Na corrida da Inteligência Artificial a Europa avançou “muito pouco, quase nada” – Ciência & Saúde

Na corrida da Inteligência Artificial a Europa avançou "muito pouco, quase nada" - Ciência & Saúde

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Quando assumiu a presidência dos EUA, Donald Trump prometeu um plano de 500 mil milhões de dólares para a inteligência artificial, num projeto batizado como Stargate. Poucos dias depois o mundo foi apresentado ao DeepSeek, o modelo de inteligência artificial chinesa que causou o pânico sobre o potencial do gigante asiático neste campo da tecnologia. E o que tem a União Europeia (UE) a apresentar neste campo? “Muito pouco, quase nada”, diagnosticam os especialistas no tema. Mas ainda há tempo para recuperar o atraso, desde que haja também vontade, acrescentam. 



Na corrida da Inteligência Artificial a Europa avançou "muito pouco, quase nada" - Ciência & Saúde



Getty Images

O diagnóstico é pessimista para a UE. Numa comparação com uma corrida, os especialistas afirmam que China e Estados Unidos estão taco a taco a disputar um primeiro lugar e a Europa ainda está a calçar os sapatos de corrida. Esta é a opinião de Luís Paulo Reis, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial, que tem passado os últimos anos a avisar para a necessidade da UE investir nesta tecnologia que vai trazer grandes mudanças ao mundo. 

Nos últimos anos muitos líderes europeus têm apontado a IA como um potencial ponto de viragem para a Europa e a comissária Europeia para a Soberania Tecnológica, Henna Virkkunen, disse mesmo que quer a Europa como o “continente da IA”, mas a inação neste campo a nível comunitário tem sido motivo de atraso. “Promessas vagas não nos fazem recuperar relativamente à China e aos EUA que já gastam milhares de milhões há muitos anos”, defende Luís Paulo Reis, incitando a investimentos sérios e um olhar atento ao que se está a fazer por toda a Europa. 

Custo e investimento

No seu anúncio de 500 mil milhões (o valor foi desmentido por Elon Musk pouco depois), Trump prometeu a construção de infraestruturas que iriam assegurar a dominância dos Estados Unidos no campo da inteligência artificial nos próximos anos. Já o modelo de IA da DeepSeek revelado na semana passada, o R1, referiu que consegue competir com a OpenAI e o seu ChatGPT, e com um investimento muito menor.

Por sua vez, a Comissão Europeia (CE) selecionou sete projetos para receberem fundos para construir supercomputadores otimizados para IA e para serem usados por startups e investigadores para treinar os modelos de IA. O valor do investimento é de 1,5 mil milhões (metade vindo do orçamento comunitário e a outra metade dos estados-membros).

E olhando para as grandes empresas de IA, não há nenhuma europeia que se possa dizer estar na dianteira da inovação ou sequer da capacidade de operar. E esta ausência dificulta o desenvolvimento de novas tecnologias que dependem da IA. As principais empresas europeias em IA são, neste momento, a francesa Mistral e a alemã Aleph Alpha, existindo ainda outras pequenas empresas que têm vindo a desenvolver trabalho neste campo, mas sem a dimensão das concorrentes norte-americanas ou chinesas.

Porém, o advento da DeepSeek acendeu uma centelha de esperança, já que provou que é possível desenvolver um sistema complexo e potente por uma fração do preço (alegadamente, seis milhões de dólares).

João Castro, professor da Nova SBE, destaca a nova informação veiculada pelo DeepSeek R1: “Isto vem mostrar que se calhar não é preciso assim tanto dinheiro para fazer modelos poderosos e que a dominância dos Estados Unidos neste campo não é tão inatacável quanto se podia pensar”.

Mas se pode ser um abrir de olhos para a UE, os Estados Unidos não deixaram de ficar em sentido. Donald Trump assegurou que é uma “chamada de atenção” para o setor norte-americano. Luís Paulo Reis reconhece que a DeepSeek mostra que é possível ter modelos de IA de alta qualidade e eficientes sem ser preciso investir milhares de milhões e alerta ainda para outro ponto: “A DeepSeek é uma empresa de 2023, o que mostra que um ano e meio pode chegar para desenvolver e treinar um modelo potente”. E isto são boas notícias para o bloco mais atrasado. 

Luís Paulo Reis reforça a necessidade de investir em IA o mais rapidamente possível, sublinhando que na lista dos 100 melhores modelos de IA (medidos pela Chatbot Arena) não aparece uma única empresa europeia, sendo a sua maioria modelos chineses ou americanos. “A Europa tem de criar condições para a investigação a nível universitário que permita desenvolvimentos reais nesta área”, defende o professor universitário.

Já Pedro Santa Clara, professor catedrático e fundador da escola de programação 42, diz que a aposta deve ser diferente. “Não tem, nem deve ser a União Europeia a investir nestes projetos, porque sabemos que quando o estado tenta investir nestes projetos falha muitas vezes. O que a UE tem de fazer é criar condições para que nasçam projetos ambiciosos, para que as empresas sintam vontade de investir.”

Ainda assim, Santa Clara desafia também a UE a promover a criação de grandes universidades tecnológicas que possam competir com as melhores universidades norte-americanas, “que têm vindo a perder qualidade nos últimos anos devido às medidas de diversidade, equidade e inclusão”. 

João Castro é também da opinião que “deve haver um investimento na investigação fundamental que só tem espaço na academia”. “As empresas têm sempre horizontes mais curtos porque precisam de um retorno aos seus investimentos de forma sustentada, enquanto a academia tem mais tempo para desenvolver a sua atividade e criar bases mais fortes”.

A UE ainda vai a tempo

“As coisas vão sempre a tempo de se alterar”, assegura Pedro Santa Clara. “O que é preciso é que haja ambição por parte dos privados e que a UE crie condições para que as empresas consigam perseguir essa ambição por cá. Porque o que temos visto são as grandes empresas criadas na Europa a migrarem para os EUA para terem melhores condições.”

Luís Paulo Reis é da opinião que há tempo para a Europa chegar ao nível dos EUA e da China, recordando que a DeepSeek criou, desenvolveu e lançou o seu modelo em cerca de 18 meses. “E como é um sistema em open source e o seu lançamento foi acompanhado de relatórios científicos detalhados, pode dar pistas para novas empresas desenvolverem outros sistemas que possam competir”, acrescenta o presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial.

“Não faltam empresas europeias muito boas mas que são compradas numa fase muito embrionária. Ou bons investigadores nas universidades que têm excelentes departamentos, mas que são esvaziados pela indústria que tem capacidade de dar salários cinco, seis, dez vezes mais elevados”, sintetiza Luís Paulo Reis. “Mas é a investir na academia que vamos conseguir criar mais e melhores modelos”, acredita no entanto o professor universitário, desafiando as grandes empresas a investirem nos laboratórios universitários, com o futuro no horizonte.

Preocupações com a DeepSeek

Apesar das notícias que o aparecimento do modelo da DeepSeek trouxe, vieram também as preocupações com a segurança. A adoção de modelos como este tem sido alvo de dúvidas sobre proteção de dados, temendo que possam estar a alimentar o governo chinês.

É exatamente essa falta de preocupação com a proteção de dados que, de acordo com Luís Paulo Reis, um dos motivos que permite a este modelo ser tão eficiente. “Não existem mecanismos de proteção de dados, têm bases de dados gigantescas à sua disposição e são uma autocracia com capacidade de projetos gigantescos que são decididos de um dia para o outro”, sintetiza o professor universitário, reconhecendo que na Europa seria impossível apressar os processos como se faz na China, devido à legislação.

“A China e os Estados Unidos avançam com mais voracidade neste campo. A Europa tem avançado de forma mais cautelosa, com mais cuidado. Mas não quer dizer que não consiga avançar”, conclui João Castro.

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