A inteligência artificial (IA) tem despertado grande interesse na área da saúde, com aplicações emergentes em diagnóstico, tratamento e acompanhamento clínico. Na neurocirurgia, um campo de alta complexidade, a IA ainda está em estágio inicial, mas representa uma promessa de avanços significativos. Para entender melhor as possibilidades e limitações da IA na neurocirurgia, o CIDADE CONECTA conversou com o neurocirurgião e cirurgião de coluna Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, mestre em cirurgia pela UFMG, e com ampla formação internacional em neurocirurgia e procedimentos minimamente invasivos e gestão em saúde.
Qual é o papel da inteligência artificial na neurocirurgia atualmente?
Atualmente, a IA é mais uma promessa do que uma realidade consolidada na neurocirurgia. Ela tem sido estudada principalmente na análise de grandes volumes de dados, como imagens de ressonância magnética e tomografia computadorizada, para auxiliar na detecção precoce de lesões cerebrais e espinhais. Outra área de aplicação é o suporte ao planejamento cirúrgico, com sistemas que podem ajudar na identificação de áreas críticas do cérebro e na avaliação de diferentes abordagens. Porém, a maioria dessas ferramentas ainda está em fase experimental ou de validação clínica.
Quais são as principais contribuições que a IA pode trazer no futuro?
A Inteligência Artificial tem potencial para transformar a neurocirurgia, especialmente em três aspectos: diagnósticos mais precisos, planejamento personalizado de procedimentos e acompanhamento mais detalhado de pacientes. Algoritmos treinados com grandes bases de dados podem identificar padrões em doenças neurológicas, como tumores cerebrais ou doenças degenerativas, ajudando a definir tratamentos mais eficazes. Além disso, a integração da IA com tecnologias como realidade aumentada pode trazer maior precisão às cirurgias, reduzindo riscos e melhorando os desfechos clínicos.
Quais os principais desafios para a implementação da Inteligência Artificial na prática clínica?
Os desafios são significativos. Primeiro, é necessário um grande volume de dados de alta qualidade para treinar algoritmos, o que nem sempre está disponível. Além disso, é fundamental validar essas tecnologias em estudos científicos robustos antes de utilizá-las amplamente. Há também questões éticas e regulatórias, como a responsabilidade em caso de erros e o impacto da automação no papel dos profissionais de saúde. Finalmente, é preciso investir na infraestrutura tecnológica e na formação dos profissionais para que possam usar essas ferramentas de forma eficaz e segura.
Como os neurocirurgiões podem se preparar para essas mudanças?
Os profissionais devem buscar entender os fundamentos da IA, participando de cursos e congressos que abordam o tema. Colaborações interdisciplinares entre médicos, engenheiros e cientistas de dados serão cada vez mais importantes. Além disso, é essencial adotar uma postura crítica, avaliando as evidências científicas antes de incorporar novas tecnologias à prática clínica.
No contexto atual, quais são as limitações da Inteligência Artificial?
A IA não substitui a experiência e o julgamento clínico do neurocirurgião. Ela pode oferecer suporte ao processo decisório, mas a interpretação dos dados e a aplicação no contexto do paciente continuam sendo responsabilidades do médico. Além disso, a variabilidade dos sistemas de saúde em termos de recursos e infraestrutura dificulta a implementação universal dessas tecnologias.
Podemos dizer que a IA já está presente na neurocirurgia brasileira?
Algumas instituições de referência no Brasil já utilizam ferramentas baseadas em IA, especialmente em estudos clínicos e na análise de imagens. No entanto, a aplicação prática ainda é limitada, principalmente devido à necessidade de validação científica e às barreiras de infraestrutura. Com investimentos adequados, há grande potencial para expansão no futuro.