Mark Zuckerberg, CEO da Meta, quer influenciar os projetos de inteligência artificial (IA) do governo dos Estados Unidos. Para isso, ele voltou a buscar apoio nesta quarta-feira, 19, e se reuniu com senadores americanos no Capitólio. O encontro aconteceu um dia depois de sua instituição de caridade encerrar os programas de diversidade, equidade e inclusão (D&I).
A gigante da tecnologia colocou a IA como foco principal de seu negócio. Entre os projetos de maior destaque estão os óculos inteligentes e outros headsets, que já receberam cerca de US$ 65 bilhões em investimentos.
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Mark Zuckerberg pressiona senadores para que eles não aprovem regulações para big techs como as da União Europeia Foto: Kenny Holston/NYT
O porta-voz da Meta, Andy Stone, não detalhou a conversa entre o CEO e os senadores, tampouco identificou quais políticos estiveram com o executivo. “Ele está no Capitólio conversando com membros do Congresso sobre temas como inteligência artificial e liderança tecnológica dos EUA”, disse.
Para Zuckerberg, ter influência sobre possíveis regulações de IA é crucial, já que a empresa compete com outras companhias globais. Tanto que, desde a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro, o bilionário foi à Casa Branca duas vezes discutir liderança tecnológica com o presidente.
A ocasião de quarta-feira marcou o terceiro encontro entre o dono da Meta e o republicano. Zuckerberg e Trump já se reuniram, também, no resort de Trump em Mar-a-Lago.
Uma coincidência acontece sempre que os dois se reúnem: o CEO anuncia mudanças nas suas empresas. Desta vez, Zuckerberg avisou que sua instituição de caridade não vai mais promover políticas de D&I. Em janeiro, a Meta encerrou as iniciativas de D&I. Cancelar esses programas tem sido prioridade do governo Trump e de muitos legisladores republicanos.
Quando Zuckerberg conquistou a boa vontade de Trump, ele e lobistas da Meta começaram a pressionar os parlamentares para aumentar a resistência às regulamentações sobre grandes empresas de tecnologia. Um dos maiores temores das big techs é de que os EUA importem políticas similares as impostas na União Europeia (UE) para o país. Isso incluiria a Lei de Serviços Digitais (ou Digital Services Act), que penaliza redes sociais por hospedar discursos nocivos e desinformação.
O CEO da Meta criticou essa lei e a classificou como censura, um gesto comum entre os conservadores. Em um vídeo, ele prometeu trabalhar com Trump para “combater governos que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura”.
Joel Kaplan, novo chefe de assuntos globais da Meta, declarou na Conferência de Segurança de Munique no último fim de semana que a empresa busca apoio da casa Branca para enfrentar o endurecimento regulatório na Europa.
“Quando as empresas são tratadas de maneira discriminatória, isso deve ser chamar a atenção do governo do país de origem dessas empresas” disse Kaplan. “Então, acho que faremos isso com o presidente Trump”.
Toda essa aproximação entre Zuckerberg e Trump era impensável anos atrás. Em 2021, o republicano teve suas contas do Facebook e do Instagram suspensas após elogiar os envolvidos na invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro.
No ápice da briga, Trump ameaçou prender o CEO se ele interferisse nas eleições de 2024 e chamou a Meta de “inimiga do povo” em março do ano passado.
O presidente americano só moderou sua posição quando disse ter sido surpreendido por um telefonema de Zuckerberg após a tentativa de assassinato em Butler, na Pensilvânia. O atentado contra Trump fez o dono do Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads chamá-lo de “durão” por ter erguido o punho para a multidão depois de ter sido baleado na orelha.
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Mark Zuckerberg chamou Trump de “durão” após ele ter sido baleado em Butler, na Pensilvânia. Antes disso, o republicano havia chamado a big tech de “inimiga do povo” Foto: Evan Vucci/AP
A volta de Trump à Casa Branca marcou a guinada à extrema direita de Zuckerberg. No começo do ano, quando Joel Kaplan assumiu o lugar de Nick Clegg no cargo de presidente de assuntos globais da empresa, Zuckerberg trocou um ex-líder do Partido Liberal Democrata do Reino Unido por um republicano conhecido por intermediar a relação da companhia com os conservadores.
Dana White, presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC) e outro aliado de longa data de Trump, também ganhou espaço na big tech. Ele foi recrutado para integrar o conselho de administração da Meta. “Eu o admiro como empreendedor e por sua capacidade de construir uma marca tão querida”, escreveu Zuckerberg em uma postagem no Facebook.
Além de ser convidado vip para a posse no capitólio em 20 de janeiro – quando ficou ao lado dos colegas chefões do Vale do Silício, Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Elon Musk (X e Tesla) e Tim Cook (Apple) –, Zuckerberg viu suas redes da Meta se beneficiarem de ordens executivas assinadas logo no começo do segundo mandato de Trump.
Entre essas ordens, estava uma que tinha a intenção de “parar imediatamente toda a censura governamental”, o que na prática abafa os esforços de combate a proliferação de informação falsa online.