Inteligência Artificial potencializa atuação dos médicos gaúchos

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A Inteligência Artificial (IA) se faz cada dia mais presente nos hospitais brasileiros. Seja por meio de ferramentas para gestão hospitalar ou na análise de exames, facilitando a tomada de decisões, as inovações tecnológicas vêm oferecendo importantes contribuições à rotina dos médicos e impactando no atendimento prestado aos pacientes. No Rio Grande do Sul, diversas iniciativas de IA vêm sendo implementadas no ambiente hospitalar, sendo aliadas para uma melhor atuação dos médicos.

O coordenador do Núcleo de Inovação e Transferência de Tecnologia (Nitt) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professor do curso de Medicina Hugo Goulart de Oliveira, pontua que a Inteligência Artificial assumiu uma velocidade maior na última década e é importante transportar isso para a cultura organizacional das instituições. Ele ressalta que neste primeiro momento é preciso sempre contar com a capacidade humana de julgar e avaliar as informações, e amadurecer todo o processo que envolve o uso de Inteligência Artificial, contando com a participação do paciente no entendimento do que está sendo feito com a tecnologia e o que está sendo feito com o pensamento humano.

“O Hospital de Clínicas tem explorado soluções de Inteligência Artificial com o objetivo de aprimorar tanto processos administrativos quanto diagnósticos médicos. Estes processos estão em fase de testes antes de qualquer implementação em maior escala”, esclarece Oliveira.

Em 2022, dois projetos do HCPA envolvendo IA foram selecionados em edital pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação. O Desafio Deep Radio, proposto pelo Serviço de Física Médica e Radioproteção para encontrar solução de IA para analisar exames de raio-x de tórax, recebeu R$ 3,6 milhões, enquanto o Comply, sugerido pelo Serviço de Compras, que auxilia na indicação em casos de compra de órteses, próteses e materiais especiais, obteve R$ 4,2 milhões.

“A ideia é que possamos utilizar Inteligência Artificial para nos proporcionar melhores condições de atender os pacientes que fazem diagnóstico de imagem. Inicialmente começamos com raio-X de tórax”, explica Oliveira. 

O HCPA realiza 100 raio-X de tórax por dia, exames que são feitos no ambulatório em pacientes que estão com algum problema e entram em uma fila para serem avaliados. “Muitas vezes, há achados que são significativos e que precisariam da avaliação do radiologista de uma maneira mais urgente, mais precoce, salienta o coordenador. É uma maneira de usar a Inteligência Artificial de uma maneira escalonada, onde o médico radiologista vai ser beneficiado e o paciente também em última análise”, afirma.

O Comply, por sua vez, vai otimizar as compras de órtese, próteses e materiais especiais. Quando é feito algum procedimento cirúrgico ou não, que depende de algo implantável no paciente, há uma série de medidas que precisam ser levadas em consideração – desde o que o médico quer, o que o paciente precisa, quem é o melhor fornecedor, melhor preço e disponibilidade. A IA reduz o tempo para que essas informações sejam reunidas, mas a intenção, diz o coordenador do Nitt, é levar essa agilidade a outras áreas, envolvendo toda a trilha de cuidado dos pacientes. Oliveira cita como exemplo um paciente que está com o procedimento agendado e precisa ser alterado porque a realização de um transplante vai ocorrer na sala onde ele seria atendido. “Ele vai ter o procedimento reagendado e automaticamente pode receber uma mensagem que não precisa ir para o hospital, que será informada a nova data. Isso facilita e tira os transtornos do processo todo que envolve o atendimento em saúde”, salienta.

“A nossa visão é que a Inteligência Artificial vai muito mais potencializar os médicos do que substituir. Essa é a visão de quem estuda a IA tanto do ponto de vista acadêmico quanto de business, a ideia na área da saúde nunca é de substituição”, complementa Lucas Silva, professor do curso de Medicina da Ufrgs e lotado no Serviço de Medicina de Emergência do HCPA. A IA pode ajudar em várias frentes da medicina, desde a administrativa à parte do diagnóstico por imagem, mas uma das grandes tendências que vem sendo estudada é na tomada de decisões dos médicos. “Muitas vezes temos que tomar decisões com pouca informação, mas os médicos por vezes não têm tempo de sumarizar todos esses dados. A IA pode ajudar muito a buscar informações que o profissional não consegue acessar rapidamente com o prontuário”, exemplifica Silva.

Plataforma usada pelo Hospital São Lucas da Pucrs transcreve conteúdo de consultas médicas

A IA é uma ferramenta que complementa o trabalho médico, agregando precisão e segurança, afirma Nunes

A IA é uma ferramenta que complementa o trabalho médico, agregando precisão e segurança, afirma Nunes


Fernanda Carvalho/Hospital São Lucas da Pucrs/Divulgação/JC

O Hospital São Lucas da Pucrs tem investido significativamente em Inteligência Artificial (IA) para aprimorar processos e tratamentos médicos. Vários projetos estão em andamento na instituição em diferentes áreas. “Como hospital universitário, colaboramos com a Escola Politécnica da Pucrs e estamos localizados no BioHub do Tecnopuc, sempre atentos às inovações em saúde. Essa posição estratégica facilita o desenvolvimento de soluções inovadoras como as diversas iniciativas em IA”, salienta Daniel Nunes, coordenador de Inovação do Hospital São Lucas da Pucrs.

Um exemplo é a plataforma de transcrição de consultas, atualmente em fase de validação (POC) em parceria com uma startup. A ferramenta transcreve as consultas médicas e envia o áudio para um algoritmo de IA que sugere possíveis hipóteses diagnósticas com base na literatura médica. Isso permite mais agilidade no atendimento prestado pelos médicos e prontuários mais completos, além de garantir que o profissional possa focar integralmente no paciente.

Outras iniciativas são a MarIA, que utiliza IA para gerar predições que apoiam tanto decisões cirúrgicas pelos médicos quanto administrativas e busca melhorar os resultados clínicos e operacionais; a Noharm, assistente para farmácia clínica que faz a recomendação de prescrições medicamentosas; o Whispers, bot de gestão de leitos em fase de validação que agiliza e facilita a gestão de leitos faz previsões de alta de pacientes e o projeto da startup Exper, que atua no auxílio aos médicos para o diagnóstico de câncer de pulmão utilizando IA para analisar imagens de exames com maior precisão.

Entre os benefícios do uso da IA, Nunes destaca que ferramentas como a transcrição automatizada reduzem o tempo de tarefas administrativas, permitindo que os médicos se concentrem mais no paciente. No caso dos prontuários, a Inteligência Artificial contribui para uma documentação mais rica, com sugestões de diagnósticos baseados em literatura científica, e soluções como Exper e Noharm garantem maior precisão no diagnóstico de câncer de pulmão e segurança nas prescrições, protegendo contra erros humanos.

“A IA é vista como uma ferramenta que complementa o trabalho médico, agregando precisão e segurança. Em unidades ambulatoriais onde a plataforma de transcrição está em teste, os pacientes são convidados a participar, dando consentimento para o uso da transcrição em uma nuvem de IA, em conformidade com a LGPD”, afirma o coordenador de Inovação do Hospital São Lucas.

Santa Casa e Procempa fazem parceria em pesquisa com IA

A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre firmou no ano passado uma parceria com a Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) para a realização de pesquisas com IA focadas no diagnóstico precoce de câncer de mama. A instituição, que é referência em oncologia, está disponibilizando as imagens que servirão de teste do modelo de IA desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos, e a e a execução será feita pela Procempa.

O programa de IA do MIT analisa os exames e identifica casos suspeitos de câncer, o que permite que os médicos possam fazer um diagnóstico da doença em fases iniciais. “A ideia é que a IA detecte nas imagens aquilo que o olho humano não vê, sinais que aparecem hoje e que poderiam predizer algo que no futuro vá evoluir para um tumor”, explica Manuela Zereu, oncologista da Santa Casa à frente do estudo, que ainda está em andamento.

O uso de IA pela Santa Casa remonta ao ano de 2019. Na ocasião, a instituição adotou o robô gerenciador de riscos Laura para monitorar 70 leitos hospitalares e detectar precocemente os riscos de infecção generalizada nos pacientes. No ano seguinte, foi adotada uma plataforma de IA para realizar a triagem virtual de casos suspeitos de Covid-19.

Óculos de realidade virtual auxilia pacientes durante sessões de hemodiálise

Cinthia conta que mais de 60 pacientes já utilizaram os óculos nas sessões

Cinthia conta que mais de 60 pacientes já utilizaram os óculos nas sessões


Hospital Ernesto Dornelles/Divulgação/JC

No Hospital Ernesto Dornelles, o uso de óculos de realidade virtual auxilia pacientes durante as sessões de hemodiálise. “A ideia surgiu com pacientes que entrariam em programa de hemodiálise três vezes por semana, durante 4 horas, com a necessidade de interromper suas férias. A doença se manifestou de forma súbita e as passagens estavam compradas. A realidade virtual, através dos óculos, fez o paciente simular estar em Paris, viajando, visitando lugares e museus. A partir daí, passamos a expandir esta experiência”, conta a médica Cinthia Vieira, gestora médica do Centro de Nefrologia e Diálise do HED.

A utilização dos óculos durante as sessões de hemodiálise permite a melhor aceitação do tratamento e acalma os pacientes, trazendo benefícios como a diminuição de analgesia, redução de estresse e ansiedade.

A área de Tecnologia da Informação (TI) do HED fez todos os ajustes e treinou a equipe de enfermagem. Há uma escala de uso os óculos pelos pacientes por turnos. Inicialmente, a técnica foi empregada a partir de 2019 em pacientes internados na UTI, e posteriormente em doentes crônicos, em programa convencional. Desde então, conta Cinthia, mais de 60 pacientes já utilizaram os óculos nas sessões.

Softwares com IA melhoram qualidade da imagem de exames no Hospital Moinhos de Vento

O Hospital Moinhos de Vento tem realizado investimentos contínuos para atualizar as ferramentas de tecnologia no Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. No último ano, foram renovados os equipamentos de Tomografia Computadorizada, proporcionando imagens mais detalhadas com menor dose de radiação ionizante e maior velocidade na aquisição de imagens. Além disso, foi feita a incorporação de softwares de IA que melhoram significativamente o pós-processamento das imagens e, mais recentemente, investimentos de R$ 5,5 milhões na aquisição de três tomógrafos de última geração, além de R$ 2,2 milhões em obras de melhoria de infraestrutura.

Um dos projetos em desenvolvimento abrange exames de ressonância magnética em parceria com a Universidade Canadense McMaster, coordenado pela médica radiologista pediátrica do McMaster Children’s Hospital e professora da Universidade McMaster, doutora Nina Stein. A utilização de um software de IA que acelera a aquisição de imagens reduz o tempo que o paciente precisa ficar no equipamento, mantendo a mesma qualidade das imagens.

“Investimos também em um sistema de entretenimento ‘Cinema Vision’, óculos de realidade virtual que permite que os pacientes assistam a filmes durante o exame. Esse projeto vai beneficiar especialmente as crianças e os pacientes claustrofóbicos, que poderão realizar os exames sem a necessidade de sedação ou de anestesia. Isso reflete nosso compromisso contínuo em oferecer o que há de mais moderno para garantir diagnósticos rápidos e seguros, sempre priorizando o bem-estar e a experiência dos nossos pacientes”, explica a médica radiologista do Hospital Moinhos de Vento, Alice Schuch.

Ferramentas de Inteligência Artificial estão sendo gradualmente desenvolvidas, testadas e integradas no dia a dia da prática médica, com múltiplos objetivos. Médicos clínicos, por exemplo, podem integrar ferramentas no sistema de prontuário que ajudam a monitorar mudanças nos exames de sangue ou de sinais vitais. A médica radiologista Nina Stein salienta que, na Radiologia, ferramentas de IA estão começando a surgir em diversas áreas, desde suporte para agendamento de pacientes, monitoramento do uso de radiação, auxílio e otimização na aquisição de imagens e pós processamento, assim como auxílio em diagnóstico diferencial para os radiologistas e clínicos. “Há ferramentas sendo desenvolvidas para ajudar os médicos a priorizar aqueles exames que necessitam de atenção imediata como por exemplo no caso de um paciente internado que inicialmente estava estável, mas teve mudança brusca de saúde, ou paciente com pneumotórax, que é um problema no peito que necessita, às vezes, de drenagem imediata”, explica.

A incorporação das inovações tecnológicas e novos equipamentos usados na Medicina é feita somente depois de rigorosas pesquisas provarem a eficiência das ferramentas no uso do dia a dia e com a aprovação da ANVISA. “Em geral, os pacientes se sentem muito satisfeitos depois de realizarem uma ressonância magnética com metade do tempo de duração de um exame que anteriormente demorava uma hora. No entanto, nem sempre entendem que isso ocorreu por conta do auxílio de uma IA. É importante ressaltar que os recursos de IA estão sendo desenvolvidos para auxiliar na tomada de decisão que será realizada por uma figura humana, seja médico, enfermeiro, ou cientista”, complementa a médica radiologista do Moinhos, Mariane Cibelle Barros.

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