Análise de Paper Mario: The Thousand-Year Door

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O gênero de RPG por turnos é um dos mais antigos da história dos videogames e que sempre teve dificuldades para escapar da simetria de “ame” ou “odeie”.  Nos anos 90, Super Mario RPG esteve na vanguarda ao mexer na fórmula com a introdução de botões de ação, que deixavam a dinâmica das batalhas mais aprazível para pessoas que não se viam atraídas pelas mecânicas repetitivas.

Na ocasião, Super Mario RPG, já considerado um sucesso, servia de porta de entrada para muitas pessoas no gênero, que ficaram mais tolerantes a experimentar outras obras. O mesmo feito seria repetido na geração seguinte, com a chegada de Paper Mario para Nintendo 64, na virada do milênio.

O lançamento estabeleceria uma nova franquia, que seria ainda mais ousada com seus comandos de ação e saltaria aos olhos com sua proposta visual, misturando personagens de papel e cenários tridimensionais que pareciam maquetes. É uma premissa que envelheceu superbem e é satisfatória, mecânica e visualmente, mesmo nos dias de hoje.

Quatro anos depois, Paper Mario: The Thousand-Year Door chegou ao GameCube e elevou a fórmula a um novo patamar — considerado ainda hoje o ápice da franquia. Agora, este clássico do gênero de RPG, que é sem dúvidas indispensável para iniciantes, foi relançado para Nintendo Switch em uma versão que pode ser chamada de definitiva.

Na prática, Paper Mario: The Thousand-Year Door não vai muito além de um resgate do jogo que muitos fãs já conhecem. Claro, ele traz novas animações e melhorias técnicas por rodar em um motor gráfico diferente. Mas os seus erros e acertos não são muito diferentes daqueles que marcaram o lançamento original, em 2004. O Voxel conta os detalhes nas linhas a seguir, no review completo. Confira:

Charmoso mesmo duas décadas mais tarde

À primeira vista, as diferenças desta nova versão não são muito evidentes. E muito disso é mérito do título original, cuja direção artística é certeira. O grosso das mudanças está em pequenos detalhes, entre eles: qualidade de elementos dos cenários, proporção da tela, montagem de cutscenes, novos quadros de animação para todos os personagens, músicas, efeitos visais e sonoros, interface de usuário etc.

Tudo isso torna a experiência muito mais atual e nos faz esquecer que se trata, na verdade, de um título que saiu há vinte anos. O jogo sempre surpreende, positivamente, com alguma brincadeira dentro da temática de papel, como colagem e dobraduras, e o jogador fica na expectativa para conferir o que vem a seguir. O resultado é bastante satisfatório.

Clássico do GameCube, Paper Mario: The Thousand-Year Door ganha nova vida no console híbrido da NintendoClássico do GameCube, Paper Mario: The Thousand-Year Door ganha nova vida no console híbrido da NintendoFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

A única decepção, em termos técnicos, é que o jogo não roda mais a 60 quadros por segundo: em vez disso, ele é travado a 30 — seja no modo portátil ou na dock do Nintendo Switch. Por isso, pode levar um tempo para se acostumar com o tempo dos comandos de ação, que podem exigir bastante precisão.

Construção de mundo e barrigadas

A história de Paper Mario: The Thousand-Year Door se passa em Roguetown, uma pequena cidade portuária que já foi vítima de um grande cataclisma. Isso fez com que as ruínas da antiga cidade, que esconde um suposto tesouro por trás de uma porta milenar, ficassem submersas, enquanto uma nova fosse construída por cima.

O jogo começa com essa premissa de caça ao tesouro, na qual a Princesa Peach, aproveitando suas férias, acaba se envolvendo por encontrar um mapa lendário — através do qual seria possível rastrear as sete Crystal Stars, que por sua vez abrem a Thousand-Year Door e o caminho para seus segredos.

Aqui, o jogo repercute os velhos estereótipos antiquados que são sintomáticos do seu tempo: ela acaba sendo sequestrada por um grupo antagonista, os X-Nauts, e cabe ao Mario mais uma vez reunir aliados, descobrir seu paradeiro com a ajuda das Crystal Stars e resgatá-la.

A história de Thousand-Year Door brilha com personagens carismáticos, mas tem ritmo arrastadoA história de Thousand-Year Door brilha com personagens carismáticos, mas tem ritmo arrastadoFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Por se tratar de um RPG, o ritmo de gameplay é bastante lento no começo. Antes de começar os capítulos, existem interlúdios nos quais o jogador precisa explorar, interagir com NPCs e encontrar meios de chegar ao objetivo — como se fossem pequenas tarefas. Afinal, Rogueport e seu subterrâneo funcionam como um hub para acessar as demais áreas do jogo.

Muitos desses momentos parecem “barrigadas” para estender o tempo de jogatina e ficam maçantes com muita facilidade, pois tomam mais tempo do que deveriam. Isso também acontece em outros momentos. Por exemplo: há um capítulo em que temos de revisitar todos os mundos anteriores para procurar um NPC e conseguir uma autorização, mas rolam vários desencontros.

Há outro, também, em que temos de enfrentar uma sucessão de adversários em um extenso torneio de luta, começando do vigésimo ranque até chegar ao Grande Campeão. Tudo isso enquanto uma trama de conspiração e suspense se desenrola por trás. Na prática, é um capítulo dolorosamente arrastado.

Paper Mario: The Thousand-Year Door ganhou visuais repaginados, mas que ainda se beneficiam da direção artística originalPaper Mario: The Thousand-Year Door ganhou visuais repaginados, mas que ainda se beneficiam da direção artística originalFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

O jogo acerta muito ao expandir o rol de personagens carismáticos do universo de Super Mario, brincando bastante com seus designs e personalidades — muitas com as quais as pessoas podem se identificar. Um dos destaques é Vivian, que a princípio faz parte de um grupo antagonista em que sofre transfobia das suas irmãs.

As pequenas histórias que se desenrolam nos capítulos também são divertidas e apostam em mecânicas únicas, mas Paper Mario: The Thousand-Year Door é um jogo que exige um pouco de esforço e boa vontade para clicar, por conta dos seus problemas de ritmo.

Gameplay divertido e com margem para personalização

A franquia Paper Mario se distanciou bastante da fórmula de RPG com o tempo, razão pela qual The Thousand-Year Door ainda é considerado o seu ponto mais alto. Por isso, o remake é um regresso muito bem-vindo ao que tornou a série um sucesso.

O jogo melhora todos os sistemas do seu antecessor à época, o Paper Mario 64, e dá muita margem para personalização com a mecânica de insígnias, que concedem novas habilidades e mudam os atributos dos personagens. Também é interessante como as melhorias do Mario podem ser utilizadas não apenas em combate, mas também na exploração para descobrir novos caminhos e segredos.

O sistema de batalha brilha ao recompensar a experimentação e também a precisão dos jogadores, já que todos os golpes têm minigames que concedem bônus e podem ser decisivos em lutas mais complicadas. É uma forma muito divertida de mergulhar em um RPG por turnos, pois o jogador está executando comandos variados ativamente.

O sistema de batalha de The Thousand-Year Door é baseado inteiramente em comandos de açãoO sistema de batalha de The Thousand-Year Door é baseado inteiramente em comandos de açãoFonte:  Divulgação/Nintendo 

Na exploração, o jogo também brinca com mecânicas de plataforma para lembrar os jogos tradicionais do Super Mario, mas isso pode render frustração. A jogabilidade não é necessariamente pensada, na minúcia, para esse tipo de desafio, então tudo parece um pouco desajeitado.

Os parceiros, que encontramos ao longo da história, também exercem um papel muito importante na exploração com suas habilidades únicas. Sempre vale revisitar cenários para experimentar as técnicas, assim como também é recompensador fortalecer os aliados com Shrine Sprites para destravar novos golpes em combate.

Se perdeu? Sem problemas, a menos que saiba inglês

Como este é um jogo que exige muita exploração e conversas com NPCs, é comum se perder ou ficar com dúvidas sobre o que tem que fazer. Felizmente, o jogo tem um botão contextual em que os aliados do Mario comentam a situação e dão pistas de onde está o objetivo. Isso é muito útil, pois nem sempre as soluções são intuitivas.

No entanto, isso esbarra em um problema gigantesco: a falta de localização em português do Brasil. É inaceitável que um relançamento como este, com mais de vinte anos de diferença, não esteja disponível no nosso idioma. Afinal de contas, o gênero de RPG é disparado o que mais precisa de esforços nesta crescente, porém devagar leva de jogos da Nintendo em PT-BR.

Essa barreira de entrada é ainda mais injustificada quando há evidências de que o remake de Paper Mario: The Thousand-Year Door já estava pronto há pelo menos um ano antes do lançamento, como apontam órgãos de classificação indicativa. Não foi falta de tempo e muito menos de dinheiro: apenas desinteresse.

É realmente uma pena que Paper Mario, que brilha pelos seus diálogos divertidos e criativos, não possa ser aproveitado ao máximo aqui no Brasil. A Nintendo já demonstrou a qualidade da sua localização, então essa situação é uma perda gigantesca para a comunidade e consumidores brasileiros.

Paper Mario: The Thousand-Year Door é uma excelente porta de entrada para o gênero de RPGPaper Mario: The Thousand-Year Door é uma excelente porta de entrada para o gênero de RPGFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Vale a pena?

Paper Mario: The Thousand-Year Door é um remake simples no fim das contas. Ele traz melhorias visuais e de qualidade de vida, mas seu verdadeiro propósito é tão somente resgatar um jogo que até então estava preso na biblioteca do GameCube. A parte da experiência que realmente importa está praticamente intocada — o que também leva a questionamentos quanto ao preço cheio de lançamento.

Ainda assim, o jogo é uma aventura muito divertida e extremamente competente para fãs de RPG ou até mesmo principiantes, já que pode despertar o interesse por títulos similares. A direção artística e as mecânicas de gameplay se mostram atuais, além de incentivarem a experimentação com seus sistemas de insígnias e parceiros.

A história, ainda que seja recheada de momentos e personagens divertidos, sofre constantemente com um ritmo arrastado e pode espantar alguns jogadores. Também pesa a ausência de uma localização em português do Brasil, que torna a barreira de entrada ainda maior para uma parte significativa do público.

Em suma, o jogo vale a chance por concentrar tudo aquilo que há de melhor na franquia de RPG do bigodudo. Assim como o jogo original do Nintendo 64 foi minha porta de entrada, The Thousand-Year Door também pode despertar o interesse de muitas pessoas que ainda não descobriram o apelo do gênero.

Nota do Voxel: 90

Pontos positivos (prós):

  • Elenco repleto de personagens carismáticos;
  • Direção artística;
  • Gameplay progressivamente interessante e recompensador;
  • Mecânicas de RPG acessíveis para um novo público.

Pontos negativos (contras);

  • História arrastada e que demora para clicar;
  • Alguns personagens podiam ser mais bem aproveitados;
  • Desempenho travado a 30 FPS;
  • Sem localização em português do Brasil.

Uma cópia de Paper Mario: The Thousand-Year Door foi enviada pela Nintendo para a review no Switch.


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