Publicado 27/01/2025 17:32 | Editado 27/01/2025 19:01
Supera o ChatGPT, requer muito menos capacidade de computação, tem código aberto e é totalmente gratuita. Com isso, uma reviravolta sem precedentes abalou o mercado de tecnologia nesta segunda-feira (27). A startup chinesa DeepSeek, sediada em Hangzhou, alçou voos surpreendentes ao lançar um assistente digital gratuito e de alto desempenho, ameaçando diretamente os gigantes do setor. O impacto imediato foi uma queda significativa nas ações de empresas como Nvidia, Microsoft, Meta e Alphabet, refletindo o frenesi em torno do novo modelo de inteligência artificial (IA) da DeepSeek, considerado um marco disruptivo no campo.
De acordo com a análise do professor Diego Pautasso, pós-doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e PUC Minas, essa nova abordagem chinesa vai muito além de inovações tecnológicas. “Indiferente aos desafios técnicos e regulatórios pela frente, trata-se de um modelo disruptivo. É uma IA muito mais barata e eficaz, montada com recursos módicos e com pouca capacidade de computação, comparativamente”, opinou ele em suas redes sociais.
A ascensão da DeepSeek e o colapso das expectativas ocidentais
Na última semana, a DeepSeek ultrapassou o popular ChatGPT, da OpenAI, em downloads na App Store, consolidando-se como uma alternativa viável e mais acessível. O modelo da startup promete operar com menos dados e custos significativamente reduzidos em comparação aos padrões estabelecidos pelas gigantes do setor. Essa mudança de paradigma levanta questões sobre a sustentabilidade dos altos níveis de investimento em IA por empresas ocidentais.
A DeepSeek não seguiu o roteiro tradicional do Vale do Silício. Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, um investidor que inicialmente não tinha experiência direta no setor de tecnologia, a startup foi concebida a partir de um fundo de hedge, o High-Flyer. Em 2021, Liang começou a adquirir milhares de processadores gráficos da Nvidia, até então encarados com ceticismo por seus parceiros de negócio. Hoje, sua visão se traduz em um sistema de IA que, na terceira versão, já supera o GPT-4 em 20 das 22 métricas analisadas, segundo dados da própria empresa.
Geopolítica e a “falência” da batalha dos chips
A ascensão da DeepSeek também escancara os limites das sanções tecnológicas impostas pelos EUA contra a China. Assim como os avanços recentes dos celulares Huawei, a nova IA conseguiu driblar as restrições que bloqueavam o acesso a chips sofisticados da Nvidia, provando a resiliência do ecossistema digital chinês. Segundo Pautasso, “o evento provou a falência da batalha dos chips impostas por Washington”.
O modelo da DeepSeek, que é de código aberto e gratuito, reforça a estratégia da China de democratizar soluções tecnológicas, ampliando sua influência no Sul Global. Para o analista, essa abordagem desafia diretamente o monopólio dos EUA e representa um marco na transição sistêmica global. “Mais do que pânico nas corporações do Vale do Silício e na elite da Casa Branca, a abordagem tecnológica da DeepSeek desafia o domínio e o monopólio dos EUA”, pontuou.
Impactos para o Brasil e o Sul Global
Num momento de transição histórica, países emergentes têm a oportunidade de explorar soluções tecnológicas mais acessíveis para fomentar suas próprias agendas digitais. Nesse cenário, iniciativas como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 surgem como elementos-chave para integrar o Brasil à nova realidade tecnológica global.
“Esse é o momento ideal para o Brasil e outros países do Sul Global construírem suas alternativas soberanas, explorando parcerias com ecossistemas inovadores como o da DeepSeek”, destacou Pautasso.
Um novo futuro para a IA
Com a chegada da DeepSeek, as regras do jogo na indústria de IA foram profundamente alteradas. As corporações do Vale do Silício, que antes apostavam em investimentos bilionários, precisam agora reavaliar seus modelos de negócio. Ao mesmo tempo, a ascensão da China como um líder tecnológico global reforça a dinâmica multipolar do sistema internacional, oferecendo novas possibilidades para uma era de maior diversificação e acessibilidade tecnológica.