadores que mensurem a disponibilidade de treinamentos em IA e o percentual de trabalhadores capacitados é fundamental para garantir que a adoção da IA não amplie as desigualdades no mercado de trabalho.

Outro aspecto importante que merece destaque é o uso da IA para monitoramento de tarefas. 65% das grandes empresas utilizam algum tipo de IA para monitorar a produtividade dos trabalhadores.

No entanto, esse monitoramento traz consigo preocupações relacionadas à privacidade e ao bem-estar dos funcionários, sendo necessário criar indicadores que avaliem como essa prática impacta a satisfação no trabalho e a conformidade com as legislações de proteção de dados. Este é um tema que tem despertado o interesse das centrais sindicais: como inserir os impactos da gestão algorítmica nas mesas de negociação coletiva para garantir a aplicação de princípios como a transparência algorítmica, explicabilidade e não discriminação.

A definição desses indicadores não é apenas uma questão técnica, mas também estratégica para o governo e os atores sociais. Eles são ferramentas essenciais para garantir que o uso da IA no Brasil ocorra de maneira responsável, promovendo o desenvolvimento econômico e social sem comprometer os direitos dos trabalhadores.

Além disso, esses indicadores são fundamentais para consolidar o monitoramento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, recentemente apresentado pelo Governo Federal, permitindo o acompanhamento dos avanços e dos desafios na implementação da IA nos diversos setores da economia.

A adoção de IA, o impacto na produtividade, a substituição de mão de obra, a capacitação profissional e o monitoramento das tarefas por IA são apenas alguns dos eixos que precisam ser monitorados para garantir uma transição menos agressiva para o chamado futuro do trabalho que hoje já é presente.

Nesse contexto, o Brasil tem a oportunidade de criar uma base sólida de indicadores que não apenas auxiliem no monitoramento da implementação da IA, mas também contribuam para a formulação de políticas públicas que promovam um futuro do trabalho mais justo e inclusivo. A Inteligência Artificial já é uma realidade para os brasileiros, mesmo com a desigualdade estrutural e os desafios de infraestrutura para a garantia da conectividade.

(*) Atahualpa Blanchet é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) e do Grupo Transformação Digital e Sociedade da PUC/SP.

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21

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