O Universo continua em expansĂŁo, mas este fenĂŽmeno pode estar desacelerando, segundo os primeiros resultados de uma pesquisa astronĂŽmica internacional. Os primeiros sinais desta descoberta foram identificados pelo Instrumento de Espectroscopia da Energia Escura (DESI, na sigla em inglĂȘs), instalado em um telescĂłpio do observatĂłrio americano Kitt Peak.
O instrumento Ă© equipado com 5.000 fibras Ăłpticas robĂłticas finas, cada uma delas observa uma galĂĄxia durante 20 minutos, o que permite calcular posteriormente, com um espectrĂłgrafo, a sua distĂąncia e, portanto, a idade do Universo quando emitiu sua luz.
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“Medimos a posição das galĂĄxias no espaço e tambĂ©m no tempo, jĂĄ que quanto mais distantes estĂŁo, mais retrocedemos no tempo, em direção a um Universo cada vez mais jovem”, explica Arnaud de Mattia, do Comissariado de Energia AtĂŽmica (CEA) francĂȘs, que co-lidera o grupo de interpretação de dados cosmolĂłgicos.
ApĂłs um ano, o DESI, um projeto colaborativo de 70 instituiçÔes internacionais liderado pelo LaboratĂłrio Berkeley, nos Estados Unidos, jĂĄ havia mapeado seis milhĂ”es de fontes de luz, galĂĄxias e quasares, que representam os Ășltimos 11 bilhĂ”es de anos da histĂłria do Universo.
Nesta quinta-feira (4), uma conferĂȘncia na SuĂça e uma nos EUA anunciaram estes primeiros resultados, antes de uma sĂ©rie de artigos cientĂficos no Journal of Cosmology and Astroarticle Physics.
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O objetivo principal do DESI é ajudar a compreender a natureza da energia escura, um elemento teórico supostamente responsåvel pela aceleração da expansão do Universo.
Esta energia escura seria a força que aumenta a distùncia entre os aglomerados de galåxias, como se o espaço que os separa não parasse de se expandir.
No modelo cosmolĂłgico padrĂŁo, o Universo observĂĄvel Ă© composto por 5% de matĂ©ria bariĂŽnica â ou comum â, 25% de matĂ©ria escura hipotĂ©tica fria e 70% de energia escura.
Hå mais de um século, os cientistas sabem que o Universo começou a se expandir após o Big Bang, hå 13,8 bilhÔes de anos. Mas recentemente, astrÎnomos descobriram que esta expansão acelerou significativamente hå cerca de 6 bilhÔes de anos.
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Enquanto as matĂ©rias bariĂŽnica e escura retardam o seu aumento, a energia escura estĂĄ acelerando. E claramente esta Ășltima possui vantagem, de acordo com o modelo chamado Lambda-CDM, sendo Lambda a constante cosmolĂłgica relacionada Ă energia escura.
“AtĂ© agora vemos que os dados correspondem ao nosso melhor modelo do Universo, mas tambĂ©m vemos algumas diferenças potencialmente interessantes, que podem indicar que esta energia escura evoluiu ao longo do tempo”, disse Michael Levi, diretor do projeto internacional DESI, citado em comunicado do LaboratĂłrio Berkeley do Departamento de Energia dos Estados Unidos.
Em outras palavras, “os dados do DESI parecem mostrar que a constante cosmolĂłgica Lambda nĂŁo seria realmente uma constante”, uma vez que a energia escura teria um “comportamento dinĂąmico” dependendo dos perĂodos considerados, afirmou Arnaud de Mattia.
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Isto pode sugerir que, apĂłs acelerar seis bilhĂ”es de anos apĂłs o Big Bang, esta velocidade pode ter “desacelerado nos Ășltimos tempos”, segundo o fĂsico do CEA, Christophe Yeche.
O cenĂĄrio de oscilação da energia escura ao longo do tempo ainda deve ser confirmado com mais dados do DESI e de outros instrumentos. Mas se esta desaceleração se confirmar, terĂamos que repensar a ideia de Universo com base no comportamento errĂĄtico da constante da energia escura.
Por exemplo, substituindo a constante cosmolĂłgica por um campo de força relacionado a uma partĂcula, ainda a ser identificada. Ou mesmo modificando as equaçÔes da relatividade em geral, “para que se comportem de forma ligeiramente diferente na escala das grandes estruturas”, segundo de Mattia.
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Ainda nĂŁo foi necessĂĄrio realizar estas mudanças, uma vez que, segundo o investigador, a histĂłria da ciĂȘncia mostra casos “em que vimos desvios deste tipo que foram resolvidos ao longo do tempo”.
Afinal, mais de cem anos após sua formulação, a teoria da relatividade geral ainda funciona perfeitamente.
Veja fotos das galĂĄxias espirais registradas pelo telescĂłpio James Webb
Veja fotos das galĂĄxias espirais registradas pelo telescĂłpio James Webb
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