A rápida ascensão da inteligência artificial chinesa DeepSeek tem gerado preocupação entre especialistas, que alertam para os riscos de desinformação e o possível uso dos dados dos usuários pelo governo chinês. Enquanto a plataforma se torna uma das mais baixadas no Reino Unido e nos Estados Unidos, autoridades já monitoram possíveis ameaças à segurança nacional. As informações são do The Guardian.
A DeepSeek surpreendeu o setor ao demonstrar desempenho comparável a plataformas estabelecidas, como o ChatGPT, mas com um custo reduzido. O crescimento acelerado da IA refletiu no mercado financeiro, impactando o índice de tecnologia dos EUA, que perdeu US$ 1 trilhão nesta semana. O presidente Donald Trump classificou o fenômeno como um “chamado para despertar” para as empresas do setor.
A plataforma, desenvolvida na China, é de código aberto, permitindo que desenvolvedores adaptem seu funcionamento para diferentes finalidades. Esse avanço levanta expectativas sobre uma nova onda de inovação em inteligência artificial, desafiando o domínio de empresas norte-americanas que dependem de altos investimentos em chips e data centers.
Preocupações com privacidade e censura
Michael Wooldridge, professor de fundamentos da IA na Universidade de Oxford, destacou que o governo chinês pode acessar os dados inseridos na DeepSeek. “Não vejo problema em usá-la para discutir temas triviais, mas jamais colocaria informações sensíveis, pessoais ou privadas. Você não sabe para onde esses dados vão”, afirmou.
Dame Wendy Hall, integrante do comitê consultivo de IA das Nações Unidas, reforçou que empresas de tecnologia chinesas estão sujeitas às regras do governo do país. “Não se pode ignorar que, ao lidar com informações, elas precisam seguir diretrizes do governo chinês sobre o que podem ou não divulgar.”
Usuários testando a DeepSeek observaram que a plataforma evita responder perguntas sobre temas sensíveis, como o massacre da Praça da Paz Celestial, e repete a posição oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) ao afirmar que Taiwan é uma parte “inalienável” da China.
Ross Burley, cofundador do Centre for Information Resilience, alertou para os riscos do uso da IA sem regulamentação. “Pequim já demonstrou como arma sua tecnologia para vigilância e controle. Se não for monitorado, esse tipo de ferramenta pode impulsionar campanhas de desinformação e minar a confiança pública.”
Riscos à segurança
A DeepSeek, sediada em Hangzhou, mantém os dados dos usuários em servidores localizados na China. Sua política de privacidade afirma que as informações coletadas podem ser usadas para cumprir obrigações legais, atender ao interesse público ou proteger usuários e terceiros. A legislação chinesa de inteligência exige que empresas e cidadãos colaborem com os esforços do governo na área.
O secretário de tecnologia do Reino Unido, Peter Kyle, declarou que as pessoas devem decidir por si mesmas se querem usar a IA, mas alertou que o modelo possui censura embutida. “Ele não oferece a mesma liberdade de outros sistemas. Mas, naturalmente, as pessoas vão querer testá-lo.”