A IA pode ser estudada de maneira transversal, aplicada às disciplinas já existentes, explica o educador Bruno Ferreira, coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta
Publicado em 4 de fevereiro de 2025 às 13:02
Não é novidade que a inteligência artificial ocupa um espaço cada vez maior na vida cotidiana de todas as pessoas ao redor do mundo. Do carro solicitado através de um aplicativo às músicas ouvidas em plataformas de streamings, tudo passou a ser controlado através dos algoritmos. Se esta tornou-se uma realidade, é de se esperar que o ser humano aprenda o mais cedo possível sobre ela. Aqui cabe a pergunta: Como deve ser discutida e tratada a inteligência artificial nas escolas? Será que é necessário a criação de uma disciplina específica que prepare crianças e jovens para usufruirem desta ferramenta de forma crítica? >
Bruno Ferreira, coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta, que realiza um trabalho direcionado à educação midiática, afirma que cada rede de ensino tem autonomia para tratar a tecnologia da maneira que achar mais adequada e conveniente. Deste modo, a educação digital pode se desenvolver sob diferentes perspectivas. Uma opção é, de fato, a elaboração de uma disciplina com componentes temáticos específicos de tecnologia, a exemplo do que já ocorre em alguns lugares do Brasil, como a rede estadual de São Paulo, que adotou a disciplina tecnologia e inovação. Já em Minas Gerais, a rede estadual atua hoje com uma disciplina chamada cultura digital, o que também já existe em escolas integrais do Ceará. >
“Essas disciplinas tratam de questões tecnológicas, digitais e também de inteligência artificial. Foi uma escolha dessas redes tratarem sobre as tecnologias e não só sobre a inteligência artificial, no contexto de uma disciplina nova”, comenta Bruno Ferreira. >
De acordo com o educador, é preciso observar que, apesar de ser bastante relevante e de estar promovendo transformações significativas, a inteligência artificial é mais uma ferramenta entre as tecnologias e como tal precisa ser encarada como um facilitador da vida. >
Transversalidade
“Como tecnologia na educação, nós entendemos que ela deve ser incorporada ao dia a dia das práticas pedagógicas e das atividades acadêmicas dos estudantes, em todas as disciplina”, ressalta. Antes de pensar em criar mais componente na grade curricular, é válido entender os objetivos para isso. Um estudo voltada às tecnologias vai propor aos estudantes uma reflexão sobre as particularidades e o funcionamento desse arsenal; porém, ao trazer essa avaliação para outras áreas do conhecimento, a abordagem passa ser sobre os efeitos dessas tecnologias no segmento específico, favorecendo a aprendizagem relacionada à formação básica dos estudantes.>
Se o objetivo é preparar os jovens cada vez mais para lidar com novas ferramentas e inteligência artificial de modo crítico na vida prática, uma das iniciativas é entender este letramento sobre algoritmos como parte de um conjunto de habilidades para lidar com informação de maneira transversal. Então quando se pensa no âmbito da escola e no desenvolvimento do pensamento crítico, estamos falando em fomentar a pesquisa e a investigação por parte dos alunos. >
Exemplos
Eles devem fazer isso dentro das disciplinas existentes. Em ciência ou história, podem observar os efeitos da disseminação de propaganda ou desinformação por meio de personalização algorítmica. Na área de artes ou ciências sociais, podem pesquisar de que maneira imagens produzidas a partir da lA reforçam e disseminam questões como racismo, capacitismo e desigualdades de gênero. >
Em linguagens, vale ser estudado o impacto das deepfakes no ecossistema informacional e no jornalismo. E quando se pensa em números, na disciplina matemática, os estudantes ganham a chance de questionar, por exemplo, estatísticas nos bancos de dados que alimentam mecanismos preditivos, ou seja, análises que identificam padrões que possam indicar comportamentos futuros. >
A proposta é incentivar essas pesquisas para que estudantes desenvolvam a capacidade de problematizar o funcionamento dos algoritmos e perceberem como isso influencia em suas buscas na internet, colaborando para seus processos de aprendizagem e desenvolvimento de maior discernimento. >