Inteligência artificial e complementaridade – Estadão

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A edição de agosto da pesquisa regional de negócios do Federal Bank (BC dos EUA) de Nova York traz notícias positivas sobre o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho. O levantamento inclui uma seção especial na qual empresas da indústria de transformação (manufaturas) e dos serviços foram consultadas sobre inteligência artificial (IA) e o impacto em sua operação.

A maior parte das empresas reportou que, nos próximos seis meses, o uso de IA fará com que retreinem seu quadro de funcionários, e um número bem menor planeja cortes de pessoal.

Em reação ao uso de IA nos últimos seis meses, no setor de serviços, 10% das empresas ajustaram para baixo seu quadro de pessoal, e 5% aumentaram. Já no setor manufatureiro, não houve mudanças no número de empregados em função da IA.

Nos próximos seis meses, no conjunto de empresas consultadas, há um número maior que prevê aumento de pessoal em função do IA do que aquelas que pretendem reduzir quadros, e cerca de 50% têm intenção de retreinar os funcionários para o uso de IA.

Um artigo dos economistas Jaison R. Abel, Richard Deitz, Natalia Emanuel e Benjamin Hyman no Liberty Street Economics, o blog do Fed de Nova York, comenta a seção especial sobre IA na edição de agosto da pesquisa regional de negócios. Os autores apontam que os resultados do levantamento indicam que estão corretos os argumentos econômicos de quem não enxerga grande risco de desemprego em função da massificação da inteligência artificial, e que em vez disso aponta o potencial da IA em aumentar o emprego e preencher lacunas no mercado de trabalho.

De forma mais específica, entre as firmas consultadas na pesquisa que planejam usar IA no futuro, 19% daquelas no setor de serviços e 7% na indústria da transformação pretendem contratar mais trabalhadores nos próximos seis meses em função do uso do IA. Isso significa uma alta de 14 pontos porcentuais (pp) e de 7pp, respectivamente, na comparação com aquilo que as empresas reportaram nos últimos seis meses. Já em termos de planos de demitir trabalhadores em função do uso futuro de IA, apenas 12% das empresas de serviços e nenhuma do setor de manufaturas indicou essa intenção.

Assim, de acordo com os autores, desenha-se um quadro de contratações líquidas, e não de demissões líquidas, em reação à disseminação da IA nas empresas. Outro ponto notável, acrescentam os economistas, é que os planos de contratação em resposta ao IA referem-se principal a pessoas com apenas o ensino médio completo, o que sugere que a inteligência artificial pode ser uma força favorável ao emprego de pessoas de menor qualificação.

Mas o ponto que mais chamou atenção nos resultados da pesquisa foram os planos de treinamento da mão de obra para a adaptação ao trabalho com inteligência artificial. Os autores consideram impressionante que 53% das empresas de serviços e 47% das manufatureiras consultadas, e que pretendem usar IA no futuro, têm expectativa de retreinar seu quadro de pessoal nos próximos seis meses. Esses números são muito maiores do que os 24% das empresas de serviços e 31% daquelas da indústria da transformação que relataram ter feito esse tipo de retreinamento nos últimos seis meses. No caso do treinamento para a utilização do IA, as empresas miram principalmente os trabalhadores com educação superior.

Evidentemente, a questão do efeito da IA no mercado de trabalho ainda está em aberto, com muitos estudo e levantamentos sendo feitos, e com resultados muito diferenciados.

Em recente artigo no Blog do IBRE, o economista Fernando Veloso, especialista em produtividade, comentou um estudo do FMI que desenvolve uma metodologia para mensurar o grau de complementaridade da IA a postos de trabalho que estejam expostos a ela. A ideia é que, quanto maior a complementaridade, maior a chance de o posto de trabalho ser preservado (com aumento de produtividade do trabalhador), e vice-versa.

Assim, encontra-se que uma proporção maior (60%) dos postos de trabalhos em países desenvolvidos como Estados Unidos e Reino Unido estão expostos à IA, comparado a 40% em nações emergentes como Brasil, Colômbia e África do Sul. Por outro lado, metade da exposição à IA naqueles países ricos é complementar, o que é uma proporção maior do que na média dos emergentes. No final das contas, a proporção de postos de trabalho em risco por conta da IA nos avançados e emergentes acaba se aproximando.

No Brasil, segundo o estudo, dos 40% de postos de trabalho com exposição à IA, metade tem alta complementaridade e a outra metade tem baixa complementaridade. De forma geral, trabalhadores com ensino superior completo são mais expostos à IA, mas seus postos de trabalho também tendem a ter mais complementaridade.

No Brasil, entre os trabalhadores com ensino superior completo, 80% estão expostos à IA e 50% estão em postos com complementaridade. Já para os que têm só ensino médio completo, os mesmos números são de, respectivamente, 60% e 20%.

Veloso aponta que aumentar o potencial de complementaridade entre IA e postos de trabalho deveria se prioridade na política pública dos países. Para isso, é preciso tanto elevar a escolaridade em geral quanto adaptar a formação profissional para o desenvolvimento das habilidades específicas que permitem usar melhor a inteligência artificial.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras. (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast excepcionalmente em 9/9/2024, segunda-feira.

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