Na primeira vez que fui testar o ChatGPT para ver como ele funciona, fiquei decepcionado com o brinquedo. Num tom nostálgico, pedi que ele me lembrasse como o Palmeiras, meu time do coração, estava escalado na primeira vez que meu pai me levou a um estádio de futebol, o saudoso Pacaembu.
Informei o local, a data e o adversário. E aí ele “alucinou”, como dizem no vocabulário da inteligência artificial generativa: montou um time impossível pelas leis do tempo e da lógica: misturou jogadores da época mesmo com outros que já estavam mortos ou velhos demais para pisar em um campo de futebol. E ainda atletas que nem tinham nascido!
A escalação disparatada me deixou com uma triste conclusão: não dava para confiar na ferramenta. Eu sabia que ele tinha me dado uma resposta errada porque conheço um tanto de futebol. Mas e se eu tivesse pedido dicas de como a área de RH de uma empresa deve lidar com um colaborador deprimido, e o ChatGPT alucinasse? Dependendo do meu repertório sobre essa doença, que é complexa e multifatorial, eu poderia colocar em risco a saúde mental de um indivíduo e ainda sujar o currículo de um profissional de RH. Ponto para os humanos.
Só que a inteligência artificial tem uma habilidade maravilhosa que compartilha com muitos de nós. Ela é capaz de aprender. E então evoluir a partir desse conhecimento adquirido. Ou seja, talvez, em um futuro próximo, ela seja a melhor comentarista de futebol que existe no país, com uma análise precisa do desempenho de cada jogador, do esquema tático dos times… Talvez compreenda até a poesia que existe em equipes que jogam por mágica.
É a mesma coisa no RH. Como você verá na nossa reportagem de capa [da Você RH nº 95], obra da jornalista Larissa Santana, a IA já tem sido utilizada para executar processos como agendar férias, emitir informes de rendimentos e holerites. E também trabalhos cada vez mais complexos.
Mas ela joga muito melhor fazendo tabela com mulheres e homens. Tem tomado conta das tarefas operacionais para deixar aos indivíduos de carne e osso aquelas que exigem sentimentos que a máquina ainda não tem – como identificar a depressão de um funcionário por trás de seus olhos de desânimo e acolher essa pessoa. E até convencer um líder de que não é caso de demissão, e sim de apoio, pois se trata de um talento da empresa. Ser humano, enfim.
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Esta é a Carta ao Leitor da edição 95 da Você RH (dezembro e janeiro). Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.