Recentemente, o ChatGPT apresentou uma falha, ficando fora do ar por algumas horas, e esse breve acontecimento gerou uma discussão na web. “Como vou fazer meu trabalho agora?”, questionou um internauta. “Como assim você só consegue fazer suas coisas com o chat?”, respondeu outra. A falha fez com que os usuários questionassem o quão dependentes estamos da Inteligência Artificial. E ao perguntar ao próprio ChatGPT como ele vê o futuro, a ferramenta diz que certas competências humanas vão ficar “obsoletas”, e aponta seis habilidades que acredita que não usaremos mais
1. Memorização de Informações: Com a acessibilidade de ferramentas como IA e buscadores, o foco está em interpretar dados, não em memorizá-los. O futuro valoriza análise crítica e solução de problemas.
2. Tarefas Manuais Repetitivas: Automação e robótica estão substituindo trabalhos que não demandam criatividade ou flexibilidade, tornando essas habilidades obsoletas.
3. Uso de Softwares Específicos: Softwares estão ficando mais intuitivos e baseados em IA, eliminando a necessidade de dominar ferramentas específicas e privilegiando habilidades de adaptação tecnológica.
4. Cálculos Matemáticos Manuais: Calculadoras avançadas e IA fazem cálculos complexos em segundos, tornando mais relevante entender conceitos matemáticos do que realizar cálculos manualmente.
5. Trabalho de Atendimento Linear: Chatbots e assistentes virtuais estão ocupando posições de atendimento básico, focando a relevância no atendimento empático e na resolução criativa de problemas.
6. Habilidades de Digitação Rápida: A voz, junto com comandos por gestos ou dispositivos neurológicos, tende a substituir a digitação como principal meio de entrada de dados.
Como usar o ChatGPT para corrigir textos
O que tudo isso significa?
Segundo o especialista Gerd Leonhard, CEO da The Futures Agency e fundador do The Good Future Project, tarefas rotineiras que exigem apenas lógica ou ações simples baseadas em conhecimento explícito serão amplamente substituídas por softwares e agentes de inteligência artificial.
Ele destaca: “Se você trabalha como um robô, um robô vai tomar seu emprego. Se você aprende como um robô, você vai trabalhar para eles.” Nesse cenário, a capacidade humana de compreensão, sabedoria e conhecimento tácito se tornará ainda mais crucial.
De acordo com Leonhard, enquanto máquinas e IA assumirão grande parte das atividades repetitivas, inclusive em áreas como bancos, governo, consultoria e tributação, os humanos terão a oportunidade de criar tarefas com base nas capacidades das máquinas. “Isso nos permitirá nos tornarmos mais valiosos… se o governo tiver políticas inteligentes,” afirmou o especialista.
Uma perspectiva otimista levantada por ele é a possibilidade de uma jornada de trabalho reduzida no futuro. “No final, talvez só precisemos trabalhar de 3 a 5 horas por dia, ou 20 horas por semana, mas pelo mesmo salário –se concordarmos em compartilhar os benefícios das máquinas trabalhando por nós. Isso requer governança sábia, algo ainda improvável nos dias de hoje.”
Leonhard também alerta que profissões que dependem de habilidades essencialmente humanas, como julgamento, empatia e criatividade, continuarão sendo insubstituíveis. Áreas como saúde, assistência social e indústrias criativas estão entre as que mais dependerão dessas habilidades. Ele destaca que máquinas podem simular arte ou cuidado, mas não devem substituir o que ele chama de “entendimento humano”.
“Os aprendizes precisam entender a tecnologia, mas também a humanidade. Estamos indo além do simples conhecimento; devemos nos tornar mais humanos, não menos,” conclui Leonhard.
“2024 foi o ano que a IA deixou de ser algo do futuro”, diz especialista:
Como educamos nosso País para o futuro?
A educação enfrenta desafios significativos para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas e sociais. Apesar de o Brasil ter iniciado uma transição no paradigma educacional antes da metade do século XX, muitos aspectos da pedagogia tradicional ainda persistem nas escolas.
Esse modelo priorizava memorização, repetição e uma hierarquia rígida, na qual o professor era a principal fonte de conhecimento, enquanto os estudantes o absorviam de forma passiva.
“O primeiro passo para alinhar a educação às habilidades do futuro é superar essa visão tradicional”, afirmou Karen Cristine Teixeira, doutora em psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina e gerente de pesquisa e membro do eduLab21 – Laboratório de Ciências para Educação – do Instituto Ayrton Senna.
Uma formação alinhada às demandas do futuro deve priorizar competências socioemocionais e habilidades complexas. Isso inclui formar professores de maneira contínua, atualizando suas práticas pedagógicas e integrando tecnologias educacionais que tornem a aprendizagem mais inovadora e conectada aos interesses e contextos dos estudantes.
“É fundamental que o currículo seja flexível, permitindo transdisciplinaridade e espaço para que os estudantes desenvolvam interesses e talentos específicos”, explicou. Além disso, a adoção de metodologias ativas e avaliações baseadas em competências são estratégias cruciais para preparar os alunos para os desafios do futuro.
Entre as habilidades do futuro, a especialista destacou criatividade, pensamento crítico, inteligência emocional e resolução de problemas como competências essenciais. Essas habilidades permitem uma abordagem analítica e reflexiva para lidar com situações complexas.
Estudos recentes, como o Future of Jobs do Fórum Econômico Mundial, reforçam essa perspectiva, apontando que, até 2025, as competências mais valorizadas incluirão pensamento analítico, resiliência, liderança, criatividade e autoconsciência. Segundo a especialista, essas habilidades são as mais difíceis de serem substituídas pelas capacidades das inteligências artificiais, o que as torna ainda mais relevantes no futuro mercado de trabalho.
O papel do professor também está em transformação em um mundo cada vez mais digital e automatizado. “Hoje, o professor não é mais a única fonte de conhecimento; ele atua como mediador do aprendizado e facilitador do desenvolvimento do estudante”, explicou.
Para que esse papel seja exercido com eficácia, é necessário investir na formação inicial e contínua dos educadores. Além disso, é crucial que os professores desenvolvam competências que permitam apoiar os alunos em uma educação integral, alinhada às demandas sociais e tecnológicas do presente e do futuro. “Como um professor pode ajudar um estudante a desenvolver uma habilidade se ele próprio não a domina?”, questionou, enfatizando a importância da homologia de processos na formação docente.
Por fim, a especialista ressaltou a importância de garantir a equidade no ensino, especialmente para estudantes em contextos vulneráveis. “A garantia de equidade envolve adotar estratégias que considerem desigualdades e proponham políticas públicas robustas”, afirmou.
Ela sugeriu ações como monitoramento contínuo das necessidades dos estudantes, distribuição equitativa de recursos, investimentos em infraestrutura escolar e acesso à tecnologia. Além disso, destacou a relevância de formar professores para lidar com diversidades em sala de aula e adaptar currículos para tornar o aprendizado mais significativo. “A educação precisa ser um instrumento de transformação social, e isso passa por criar condições para que todos os estudantes tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento”, concluiu.