Cientistas criam tecnologia que permite falar apenas com pensamentos

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Falar apenas com o pensamento, dar ordens a dispositivos eletrônicos usando a força da mente e escrever um texto na mesma velocidade em que ele surge na cabeça. Se isso era o que as pessoas imaginavam do futuro, parece que ele chegou.

Em novo estudo publicado na revista Nature Human Behaviour, pesquisadores descrevem um experimento em que um implante cerebral conseguiu identificar palavras que duas pessoas pronunciaram em suas mentes. Isso mesmo, sem mover os lábios ou fazer um som.

Essa é a primeira vez que um dispositivo de interface cérebro-computador reproduz palavras que estão apenas na mente de uma pessoa. Até agora, implantes com eficiência comprovada traduziam para texto escrito aquilo que humanos projetavam na fala, ou seja, o que era vocalizado.

Falar com pensamento: como funciona

Primeiramente, os pesquisadores implantaram microeletrodos no cérebro de duas pessoas. Diferente de outros experimentos semelhantes, eles colocaram os implantes em uma região do cérebro chamada de giro supramarginal. Até então, essa área não fora explorada por dispositivos de interface cérebro-computador.

Então, cerca de duas semanas após os implantes, os cientistas passaram a coletar dados e treinar os dispositivos. No total, os microeletrodos receberam treinamento para seis palavras e duas pseudopalavras, ou seja, expressões que não existem e, portanto, não têm sentido lógico.

“O ponto aqui era ver se o significado era necessário para a representação”, explicou Sarah Wandelt, autora do estudo, à revista Nature. Em geral, os termos ensinados eram simples e isolados, palavras do cotidiano. Veja abaixo a lista.

  • Colher;
  • Píton;
  • Cowboy;
  • Campo de batalha;
  • Natação;
  • Telefone;
  • Nifzig (pseudopalavra);
  • Bindip (pseudopalavra).

Depois do treinamento, cada participante passou por testes em que tinham de se imaginar falando as palavras que eram mostradas em uma tela. Nessa etapa, a interface cérebro-computador processou a atividade cerebral dos participantes e, junto a um modelo computacional, previu as falas.

No total, os microeletrodos foram capazes de identificar as palavras do primeiro participante com 79% de precisão. Já com o segundo, o nível de precisão atingiu apenas 23%. 

“É possível que diferentes subáreas no giro supramarginal estejam mais, ou menos, envolvidas no processo”, explicou Wandelt.

Avanço na ciência

Estudos anteriores mostravam que a região giro supramarginal é a parte do cérebro que se  ativa na fala subvocal e em tarefas como decidir se as palavras rimam. Assim, os resultados da nova pesquisa indicam que esta realmente pode ser um bom lugar no cérebro para implantar os dispositivos de interface cérebro-computador.

Além disso, os dois participantes do estudo são pessoas com lesões na medula espinhal. De acordo com os pesquisadores, a tecnologia seria particularmente útil para indivíduos que não têm mais meios de se movimentar.

Ainda assim, o dispositivo ainda está em um estágio inicial. Dessa forma, além do teste com palavras, é preciso também ver o desempenho da tecnologia frente a formulação de frases. Contudo, os microeletrodos podem ter aplicações clínicas no futuro.


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