Mais da metade dos médicos no Brasil tem pouco conhecimento sobre Inteligência Artificial (IA), demonstrou um levantamento realizado pelo Medscape. Uma realidade que tende a mudar em breve diante das transformações que a tecnologia pode proporcionar à prática clínica.
Durante o 79º Congresso Brasileiro de Cardiologia, o Dr. Roberto Botelho, cardiologista e diretor presidente da Fundação Adib Jatene, destacou o impacto da IA na especialidade.
“O tempo é fator de extrema importância em casos do diagnóstico de incidentes cardiovasculares e cuidar da documentação burocrática, por exemplo, diante de uma internação intensiva, ocupa o especialista com impacto no atendimento ao paciente”, afirmou durante a palestra “Impacto da Inteligência Artificial no manuseio das doenças cardiovasculares”.
A automação de prontuários e de atendimento, integrada nas rotinas de diagnóstico é uma das grandes promessas da IA na cardiologia, uma vez que a implementação dessa automação pode liberar os médicos de tarefas repetitivas, permitindo que eles se concentrem em aspectos mais complexos e humanos do atendimento ao paciente.
“Essa automação não só melhora a qualidade do atendimento, mas também pode aumentar a satisfação profissional dos médicos ao permitir que eles se dediquem mais à interação com os pacientes, ao estudo e à pesquisa dentro de sua especialidade”, disse o Dr. Roberto.
A economia de tempo também é um dos benefícios potenciais da IA no diagnóstico. Com capacidade de analisar um grande volume de dados, a tecnologia pode analisar dados multimodais, combinando ressonância magnética, ecocardiograma e eletrocardiograma com informações genéticas, comportamentais e ambientais, em um único relatório.
“Essa integração pode proporcionar uma visão holística da saúde cardiovascular do paciente, permitindo diagnósticos mais completos e precisos. A IA é capaz de identificar correlações entre dados que poderiam passar despercebidos em análises isoladas”, explicou.
Além de ajudar a identificar riscos e personalizar intervenções, possibilita o monitoramento contínuo de pacientes e a detecção precoce de doenças por meio de dispositivos vestíveis (wearables), como relógios e roupas munidas de sensores eletrônicos que coletam de forma contínua os dados de saúde.
A IA, então, analisa esses dados junto à história do paciente e permite ao médico estabelecer protocolos personalizados de acompanhamento, adaptando o tratamento às necessidades específicas de cada indivíduo ao longo do tempo.
Para que tudo isso seja possível, no entanto, um novo tipo de profissional será figura cada vez mais comum no meio médico: o cientista da computação. “A abordagem integrada entre os profissionais da saúde e da tecnologia não apenas enriquece a análise de dados, mas também garante que as soluções desenvolvidas sejam mais eficazes e aplicáveis no dia a dia clínico”, defendeu o cardiologista.