As ações das empresas de tecnologia despencaram ontem nos EUA por causa de uma ferramenta chamada DeepSeek, criada pela startup chinesa homônima, com sede em Hangzhou.
Ela superou o famoso ChatGPT, da OpenAI, em downloads, tornando-se o app mais baixado globalmente, e provocou dúvidas no Vale do Silício sobre a liderança dos Estados Unidos em IA.
O modelo de IA do aplicativo é considerado fortemente competitivo com as últimas ferramentas lançadas pela OpenAI e pela Meta. A DeepSeek diz ter gasto apenas US$ 5,6 milhões (R$ 33 milhões) para desenvolver seu modelo, uma quantia irrisória em comparação aos bilhões de dólares investidos pelas gigantes americanas.
Mas o que o app tem de diferencial?
O DeepSeek, ferramenta de inteligência artificial (IA) generativa criada pela startup chinesa de mesmo nome, está disponível gratuitamente no Brasil, tem recursos similares aos do ChatGPT, “fala” português e pode ser acessado pelo navegador.
O serviço é gratuito e não há limite de mensagens que podem ser trocadas com o robô. Além de português, chinês e inglês, o sistema está disponível em 69 idiomas, incluindo espanhol, alemão, coreano, croata, francês e esloveno.
A estratégia da startup de oferecer um modelo de IA tão potente quanto os de rivais, de forma aberta ou a custos significativamente menores, gerou alerta na indústria americana. Outro diferencial da DeepSeek está no orçamento envolvido no desenvolvimento de sua IA, significativamente menor que o de concorrentes.
Uma das vantagens competitivas da empresa, fundada em 2023, é ter precisado de menos recursos computacionais para criação de um modelo que é competitivo com os da OpenAI, Meta e Google.
Como acessar a ferramenta?
Interagir e pedir tarefas para o DeepSeek é tão simples como usar o ChatGPT, Meta IA ou Gemini. A IA pode ser acessada pelo computador, no navegador, ou baixada nas lojas de aplicativo da Apple (iOS) e Google (Android).
Ao abrir a plataforma, o usuário precisa fazer um login de acesso. A primeira página é igual às dos concorrentes. Uma caixa de texto convida o usuário a escrever com a pergunta: “Como posso te ajudar hoje?” Além de conversar com a IA por texto, o usuário pode enviar documentos e imagens, e fazer perguntas com base nos arquivos.
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Mas, diferentemente do ChatGPT, a ferramenta ainda não tem o recurso de interação por voz. Ao receber a resposta, o usuário pode pedir ajustes e fazer perguntas adicionais pela caixa de texto ou clicar em um botão abaixo do texto para que ele seja refeito. Também é possível avaliar o conteúdos, por meio de um botão de “positivo” e “negativo”.
O modelo disponibilizado pela startup no chatbot gratuito é o DeepSeek-V3, que é como o “cérebro” por trás do sistema de inteligência artificial. Lançado em dezembro de 2024, o V3 pode superar o modelo usado no ChatGPT, o GPT-4o, em determinadas tarefas, como aquelas que envolvam raciocínio em programação.
O sistema da OpenAI, no entanto, apresenta melhores resultados em parâmetros como perguntas simples de interpretação.
O que a plataforma pode fazer
Assim como outros sistemas similares de IA, a ferramenta da DeepSeek pode reescrever textos, responder a perguntas sobre tópicos variados, resumir documentos, fazer contas de matemática e revistar códigos de programação, entre outras tarefas.
Da mesma forma que o ChatGPT, a ferramenta traz informações de buscas na internet. Para ativar o recurso, o usuário precisa acionar a aba “Search” (“busca” em inglês). Nesse modo, a IA responde com base em textos que coleta on-line, incluindo sobre acontecimentos recentes.
Além do recurso de buscas, o usuário pode optar por fazer perguntas que usem o DeepSeek R1, um modelo da startup que é voltado para resolver problemas complexos, como cálculos matemáticos e tarefas de programação. Essa opção também fica abaixo da caixa de texto.
Não está livre de ‘alucinações’
Como as concorrentes, a assistente chinesa também pode “alucinar”, ou seja, trazer de forma convincente alguma informação incorreta. Abaixo da caixa de texto, o chatbot alerta que o conteúdo é gerado por inteligência artificial e deve ser usado “apenas como referência”.
Nos termos de serviço, a startup alerta que as respostas “podem conter erros ou omissões”:
“Especificamente, ao usar este serviço para consultar sobre questões médicas, legais, financeiras ou outras questões profissionais, esteja ciente de que este serviço não constitui nenhum aconselhamento ou compromisso e não representa as opiniões de nenhum campo profissional. Se você precisar dos serviços profissionais relacionados, deve consultar profissionais e tomar decisões sob sua orientação”, ressalta o texto.
O usuário deve ficar atento também ao compartilhamento de dados e informações sensíveis. A política de privacidade da ferramenta indica que além de dados como e-mail, nome e endereço de IP, a IA coleta informações compartilhadas pelos usuários.
De acordo com a startup, as informações são compartilhadas inclusive para publicidade e análise.
Há casos, ainda, que os dados inseridos pelos usuários são compartilhados com governos: “Podemos acessar, preservar e compartilhar as informações descritas em ‘Quais Informações Coletamos’ com autoridades públicas e policiais, detentores de direitos autorais ou outros terceiros, se acreditarmos de boa-fé que isso é necessário para cumprir a lei.”
— O usuário deve tomar cuidado em relação a absolutamente qualquer tipo de IA — diz Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação — Ou seja, ter cuidado com a privacidade dos dados, não fazer compartilhamento de dados sensíveis, como documentos corporativos.
Com agências internacionais