À medida que as eleições municipais se aproximam, o cenário político brasileiro enfrenta desafios relacionados ao uso de inteligência artificial (IA) e deepfakes, tanto para favorecer ou prejudicar algum candidato.
Em entrevista exclusiva ao GPS|Brasília, o advogado Newton Dias, especialista em combate às fake news em campanhas eleitorais e uma das referências no Direito Digital no Brasil, fez um alerta sobre os perigos que essas tecnologias representam para a democracia e para o resultado das urnas.
Dias enfatiza que a evolução da IA, atualmente, “beira a perfeição”, tornando extremamente difícil identificar se um vídeo é real ou manipulado. “Hoje, é tecnicamente impossível, diante da velocidade da internet, estabelecer se o vídeo é real ou não”, afirma. Ele também critica a falta de um debate mais aprofundado sobre o tema, considerando que “negligenciaram a discussão dessa questão, e agora é tarde demais”.
Para o advogado baiano, a necessidade de união entre os candidatos é crucial para enfrentar essa nova realidade. “Todos os candidatos, pelo menos nesse sentido, deveriam se unir”, defende Dias, ressaltando que conteúdos pejorativos ou de caráter duvidoso devem ser removidos das plataformas para proteger tanto a integridade das campanhas quanto as vidas pessoais envolvidas.
Segundo ele, o avanço tecnológico para as redes sociais trouxe um novo nível de “profissionalismo” para a criação de fake news, com a IA sendo uma ferramenta central nesse processo.
“O profissionalismo da fake news é a inteligência artificial. O profissionalismo da inteligência artificial é o deepfake“, afirma.
Vídeos falsos
Segundo ele, com investimentos relativamente baixos, é possível criar vídeos praticamente perfeitos, capazes de destruir não só uma candidatura, mas a vida de uma pessoa.
Dias também compara o impacto da IA na política a uma arma de destruição em massa. “A IA é igual a bomba atômica, não foi criada para destruir, mas o homem ressignificou pela destruição”.
O especialista expressa preocupação com a falta de preparação das autoridades brasileiras para lidar com essa nova realidade, apontando que “nos Estados Unidos, democratas e republicanos abordaram esse tema abertamente, me causa estranheza no Brasil, os candidatos não terem se unido para abordar essa questão”, enfatiza.
Em relação às recentes medidas adotadas pela Justiça Eleitoral, que determinam que os candidatos declarem oficialmente quando uma publicação é criada a partir de inteligência artificial, Dias é cético.
Ele considera a medida insuficiente, pois a determinação se baseia apenas na boa fé dos candidatos e apoiadores.
“O amadorismo na Justiça Eleitoral é evidente, porque aqueles que usam a IA com má fé não vão declarar que o vídeo é feito por inteligência artificial”, alerta.
Com uma longa trajetória de conquistas no Direito Digital, Newton Dias ressalta que o profissional da área deve estar sempre um passo à frente das inovações tecnológicas.
“Na verdade, quem vive do Direito Digital não tem que viver a realidade, tem que prospectar o futuro”, conclui.