Ao observar duas estrelas no coração de uma nebulosa, os astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) ficaram surpresos com algumas características raras: uma das estrelas parecia ser bem mais jovem do que a outra e, também ao contrário de sua companheira, possuía um forte campo magnético.
Normalmente, os pares de estrelas observados costumam ser muito semelhantes entre si, como se fossem gêmeas. No caso do sistema HD 148937, localizado a aproximadamente 3.800 anos-luz de distância da Terra, as duas estrelas, ambas com massa bem maior do que o nosso Sol, não só parecem ter idades diferentes, como também tem características distintas.
A existência de uma nebulosa, uma nuvem de gás e poeira, ao redor das estrelas apenas aumentou as hipóteses dos cientistas de que havia uma história por trás desse sistema que valeria a pena ser investigada.
“Encontrar uma nebulosa em torno de duas estrelas massivas é algo bastante raro e nos levou a pensar que alguma coisa de diferente devia ter acontecido neste sistema. Quando analisamos os dados, vimos que, de fato, assim era”, explicou Abigail Frost, astrônoma do ESO no Chile e autora principal do estudo publicado nesta quinta-feira (11) na revista Science.
Frost disse que ficou “impressionada com o quão especial o sistema parecia ser”.
A estrela de maior massa parece ser pelo menos 1,5 milhões de anos mais nova do que a outra. “O que não tem lógica, uma vez que estas estrelas deveriam ter se formado ao mesmo tempo“, explicou a astrônoma.
Além disso, a nebulosa que rodeia as estrelas, conhecida como NGC 6164/6165 ou Ovo de Dragão, tem aproximadamente 7.500 anos de idade. É centenas de vezes mais nova do que ambas as estrelas e apresenta uma quantidade elevada de elementos que geralmente são encontrados no interior de uma estrela, e não ao seu redor.
Uma história violenta que desvendou um mistério
Após investigar esses mistérios, os cientistas do ESO chegaram à conclusão de que essas peculiaridades eram resultados de uma história violenta: os dados sugerem que originalmente três estrelas formavam o sistema HD 148937, tendo duas delas se fundido após um choque.
“As duas estrelas interiores fundiram-se de forma violenta, criando uma estrela magnética e ejetando material, o que deu origem à nebulosa. A terceira estrela, mais distante, ganhou uma nova órbita com a estrela magnética recém-fundida, criando o sistema binário que observamos atualmente no centro da nebulosa”, disse o co-autor do estudo Laurent Mahy, atualmente investigador sênior no Observatório Real da Bélgica.
Os dados obtidos pelo ESO para demonstrar o que teria acontecido na formação do sistema como o vemos hoje também ajudaram a solucionar um mistério que incomoda os astrônomos há muito tempo: como algumas estrelas massivas conseguem seus campos magnéticos.
Campos magnéticos são uma característica comum em pequenas estrelas, como o nosso Sol, mas, geralmente, estrelas de maior massa não conseguem mantê-los. Mesmo assim, algumas estrelas massivas são magnéticas, e os cientistas não sabiam explicar qual a causa destas exceções.
Os astrônomos já suspeitavam que a fusão de duas estrelas pudesse resultar no campo magnético, mas essa é a primeira vez que são apresentadas provas para sustentar essa teoria.
“Não se espera que o magnetismo em estrelas massivas dure muito tempo em comparação com o tempo de vida da estrela, por isso pensamos ter observado este acontecimento raro pouco tempo depois da fusão ter ocorrido”, acrescentou Frost.
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