Bárbara Sacchitiello
12 de janeiro de 2025 – 12h56
A inteligência artificial não só está no centro de todos os debates e painéis que compõem a programação da NRF 2025 como foi escolhida para ser o assunto de abertura da 115ª edição do maior encontro de varejistas do mundo – e representada pela sua principal expoente na atualidade.
Azita Marting, general manager de retail da Nvidia, participou da abertura do evento para falar sobre como a IA pode transformar o varejo (Crédito: Divulgação)
Na manhã deste domingo, 12, John Furner, presidente e CEO do Walmart nos Estados Unidos e também presidente da National Retail Federation, organizadora do evento, abriu os trabalhos da edição de 2025 da feira e congresso ao lado de Azita Martin, vice presidente de retail e general manager de retail e CPG da Nvidia, empresa especializada em soluções de Inteligência Artificial e tecnologia, atualmente avaliada em mais de US$ 3,3 trilhões – o que a coloca em uma disputa acirrada com Apple e Microsoft pelo título de companhia mais valiosa do mundo.
Furner começou a conversa com Azita pedindo uma explicação mais resumida a respeito do que a Nvidia faz. Afinal, muitas pessoas ouviram falar da companhia pela primeira vez nas notícias que destacaram a ascensão de mercado da empresa e como ela, rapidamente, passou a figurar entre as mais valiosas do mundo.
Azita ingressou na Nvidia há seis anos e meio e viu, de dentro, como a empresa alcançou esse patamar. Ela explicou que a companhia é dedicada à produzir chips e multiprocessadores de computação visual e inteligência artificial. O impulso nos negócios aconteceu pelo fato de que, nos últimos anos, a evolução da IA generativa permitiu que modelos de linguagem mais sofisticados pudessem criar soluções até então inimagináveis.
“Fazemos uma combinação entre hardware e software para fornecer processadores e soluções que basicamente consigam ajudar as empresas a melhor realizarem suas atividades”, resumiu Azita. Esse “ajudar”, basicamente, incluiu trabalhar para grandes clientes globais, como o próprio Walmart, para o qual a Nvidia desenvolveu uma tecnologia preditiva de giro de estoques, baseado em um modelo que estuda milhares de combinações, a partir das movimentações de consumo e dos dados da companhia, para tentar, basicamente, fazer com que a varejista consiga planejar seu estoque de forma mais inteligente.
Tarefas de máquinas
Ao longo da conversa, a porta-voz da área de varejo da Nvidia falou sobre alguns dos lançamentos que a companhia está promovendo, sobretudo para o segmento de varejo.
Uma delas, chamada de Mega, foi apresentada semana passada na CES, em Las Vegas, e propõe uma nova arquitetura de treinamentos de sistemas robóticos específicos para armazéns, fábricas e operações logísticas de grandes varejistas. Azita exibiu um vídeo em que a companhia mostra como é importante, por exemplo, que os movimentos de empilhadeiras em um centro de distribuição sejam coordenados para garantir a otimização de diversas etapas do processo. E, quando se trata de empresas com atuação em diferentes países, coordenar esse aparelhamento robótico passa a ser mais um desafio.
“Com implementações de sistemas cada vez mais complexos de autonomia de sensores e robôs, é necessário treinamento coordenado em simulação para otimizar as operações, ajudar a garantir a segurança e evitar interrupções”, comentou Azita.
Outros simuladores e programas criadas pela companhia também visam determinar quais atividades podem ser desempenhadas de forma mais simples pela IA generativa, permitindo que as pessoas se foquem em temas e soluções mais criativas e específicas. A Blueprint, por exemplo, é uma ferramenta de auxílio de compras, para lojas físicas e digitais, que alimenta assistentes digitais para funcionarem como uma espécie de assistentes de vendedores humanos, fornecendo informações altamente especializadas de forma direta e rápida.
Diante de tantas possibilidades de utilização de ferramentas de IA, o presidente da NRF perguntou o que Azita diria sobretudo aos jovens trabalhadores da indústria de varejo que se encontram meio perdidos nesse cenário. “Eu diria que, em vez de ficarem sentados pensando coisas como ‘será que tenho essa habilidade’ ou ‘será que sou capaz de fazer isso’, simplesmente comecem a utilizar [a IA]. Não conseguimos crescer ou aprender se não tivermos novas experiências. É preciso sair da nossa zona de conforto e não se intimidar. Antes, a gente se perguntava, por exemplo, se o chat GPT tiraria nosso emprego. Ele não fará isso, mas uma pessoa que sabe usar IA generativa, sim”, declarou.
Para além da IA, o ser-humano
John Furner falou que o varjeo tem papel social, para além dos negócios (Crédito: Bárbara Sacchitiello)
Antes de convidar ao palco a representante da Nvidia e colocar a inteligência artificial no centro das atenções do evento, o presidente da NRF também falou sobre a função humana do varejo. Furner destacou os incêndios que estão devastando diversas regiões da Califórnia nos últimos dias e lembrou que, para além das vendas e negócios, a função dos varejistas é auxiliar comunidades e pessoas.
“Tivemos um ano de 2024 com resultados que superaram as expectativas e gostaria de dizer a vocês que teremos um cenário tranquilo este ano, mas estamos diante de muitos desafios, como a inflação persistente, taxas de juros elevadas, questões geopolíticas e crise climática. Esse ano teremos ainda mais incertezas e é muito importante que todos nós ajudemos a construir histórias para o bem. O varejo desempenha um papel econômico e social muito valioso para as comunidades. Vemos isso desde quando, por exemplo, disponibilizamos nossos espaços para abrigar pessoas que foram afetadas por furacões, no ano passado. Essa é a função da indústria, para além dos negócios, estar presente e apoiar as pessoas que precisam”, destacou.
