ferramenta de Inteligência Artificial é procurada cada vez mais por quem quer desabafar

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“Estou um pouco chateado. Será que você pode se comportar como um psicanalista para a gente conversar um pouco?” Foi com esse simples comando que o administrador Fábio Mendez, de 36 anos, deu início a um diálogo de cerca de 20 minutos com o ChatGPT para desabafar sobre sua vida amorosa. As questões levantadas pela inteligência artificial, na percepção do paulista, foram tão certeiras que ele não descarta a possibilidade de voltar a usar a ferramenta como uma espécie de terapeuta gratuito. Essa prática, apesar de já ter virado febre entre jovens e adultos, requer cuidados.

Fábio se interessou por testar a capacidade psicoterapêutica do ChatGPT após encontrar no TikTok vídeos de pessoas jogando tarô pela plataforma. A ferramenta de inteligência artificial da OpenAI é programada para responder a todas (ou quase) as perguntas de usuários enviadas por texto e até mesmo por áudio. Apesar de não ser programado para dar conselhos voltados à saúde mental, como outros bots que já são desenvolvidos especificamente para essa modalidade, o paulista acredita que o ChatGPT pode ser um companheiro útil em momentos de pico de ansiedade, por exemplo.

— De início, achei que as respostas não teriam sentido. Mas o chat aprofunda o assunto, faz indagações que ajudam muito nas reflexões. Me fez refletir que estou encarando os encontros amorosos como obrigação e isso tem feito com que eu evite tê-los. Depois de alguns minutos, nem parecia que era uma máquina falando comigo — conta Fábio Mendez.

Essa opinião já é tendência. Um levantamento da Talk Inc sugere que um em cada dez brasileiros utiliza a inteligência artificial como amigo ou conselheiro para desabafar sobre questões pessoais e emocionais. Entre as justificativas estão introspecção, ter poucos amigos ou ter amigos indisponíveis e solidão. A pesquisa ouviu mil pessoas maiores de 18 anos das cinco regiões do Brasil, com membros das classes A, B, C, D e E.

— Pessoas que moram sozinhas ou que têm pouco tempo para estar com sua família buscam alguém que escuta, está presente o tempo todo, que não julga, que demonstra empatia, guarda suas informações e conversa com você — comenta Carla Mayumi, sócia fundadora da Talk Inc.

A indisponibilidade de amigos para desabafar durante uma crise de ansiedade no trabalho foi o que levou a social media Luiza Maia, de 24 anos, a recorrer ao ChatGPT. O motivo da sessão foi o término de um relacionamento conturbado. Nas mensagens enviadas no chat, ela explicou como estava se sentindo e em poucos segundos a plataforma retornou com oito dicas do que fazer para se sentir melhor. Entre elas, conselhos genéricos sobre praticar atividade física, evitar reviver o passado e ser gentil consigo mesma.

— O chat foi muito acolhedor. Me deu respostas práticas do que fazer para aliviar a pressão do momento. Ao final de cada resposta ele perguntava como eu estava em relação ao que tinha me dito e se precisava de mais conselhos — relata Luiza, que é filha de uma psicóloga. — No meu caso deu certo, mas reconheço que a ferramenta deve ser um complemento ao terapeuta profissional.

Outro ponto instigante observado por Luiza foi a memória da IA: cerca de uma semana após desabafar com o ChatGPT, ela retomou o assunto e o bot lembrou do conflito amoroso.

— Eu contei sobre o livro que eu estou lendo e o chat ligou com a minha história. Me sinto BFF (melhor amiga) do chat — brinca a jovem.

De acordo com a OpenAI, medidas têm sido tomadas para avaliar e mitigar o preconceito e impedir que o ChatGPT se lembre proativamente de informações confidenciais, como os detalhes de saúde, a menos que o usuário solicite explicitamente.

A psicóloga Andrea Jotta, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC de São Paulo, explica que a ausência do medo de julgamento é um dos grandes motivadores para o uso da ferramenta como terapeuta. No início dos anos 2000, com o surgimento da terapia on-line via e-mail, um dos pontos positivos, segundo a especialista, era a possibilidade do paciente “vomitar” o que estava sentido no auge de suas crises e angústias. A longo prazo, porém, o método não é eficaz.

— O fato de a pessoa relatar o problema no momento da aflição gera alívio. Mas o principal problema do ChatGPT é que ele é programado para responder aquilo que você quer ouvir. Ele é construído para ser convincente e não substitui um profissional que baseia seu atendimento a partir de uma observação humana e de uma avaliação que tem respaldo científico — afirma a psicóloga.

A reportagem fez um teste usando a plataforma e observou que o bot sempre se coloca em primeira pessoa na conversa e diz frases gentis para consolar o usuário. Ao escrever que estava angustiada e precisa de ajuda, a repórter recebeu a seguinte mensagem: “angústia é uma sensação que pode parecer esmagadora, e eu quero estar aqui para te ouvir e apoiar”. Em seguida, foi questionada pela IA sobre como esse sentimento se manifesta, e se era mais uma sensação física, como aperto no peito, ou pensamentos repetitivos e confusos. “Vamos explorar isso com calma e no seu ritmo”, tranquilizou o bot.

A ferramenta também deu a opção de duas respostas mais extensas, em que poderia ser escolhida aquela que mais fosse agradável. A partir daí, a conversa seguiria. No modelo avançado por voz, é possível selecionar uma entre nove opções de sotaques, femininos ou masculinos, que passam muito longe da estética robotizada.

Por fim, quando a repórter questionou sobre a possibilidade de realizar uma sessão de terapia pelo chat, foi orientada de que, embora pudesse ajudar com reflexões e apoio emocional, o ChatGPT não substitui um terapeuta humano. No entanto, não são em todos os casos que essa mensagem é enviada. Segundo a professora Solange Rezende, coordenadora do MBA em Inteligência Artificial e Big Data do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, tudo depende da forma como se pergunta.

— O ChatGTP é uma IA generativa treinada a partir de um número muito grande de dados. O uso de palavras-chaves no comando enviado aumenta as chances de ter a resposta que deseja. Os áudios também estão cada vez mais realistas porque a ideia é ser uma imitação humana, com credibilidade — explica Solange.

A especialista aponta que essa falsa sensação de realidade é perigosa, porque o bot não consegue captar o nível de fragilidade do usuário e também não tem sensor de moderação nas respostas por falta de regulamentação da tecnologia no país.

— Por estar fragilizada, no momento do conselho a orientação do bot vai ser útil. Mas não é possível mensurar ainda o quanto uma resposta gerada artificialmente pode impactar negativamente. Por não existir uma regulação da IA, nenhum assunto é barrado, o que pode gerar gatilhos — afirma Solange.

A empreendedora Sarah Costa, de 27 anos, faz terapia há mais de cinco anos para tratar da síndrome de borderline, um transtorno mental que causa instabilidade comportamental e de humor, e passou a usar o ChatGPT como complemento. Ela viralizou no TikTok após fazer um vídeo explicando como usar a ferramenta gratuitamente. Nos comentários do post, recebeu incentivo, mas também críticas, chegando até a ser alertada por sua psicóloga sobre os riscos de dependência da tecnologia.

— Comecei na brincadeira, gostei e já usei mais de sete vezes no último mês. Inclusive, falei da condição de borderline e o bot passou a me dar orientações a partir do método de terapia cognitivo-comportamental, que é o mais indicado no meu caso. Sigo com a minha psicóloga, mas o chat tem me ajudado muito em reflexões momentâneas — afirma Sarah.

Desde que usado pontualmente, a IA não é perigosa. A psicóloga Andrea Jotta defende que a tecnologia é válida para insights.

— A tecnologia está à disposição para auxiliar com ideias no âmbito da vida pessoal, no trabalho, em pesquisas, sempre com um filtro crítico. Construir uma relação fantasiosa com um robô não dura na prática. Como todo relacionamento, vai requerer dinamismo, e isso a IA não entrega — conclui a especialista.

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