A Inteligência Artificial Generativa (IA Gen) entrou no radar de muitas empresas, mas sua plena adoção e escalabilidade são desafios que nem todos conseguiram superar. É inegável o entusiasmo com a tecnologia, mas ainda há um caminho a ser traçado para a concretização de seus benefícios econômicos. Isso é particularmente verdadeiro no Brasil, onde as barreiras estruturais e a falta de talentos especializados se mostram obstáculos para a implementação em larga escala.
Hoje, cerca de 85% das empresas reconhecem que não têm a estrutura e os talentos necessários para implementar projetos de IA generativa. Apenas 30% possuem uma visão clara sobre o potencial dessa tecnologia e somente 35% contam com ao menos um caso de uso estratégico para o negócio. Esses números poderiam ser ampliados, uma vez que a IA Generativa já provou sua eficácia em áreas como atendimento ao cliente e marketing.
No Brasil, 47% das empresas colocam a falta de estrutura como principal obstáculo para avançar em seus projetos de IA. Nos EUA, a preocupação é mais ampla e se divide entre a falta de talentos especializados (46%), questões de qualidade e acurácia (39%) e privacidade de dados (39%). Em ambas as situações, o cenário é o mesmo: um grande potencial ainda não totalmente explorado.
A maioria dos casos de uso de IA Gen está concentrada em atendimento ao cliente e otimização do conhecimento interno, representando cerca de 37,3% das iniciativas, mas com taxas de implementação ainda baixas. Quando implementada corretamente, a IA já mostra resultados expressivos, como a redução de 20% a 65% do tempo de resposta em atendimento. Esse é um ganho direto de produtividade que poderia ser amplamente replicado em outros processos se as barreiras de implementação fossem superadas.
Setores como marketing e TI também têm explorado a IA Gen, seja aproveitando a IA para automatizar e personalizar campanhas ou na otimização de desenvolvimento de software, respectivamente. No entanto, a falta de talentos especializados e de uma estrutura robusta continua a restringir o impacto potencial dessas iniciativas.
Uma outra questão enfrentada na adoção da IA Generativa é a falta de uma estratégia clara para sua escalabilidade. Muitas empresas ainda tratam a IA como um experimento isolado, em vez de integrá-la profundamente em seus processos operacionais. As empresas que mais têm sucesso nessa jornada são aquelas que definem uma estratégia de IA desde o início, priorizando casos de uso de alto impacto e alinhando seus objetivos de produtividade com metas de redução de custos.
Mais um fator crítico nesse sentido é o alinhamento entre as áreas de tecnologia e negócios. Para que a IA alcance seu potencial máximo, é preciso que as unidades de negócios liderem a identificação dos casos de uso, enquanto as equipes de tecnologia garantem a consistência da plataforma e a gestão de riscos. Essa colaboração entre setores é fundamental para que a IA gere valor real, e não apenas ganhos pontuais.
Apesar dos desafios, o potencial da IA Generativa é inegável. Nos setores onde ela já foi aplicada com sucesso, as empresas relatam aumento de até 10 pontos percentuais na satisfação do cliente. O desenvolvimento de novos produtos e a inovação também se beneficiam diretamente da IA, com produtividade aumentando entre 10% e 60%.
No entanto, para que essas promessas se materializem de forma mais ampla, é necessário uma mudança estrutural nas empresas. Não basta adotar a IA como uma ferramenta de automação pontual. É preciso reimaginar processos inteiros, repensar como o trabalho é feito e investir em talentos que possam explorar o verdadeiro poder dessa tecnologia.
A IA Generativa está apenas começando a transformar o mundo corporativo. O varejo, em particular, tem uma oportunidade única de se reinventar, melhorando a experiência do cliente, otimizando operações e criando novos modelos de negócios. Mas, para que isso aconteça, é fundamental que as empresas superem as barreiras atuais de estrutura e talento e adotem uma abordagem mais estratégica e coordenada para a implementação dessa tecnologia.
Quem conseguir superar esses desafios estará na vanguarda de uma nova era no varejo, impulsionada por inteligência artificial. Já aqueles que hesitarem podem ficar para trás, perdendo terreno para concorrentes mais ágeis e preparados para o futuro digital.
Lucas Brossi, sócio da Bain & Company.