REXBURG, Idaho – Em maio de 2009, Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, falou em um devocional mundial para jovens adultos, sobre as bênçãos e os perigos da tecnologia, em um discurso intitulado “As coisas como realmente são” [em inglês].
Quinze anos depois, Élder Bednar novamente aconselhou os jovens adultos sobre a tecnologia, durante um devocional mundial semelhante, baseando-se diretamente em seu discurso original.
Ele falou sobre os impactos da tecnologia de inteligência artificial, o significado do arbítrio moral e a importância do trabalho justo.
“A voz de advertência que levantei em 2009 foi sincera, enfática e urgente, porque a tecnologia, os perigos e as possibilidades que estávamos discutindo, estavam apenas emergindo”, disse Élder Bednar. “Isso foi naquela época. A voz de advertência que levanto hoje é mais sincera, mais enfática e ainda mais urgente, porque a tecnologia, os perigos e as possibilidades que estamos discutindo, estão em toda parte, o tempo todo. Isto é agora.”
Élder Bednar foi acompanhado por sua esposa, a irmã Susan Bednar, que falou antes de seu marido. Ela ensinou sobre como o Salvador eleva, fortalece e caminha com as pessoas através de seus medos, dúvidas e outros desafios. “De alguma forma e de um modo que não compreendo ou entendo completamente, o sacrifício expiatório de Jesus Cristo nos dá forças e nos ajuda a fazer coisas difíceis”, disse ela.
‘As coisas como realmente são’
Em seu discurso de 2009 [em inglês], proferido durante uma reunião do Sistema Educacional da Igreja na BYU-Idaho, Élder Bednar alertou para o fato de que a tecnologia moderna pode distrair as pessoas das “coisas como realmente são” (Jacó 4:13).
Ele falou sobre a importância dos corpos físicos, observando que a progressão eterna não é possível sem essa etapa vital. E como a Lúcifer foi negado um corpo físico, “não devemos nos surpreender que [ele] procure frustrar nossa progressão nos tentando nos a usar nosso corpo de maneira imprópria”, desde violar a lei da castidade, até usar substâncias viciantes e adorar o “falso ídolo” da imagem corporal.
Mas se Satanás não pode tentar alguém a fazer mau uso de seu corpo físico, disse Élder Bednar, sua próxima tática é atraí-los para se desconectarem do mundo real, basicamente os incentivando a pensarem e agirem como se ainda estivessem em seu estado pré-mortal, sem corpo. E a tecnologia é frequentemente o meio pelo qual o adversário minimiza a importância dos corpos físicos.
Por exemplo, rapazes e moças às vezes negligenciam relacionamentos eternos por distrações digitais como videogames e mídias sociais, disse Élder Bednar; e o envio de mensagens de texto, bate-papo online, e outras atividades potencialmente viciantes na internet, podem se tornar tão imersivas que a pessoa perde a riqueza da comunicação pessoal.
Especialmente para casais jovens, “Oportunidades importantes são perdidas para se desenvolverem e melhorarem as habilidades interpessoais, para rirem e chorarem juntos e para criarem um vínculo rico e duradouro de intimidade emocional”, disse Élder Bednar. “Progressivamente, o entretenimento aparentemente inocente pode se tornar uma forma de escravidão perniciosa.”
Inteligência artificial
Em seu discurso de 2024, Élder Bednar desenvolveu ideias de suas palavras de 2009, começando com o desenvolvimento “excepcionalmente rápido” da inteligência artificial nos últimos anos. Esta “tecnologia notável” pode avançar o conhecimento, melhorar a qualidade de vida, facilitar a comunicação e promover a inovação. Mas também pode distrair das verdades eternas, diminuir o reconhecimento da mão de Deus em todas as coisas, obscurecer a verdadeira identidade espiritual de uma pessoa e distorcer ou substituir conexões humanas significativas.
Por exemplo, um “companheiro de IA” — um namorado ou namorada tecnológico — pode oferecer experiências envolventes e viciantes, que apelam a uma ampla gama de necessidades emocionais e sociais, disse Élder Bednar. O fascínio é ainda mais intensificado pela total disponibilidade do bot e pela ausência das complexidades encontradas nos relacionamentos reais.
Mas assim como o monóxido de carbono, estas relações virtuais são assassinas silenciosas da verdadeira conexão humana, disse Élder Bednar. “A intimidade emocional falsa pode substituir a intimidade emocional da vida real — a coisa verdadeira que une duas pessoas.”
Ele continuou: “Um companheiro de IA é apenas um algoritmo matemático. Ele não gosta de você. Ele não se importa. Ele realmente não sabe se você existe ou não. … Por favor, não permitam que esta tecnologia os seduzam a se tornarem objetos [a serem manipulado].”
Élder Bednar enfatizou que a inteligência artificial não é inerentemente má, nem as pessoas devem temê-la ou esconder-se dela. Mas as possibilidades justas desta tecnologia só podem ser realizadas à medida que os santos dos últimos dias estejam cientes e se protejam contra seus perigos, disse ele.
Para navegar na “complexa intersecção” entre espiritualidade e tecnologia, Élder Bednar disse que os membros da Igreja devem humildemente, e em espírito de oração, identificar os princípios do evangelho que guiarão seu uso da inteligência artificial e se esforçar sinceramente pela companhia do Espírito Santo e pela revelação pessoal. Ele também convidou os ouvintes a revisarem e estudarem os “Princípios para o Uso de Inteligência Artificial pela Igreja”, encontrados no site da Igreja.
Arbítrio moral
Élder Bednar também falou sobre o potencial da inteligência artificial, de “diminuir e sufocar” o arbítrio moral. O plano de felicidade do Pai Celestial tem como objetivo facilitar o progresso eterno de Seus filhos, e o arbítrio moral é essencial para este propósito, disse o apóstolo.
Ele definiu o arbítrio moral como “o poder divinamente concebido de ação independente, que nos capacita como filhos de Deus a nos tornarmos agentes para agir e não simplesmente objetos a serem manipulados”. O arbítrio moral não é concedido para que as pessoas façam o que quiserem, disse ele — ele é dado especificamente para que os indivíduos se voltem para fora, amem uns aos outros e escolham seguir a Deus.
Mas a facilidade de uso da inteligência artificial, sua precisão percebida e tempo de resposta rápido podem criar uma influência potencialmente sedutora, viciante e sufocante sobre o exercício do arbítrio moral, disse Élder Bednar. Como esta tecnologia está envolta em credibilidade e promessas de progresso científico, “podemos ser ingenuamente seduzidos a entregarmos nosso precioso arbítrio moral a uma tecnologia que só pode ‘pensar telestialmente’.”
Ele continuou dizendo que a tecnologia artificial não pode simular, imitar ou substituir a influência do Espírito Santo, não importa o quão sofisticada ela se torne. “Se formos sábios, preservarmos e exercermos nosso arbítrio moral para amar a Deus e servir nossos irmãos e irmãs, e tomarmos o Espírito Santo como nosso guia, poderemos evitar o engano e prosperar espiritualmente nos tempos desafiadores e abençoados em que vivemos.”
Trabalho justo
Outro aspecto do plano do Pai Celestial é a necessidade do trabalho em retidão para o progresso espiritual, disse o Élder Bednar. O Pai Celestial e Jesus Cristo são Criadores, e Eles confiaram à humanidade porções de Seu espírito criativo — o que é significativo precisamente porque “constitui uma das expressões máximas de nosso potencial divino.”
Citando o falecido Presidente Thomas S. Monson [em inglês], Élder Bednar enfatizou as “alegrias e glórias da criação”, encontradas no trabalho justo. Por este motivo, uma de suas grandes preocupações é que a dependência excessiva da tecnologia artificial faça com que as pessoas se tornem “espiritualmente preguiçosas e superficiais.”
Por exemplo, disse ele, alguém pode optar por escrever um discurso para a reunião sacramental, ou planejar uma aula da Escola Dominical, usando tecnologia artificial. Em minutos ou até segundos, eles cumpriram sua necessidade imediata, mas abriram mão do processo de aprender por si mesmos, “linha sobre linha, preceito sobre preceito” (2 Néfi 28:30).
“Por favor, lembrem-se sempre de que não devemos vender nosso direito de primogenitura espiritual de conhecer as ‘alegrias e glórias da criação’ por um prato de tecnologia”, disse Élder Bednar.
Reação dos jovens adultos
Após o devocional, jovens adultos compartilharam várias maneiras pelas quais planejam implementar os conselhos de Élder Bednar em suas vidas.
Eliza e Stilman Palmer refletiram sobre como se tornaram mais semelhantes a Deus por meio da diligência e do trabalho árduo. Eliza Palmer disse que espera especialmente ajudar seus filhos pequenos a experimentarem a criatividade. “Quero buscar mais revelação [sobre] como posso criar mais em meu lar.”
Connor McCrea, um estudante de gestão de construção na BYU-Idaho, disse que o discurso de Élder Bednar o fez considerar que, talvez ele tenha se tornado um pouco dependente demais da inteligência artificial enquanto estuda. “Deus nos deu a capacidade de escolhermos por nós mesmos e não [dependermos] demais da tecnologia que temos.”
E Jenny Jaynes, uma estudante de enfermagem da BYU-Idaho, disse que quer fazer melhor uso do tempo que passa com a tecnologia. Em vez de simplesmente rolar a tela do celular, por exemplo, ela poderia postar mais conteúdo relacionado ao evangelho, trazendo uma “perspectiva mais positiva para minha vida e à vida das pessoas ao meu redor.”
