De um máximo histórico à maior queda em bolsa em três décadas, o mercado dos ‘chips’ avança a diferentes velocidades

Expresso

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O negócio dos semicondutores orbita hoje em torno de três países: Taiwan, onde é produzida a grande maioria dos chips, Estados Unidos, onde são desenhados e vendidos, e Países Baixos, onde parte da maquinaria de produção é construída. Na semana passada, as três geografias fizeram manchetes por motivos diferentes, numa altura em que a Nvidia voltou a renovar máximos históricos, os lucros da TSMC superaram as expectativas e a ASML registou a maior queda diária em bolsa dos últimos 30 anos.

Mas vamos por partes. No início deste mês, o presidente executivo da Nvidia, Jensen Huang, disse numa entrevista à CNBC que a procura pelo novo chip da empresa estava “insana”, principalmente por parte dos maiores clientes (e rivais, em simultâneo), como a OpenAI, Microsoft e Meta, para o desenvolvimento dos seus chatbots ou assistentes de inteligência artificial, como o ChatGPT ou o Copilot.

“Toda a gente quer ter o máximo número de chips possível e todos querem ser os primeiros a tê-los”, disse Jensen Huang. O preço de cada Blackwell, o nome dado a este semicondutor, varia entre os 30 mil e os 40 mil dólares (27 a 37 mil euros). As ações da segunda empresa mais valiosa do mundo foram subindo até atingirem na semana que passou um novo máximo histórico, acima dos 138 dólares por título, acumulando uma valorização de mais de 180% só este ano.

“Os chips da Nvidia são, essencialmente, o novo ouro ou petróleo do setor de tecnologia, à medida que mais empresas e consumidores seguem rapidamente esse caminho com a quarta Revolução Industrial a caminho”, escreve Dan Ives, especialista em tecnologia da Wedbush, numa nota de análise sobre este mercado.

A gigante tecnológica, que começou a atividade em 1993 a partir de uma ideia desenhada num guardanapo de um restaurante, apresentará os resultados trimestrais a 20 de novembro. Depois de ter disparado dois dígitos nos últimos trimestres, em termos de lucros e receitas, as expectativas do mercado estão muito elevadas e, como aconteceu da última vez, cumprir as previsões pode não ser suficiente para manter a subida em bolsa.

De Taiwan até aos Países Baixos

Dos Estados Unidos para Taiwan, a TSMC apresentou resultados acima do previsto no trimestre terminado em setembro, com uma subida de 54% nos lucros para os 10,1 mil milhões de dólares, bem como um aumento de 39% nas receitas. A maior fabricante de chips para a Nvidia e para a Apple acumula uma valorização de mais de 70% este ano, à boleia da inteligência artificial e das notícias que dão conta de uma ambição em expandir as fábricas na Europa.

A empresa melhorou as expectativas de receitas até final do ano, beneficiando do aumento do investimento das gigantes tecnológicas em infraestrutura para continuar a desenvolver projetos com inteligência artificial, como a Microsoft e a Amazon. Ainda assim, não são tudo rosas neste setor.

Os investidores estarão de olho no que se passa com a neerlandesa ASML, que na semana passada sofreu a maior desvalorização diária em bolsa nos últimos 30 anos (a queda chegou a ser de 19% numa só sessão), após ter reportado apenas metade das encomendas que eram previstas pelos analistas no terceiro trimestre do ano. A estimativa apontava para 5,6 mil milhões de euros em encomendas, mas o número não foi além dos 2,6 mil milhões.

Nvidia lidera ganhos em bolsa no setor, Intel afunda

Variação da cotação das empresas desde o início do ano, em percentagem

A empresa, que fabrica a maquinaria necessária para a produção de chips (através de uma máquina de luz ultravioleta extrema, que permite a produção de semicondutores pequenos e de baixo consumo para smartphones, por exemplo), está a sofrer com as restrições comerciais entre a China e o ocidente.

E estes receios ganharam novas proporções depois de uma notícia da Bloomberg ter dado conta de que a administração de Joe Biden estaria a equacionar limitar a exportação de chips para outros países, principalmente do Golfo Pérsico, por questões de segurança nacional. O impacto direto ia abranger principalmente as empresas norte-americanas (Nvidia, AMC ou Intel), mas outras cotadas como a ASML e a TSMC iriam sofrer com esta medida, uma vez que uma limitação da produção e vendas das gigantes americanas ia significar menos encomendas.

As dores de crescimento do setor

O mercado tem adotado duas posturas na avaliação que faz ao setor: por um lado, olha com entusiasmo para o investimento previsto das maiores empresas tecnológicas do mundo na inteligência artificial, mas por outro teme que a montanha de dinheiro que tem sido alocada a esta tecnologia não se reflita num aumento de receitas em breve, podendo originar uma queda em bolsa.

Um relatório do banco Goldman Sachs prevê fortes investimentos na tecnologia nos próximos trimestres, mas a receita fica sempre muito aquém. Para os últimos três meses do próximo ano é esperado um investimento total de quase 500 mil milhões de dólares (o equivalente a 448 mil milhões de euros), mas as receitas não chegarão sequer a metade desse valor. Se olharmos para o que aconteceu no início do século, com o advento da internet, as empresas que estavam envolvidas — algumas são as mesmas — demoraram cinco ou mais anos a recuperar o investimento realizado.

Há também algumas mexidas entre empresas que estão a baralhar as contas. A norte-americana Intel está a ter dificuldades em bolsa, afundando-se mais de 50% este ano, depois de ter falhado as expectativas de resultados nos últimos trimestres e anunciado a suspensão dos dividendos, obrigando a empresa a apresentar um plano de reestruturação que inclui o despedimento de 15% dos trabalhadores. Agora, a rival Qualcomm está em negociações para a adquirir, mas já disse que ia esperar pelas eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, para decidir se avança ou não.

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