Um artigo publicado na última sexta-feira (7) na revista Science Advances sugere uma nova explicação para os reflexos observados sob a calota polar sul de Marte, anteriormente interpretados como evidência de um lago de água líquida. No entanto, novos dados indicam que essa hipótese pode ser improvável.
A possibilidade de água líquida em Marte, especialmente no subsolo, seria um marco na busca por vida extraterrestre. O Sistema Solar já revelou luas com oceanos subterrâneos, mas explorar essas áreas é um desafio caro e demorado. Marte, por sua vez, seria um alvo mais acessível para investigações.
Em 2018, a comunidade científica ficou em êxtase com a notícia de reflexos de radar sob a calota polar sul marciana, interpretados como um grande lago subterrâneo. Essa descoberta, todavia, foi recebida com ceticismo por parte dos astrônomos.
Gelo empoeirado pode enganar a visão sobre água líquida em Marte
Os reflexos observados foram registrados pelo MARSIS (sigla em inglês para Radar Avançado de Marte para Sondagem de Subsuperfície e Ionosfera), a uma profundidade de 1,5 km.
Esses reflexos cobriam uma área de 20 km de diâmetro, levando os pesquisadores a acreditar que a água necessária para produzi-los teria que ter pelo menos alguns centímetros de profundidade. No entanto, estudos subsequentes indicaram que camadas de gelo misturadas com poeira poderiam gerar reflexos similares.
De acordo com a análise recém-publicada, camadas de gelo de água empoeirada, com pequenas variações na composição e espaçamento, podem causar interferências construtivas nas ondas de radar, correspondendo às observações iniciais.
“Não posso dizer que é impossível haver água líquida lá embaixo, mas estamos mostrando que há maneiras muito mais simples de obter a mesma observação, usando mecanismos e materiais que já sabemos existir lá”, disse Daniel Lalich, cientista da Universidade Cornell, nos EUA, líder da pesquisa.
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A presença de gelo de água em Marte é conhecida há décadas, e evidências sugerem que o planeta costumava ser mais úmido. A ideia de um lago enterrado não é totalmente descartada, mas a nova análise levanta sérias dúvidas.
Equipe criou simulações de cenários
Marte é extremamente frio, especialmente nos polos, e a possibilidade de água líquida subsuperficial é questionável, mesmo com altos níveis de salinidade.
Lalich e sua equipe conduziram milhares de simulações para camadas de gelo, alterando a composição e o espaçamento das camadas de maneiras plausíveis. Eles descobriram que, quando o espaçamento entre as camadas era muito pequeno para ser resolvido pelo radar, ocorria interferência construtiva, criando picos e vales amplificados que apareciam como manchas brilhantes no radar, facilmente interpretadas como água.
Embora a ideia de água líquida em Marte seja fascinante, a explicação mais simples, baseada em gelo e poeira, parece mais confiável. “A ideia de que haveria água líquida mesmo um pouco perto da superfície teria sido realmente empolgante”, afirmou Lalich. “Eu simplesmente não acho que esteja lá”.
As novas descobertas não descartam completamente a possibilidade de água líquida em Marte, mas sugerem que os reflexos observados podem ser explicados por fenômenos menos excitantes.