Como Deepseek virou o jogo do desenvolvimento da inteligência artificial por Ricardo Rodrigues*

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No final do mês passado, o mundo foi tomado de surpresa pela ascensão de um novo “player” na seleta comunidade de desenvolvedores da tecnologia de inteligência artificial. Refiro-me à pequeníssima Deepseek chinesa, cujo aparecimento repentino abalou as estruturas dos investimentos em tecnologia nos Estados Unidos. Sua plataforma de IA tornou-se o aplicativo mais baixado na App Store, e a notícia de que a empresa custou apenas 6 milhões de dólares para criar um modelo de IA que rivaliza o Chatgpt levou as gigantes Nvdia e Broadcom a perder 17% de seu valor de mercado.

Mas não foram apenas os magnatas e os nerds do Vale do Silício, na Califórnia, que ficaram de cabelo em pé com a chegada do Deepseek no pedaço. O abalo transcendeu o mundo dos negócios e dos investimentos em tecnologia, para atingir, em cheio os objetivos geopolíticos da liderança dos Estados Unidos.

Como Deepseek virou o jogo do desenvolvimento da inteligência artificial por Ricardo Rodrigues*

Projeto Stargate

Cabe lembrar que, no seu segundo dia como o 47º Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou, com toda pompa e circunstância, o estabelecimento do Projeto Stargate, uma “joint-venture” americana destinada a construir a maior infraestrutura de Inteligência Artificial do mundo. Nada menos do que meio trilhão de dólares serão investidos até 2029 na nova empresa que reúne como sócios a OpenAi, a Oracle, e o Softbank. O objetivo, como bem destacou a Bloomberg, é “fortalecer a posição dos Estados Unidos como incontestável líder global de inteligência artificial”.

A palavra “fortalecer” empregada pela Bloomberg denota o fato de que, até então, nenhum país havia conseguido sequer aproximar-se dos avanços tecnológicos que marcaram o predomínio americano no desenvolvimento de modelos de IA. À frente da disputa pelo domínio dessa tecnologia sempre estiveram apenas as grandes empresas americanas de tecnologia, tais como OpenAi, Google, Microsoft, Apple e MGX.

Como Deepseek virou o jogo do desenvolvimento da inteligência artificial por Ricardo Rodrigues*

Disputa internacional

Não que os demais países de reconhecida excelência em alta tecnologia não tenham investido no desenvolvimento de suas próprias plataformas de IA. Desde que o Chatgpt foi lançado com êxito nos Estados Unidos, em 2022, tudo quanto é país tem investido na criação de modelos viáveis de inteligência artificial. Na China, porém, a preocupação com os avanços da IA nos Estados Unidos data de 2017. Este foi o ano em que os líderes chineses assistiram, com espanto, ao programa de IA da Google, o AlphaGo, derrotar seu mais bem ranqueado jogador de Go, um complexo jogo de tabuleiro. A partir de então, o governo da China começou a investir maciçamente em empresas de tecnologia que tivessem o potencial de desbancar os Estados Unidos no predomínio da inteligência artificial.

Restrição ao acesso a chips avançados

Não foi por outra razão que, ciosos de permanecerem na vanguarda dessa tecnologia, os Estados Unidos restringiram a venda de chips avançados para seus maiores adversários geopolíticos. Em 2022, ou seja, ainda no governo Biden, a empresa Nvidia viu-se proibida de exportar seus chips avançados para China, Rússia e Iran, entre outros países. O objetivo era garantir que essa tecnologia estratégica fosse controlada pelos Estados Unidos. De acordo com a Casa Branca, “nas mãos erradas, poderosos sistemas de IA têm o potencial de exacerbar os riscos da segurança internacional, viabilizando o desenvolvimento de armas de destruição em massa e operações de terrorismo cibernético”.

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Deepseek como novo paradigma

O aparecimento da Deepseek veio desafiar as premissas relativas ao desenvolvimento da IA que vigoraram até recentemente. Primeiro, dinheiro deixou de ser o fator mais decisivo da corrida pela preeminência nesse setor. É importante, até certo ponto, mas não é tão decisivo quanto parecia ser. Pequeníssima, sem ter recebido grandes aportes, sequer do governo chinês, a empresa Deepseek foi criada com meros 6 milhões de dólares. Contudo, conseguiu desenvolver uma plataforma mais barata e mais acessível para os usuários, sem comprometer eficiência e eficácia. Seu sucesso já está fazendo os investidores nessa tecnologia em todo mundo repensarem seus modelos de negócio. Afinal, a falta de recursos financeiros não impediu que a equipe de Deepseek desenvolvesse um produto altamente competitivo no mercado.

Em segundo lugar, os desenvolvedores da Deepseek conseguiram esse feito a despeito das restrições de acesso aos chips mais avançados da Nvidia. Embora alguns analistas afirmem que empresas chinesas já haviam conseguido estocar grandes quantidades de chips antes das restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos, não me parece que este tenha sido um fator relevante para a equipe de Deepseek. Ao contrário, deparando-se com as dificuldades impostas pelas restrições, o pessoal da Deepseek buscou soluções heterodoxas, trabalhando com menos chips, de menor sofisticação.

Recados da Deepseek

O sucesso da Deepseek traz consigo alguns recados para o mundo. Do ponto de vista do setor de tecnologia, o alerta não poderia ser mais eloquente. Criatividade, ao invés de tamanho e riqueza, ainda é o elemento crucial para o desenvolvimento da IA. Às vezes, aqueles que lideram o setor parecem esquecer esse detalhe.

Um outro recado destina-se aos líderes das grandes potências mundiais. Restrições e proibições não necessariamente vão impedir o desenvolvimento da tecnologia em países adversários. Se já é difícil barrar a difusão de tecnologia, de uma forma geral, imagine restringir o avanço da IA.

No mínimo, a ascensão da startup Deepseek vem forçar uma pausa numa disputa que parecia fora do controle. Vem também forçar empreendedores de tecnologia e líderes governamentais a refletirem, e repensarem formas de se abordar as virtudes e os perigos dessa importante tecnologia.

*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Ele escreve semanalmente sobre temas internacionais para O Poder.

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