LAS VEGAS – Há alguns anos, televisões já usam inteligência artificial (IA) para ajustar imagens e sons por meio de algoritmos. Porém, na edição deste ano da Consumer Electronics Show (CES), principal feira de tecnologia do mundo, as TVs entraram também na era do ChatGPT. Ou seja, aparelhos com chatbot espertos se tornarão tão naturais quanto os sistemas operacionais das smartTV de hoje.
Três das maiores fabricantes de TV da feira abraçaram a ideia de trazer essa integração maior: LG, TCL e Samsung anunciaram que os usuários vão poder conversar com a TV e dar comandos semelhantes aos que fazem nos smartphones e computadores.
As TVs vão ganhar assistência de robôs de conversação como o Copilot, da Microsoft, ou o Gemini, do Google. Agora, será possível dar comandos para o aparelho, na maioria das vezes por voz, descrevendo algum filme ou pedindo especificamente por uma programa.
O processamento de linguagem natural vai permitir que as TVs interpretem o que foi dito pelo usuário, procure na base de dados os conteúdos que tenham compatibilidade com a descrição e apresentar os resultados diretamente na tela, com a plataforma na qual o filme ou a série está disponível.
Para Eduardo Pellanda, professor da PUC-RS, essa nova onda de chatbots na TV pode resolver um problema há muito tempo enfrentado pela indústria: a complexidade na navegação do aparelho, especialmente com o aumento na diversidade de canais e plataformas de streaming disponibilizados nos últimos anos.
“Um dos grandes problemas das TVs inteligentes, de maneira geral, é que as pessoas estão no sofá com o controle remoto, então como se dá o comando para a TV? A questão do chat, principalmente comandos de voz, é fundamental, porque as pessoas estão interagindo de uma maneira natural”, explicou Pellanda. “Já tiveram várias tentativas de colocar, por exemplo, controles remotos com teclados acoplados, mas nunca deu certo, porque as pessoas não querem isso”.
O que TVs com IA são capazes de fazer
Os diferentes chatbots anunciados com as TVs na CES executam desde comandos mais simples até a correção de imagem e som. O Copilot, da Microsoft, que vai estar presente em TVs da LG e da Samsung, poderá encontrar conteúdos a partir da descrição de usuários, seja de um filme ou série especifico ou de algum programa que atenda ao que foi pedido para a IA.
Na LG, por exemplo, essas ferramentas vão estar disponíveis na linha Evo ainda neste ano. A Samsung uniu o Copilot com o Vision AI, um sistema que vai estar presente em suas TVs 8K e vai ser capaz de fazer tradução ao vivo, pesquisa e otimização de imagens, além de entender comandos para encontrar conteúdos personalizados para o usuário.
Já nos modelos da TCL, o chatbot escolhido foi o Gemini. Com isso, a interação vai ser um pouco menos relacionada ao conteúdo e mais voltada para pesquisas que transformam o aparelho em um smart hub.
Será possível exibir informações em uma tela de descanso como tarefas do dia, temperatura e condições de dispositivos de casa conectada. Além disso, por voz, o usuário vai poder pedir para o Gemini pesquisar por assuntos nas plataformas disponíveis na TV.
Assim, se você quiser pedir para a TV te explicar um pouco mais sobre o sistema solar, por exemplo, além do resultado em texto extraído do Google, a IA também vai oferecer uma série de vídeos do YouTube e filmes ou séries que falem sobre o assunto.
IA em todo lugar
Ao mesmo tempo em que inclui uma inovação iminente da tecnologia atual – ferramentas de IA que podem personalizar cada vez mais o gosto do usuário – ainda há dúvidas se esse tipo de ferramenta vai ser amplamente utilizada. Isso porque, mesmo com as especificidades, pode cair no mesmo limbo das assistentes de voz, que já foram vedete em anos anteriores. Outros dispositivos como o próprio celular, com acesso rápido à internet, podem suprir a demanda de procurar um filme com aquele ator que você gosta.
A atualização, porém, pode ajudar os fabricantes a venderem um upgrade mais atrativo para os consumidores. O avanço nas tecnologias de painel – QLed, miniLed, Oled e tantas outras – pode tornar difícil notar o ganho entre um e outro aparelho.
“Acho que as TVs estão tendo que ter algum tipo de inteligência embutida para fazer sentido as pessoas poderem comprar. A questão da qualidade está cada vez mais difícil. A gente chegou em um patamar que a TV 4K, com Oled e tudo mais, são fantásticas em termos de imagem, mas é muito difícil convencer as pessoas a ter um upgrade claro, significativo e tangível de imagem. Então, achar novas possibilidades de recursos tecnológicos é o caminho que tem se buscado nos últimos anos”, apontou Pellanda.
O fato é que, aos olhos das empresas de TV, a IA ainda não está saturada a ponto de se tornar cansativa para o usuário. Por enquanto, com os chatbots, o primeiro passo é fazer com que as pessoas entendam a proposta de ter a personalização em seus aparelhos, mas outras funções mais complexas podem seguir o mesmo caminho
“A gente não chegou ainda num pico. Essa onda da IA vai durar muito tempo e vão ter vários microciclos. O grande problema é tentar tangibilizar a IA”, afirmou explicou Pellanda. “Como você faz com que as pessoas percebam realmente o uso da IA? Colocando funções muito claras para IA você consegue fazer isso acontecer”.
*A repórter viajou a convite da Consumer Technology Association (CTA), organizadora da CES