Para CEO da Engie, data centers no Nordeste brasileiro são ganha-ganha

CEO da Engie Brasil, Mauricio Bahr

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Rio de Janeiro* – Chips avançados e grandes modelos de linguagem, o software que é a base do ChatGPT, só se transformam na inteligência artificial que conhecemos com uma quantidade descomunal de eletricidade.

Com a demanda pela IA aparecendo por toda a parte, o Brasil tem em mãos uma oportunidade ímpar de abrigar os enormes data centers que são o motor dessa transformação tecnológica – e o Nordeste seria um lugar ideal para instalá-los, diz o presidente da Engie Brasil, Mauricio Bahr.

Bastante vocal pelo fim dos descontos para fontes renováveis pelo uso do fio de transmissão, Bahr argumenta que os incentivos deveriam migrar para a ponta da demanda. 

“Muita energia é gerada onde não há o consumo, que é o Nordeste, e precisamos construir linhas de transmissão para escoar essa energia para onde está o consumo, no Sudeste”, afirmou o executivo em entrevista ao Reset durante o Engie Day, que ocorreu na quarta-feira, 18. 

Para “reordenar o setor elétrico”, diz Bahr, a energia que tem sido gerada em excesso – e derrubado os preços – precisaria encontrar consumidores. 

“Uma opção é atrair para a região Nordeste indústrias que usem essa energia renovável. Poderíamos inovar com a atração de data centers, que são grandes consumidores de energia. Você equilibraria o setor e faria também com que houvesse desenvolvimento econômico no Nordeste.”

Do lado das big techs, o consumo de eletricidade renovável atenuaria a pegada climática deixada pelos gigantes processadores de dados. Uma simples pergunta para o ChatGPT consome cerca 10 vezes mais energia do que a mesma dúvida para o Google, estima o Goldman Sachs. 

Já o Morgan Stanley projeta que, ao redor do globo, os data centers emitam 2,5 bilhões de toneladas de CO2 até o fim da década – o equivalente às emissões anuais de todo o Brasil. Com a pressão por estratégias de descarbonização, a corrida do Vale do Silício pela compra de créditos de carbono não é à toa. 

Até agosto, o Brasil havia registrado 22 projetos para instalação de data centers, na conta do Ministério de Minas e Energia (MME). Os pedidos de acesso à rede de transmissão foram feitos nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. A projeção para a demanda de energia para essas instalações triplicou entre maio e o mês passado, de 2,5 GW para 9 GW até 2035. 

Um dos focos da Engie tem sido a expansão do seu portfólio de geração. Hoje, a francesa tem capacidade instalada própria de 10 GW em todo o Brasil – sendo 1,7 GW no Nordeste, entre projetos em construção e operantes. 

A companhia tem a meta de zerar suas emissões de carbono até 2030. Nos escopos 1 e 2, de emissões diretas e indiretas, a Engie já alcançou seu objetivo, após ter concluído as vendas de usinas à carvão e passou a ter geração 100% renovável. Como de costume, o desafio permanece no escopo 3, de emissões indiretas. 

Confira os principais trechos da entrevista:

A Engie planeja investir R$ 14 bilhões no Brasil até 2026. Como esses recursos devem ser alocados?

O nosso plano de investimentos contempla o que estamos fazendo hoje, que usa cerca de R$ 7 bilhões, e o desejo que temos por outros projetos, como os leilões de transmissão nos quais devemos entrar.

Há três projetos em implementação: dois de geração renovável, sendo um na Bahia e outro no Rio Grande do Norte, e um de transmissão entre Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais.

No nível global, o grupo tem o objetivo de alcançar 80 GW em capacidade de geração renovável [até 2030], e estamos na metade disso. Há três anos, começamos a desenvolver projetos que representassem 3 GW por ano, depois 4 GW por ano – fase na qual estamos agora – e, a partir do ano que vem, serão 6 GW por ano. Essa é a nossa contribuição para a transição energética.

Como esses investimentos serão feitos?

Isso ainda não posso antecipar. Os investimentos são globais e, obviamente, o Brasil representa uma grande parte deles. Recentemente, por exemplo, fizemos uma aquisição de projetos de energia solar de 540 MW, o Projeto Cruzeiro.

Dão descartamos fazer novas aquisições nem projetos greenfield (iniciados do zero). Estes últimos são menos interessantes agora, porque o Brasil está com sobreoferta de energia. A gente está vivendo um momento complexo de regulação desequilibrada, desbalanceada, em que a gente tem subsídios para determinadas fontes que não necessitam mais deles, que acabam distorcendo as tarifas para os consumidores cativos. 

Estamos olhando. Ora vamos investir em projetos greenfield, ora em aquisições.

Recentemente, o chamado ‘jabuti da GD’ (de geração solar distribuída) foi incluído no PL do Combustível do Futuro no Senado, mas não passou na Câmara. Há quem ainda defenda a existência desses subsídios. Como o senhor vê essa divisão no setor?

Acho que não existe mais necessidade. O remédio em excesso acaba virando veneno. O Brasil já passou da fase de ter que estimular essas energias renováveis sem a tarifa de transmissão. Hoje, isso está causando uma distorção.

Nós chamamos de subsídio, mas quem paga a conta não é o governo, mas sim o consumidor cativo. 

Precisamos estancar essa sangria e reordenar o setor elétrico de forma que essa energia em excesso seja consumida. Uma opção é atrair para a região Nordeste novos consumidores, indústrias que usem essa energia renovável. É esse o estímulo que deveríamos estar fazendo, associado ao término do subsídio. 

Poderíamos, por exemplo, inovar com a atração de data centers, que são grandes consumidores de energia. Você equilibraria o setor e faria também com que houvesse desenvolvimento econômico no Nordeste.

Essa atração da indústria para o Nordeste conversa com os planos para a produção de hidrogênio verde.

Sim, essa é outra forma de consumir essa energia renovável lá. O único ponto é que precisamos usar esse hidrogênio verde. O ideal é agregando valor a produtos no Brasil, para exportação.

Outra forma interessante de consumir esse excesso de energia seria interligando mais os países da América Latina que hoje são muito pouco conectados entre si. Nós poderíamos ter uma maior diversidade [de fontes] e ajudaríamos os países vizinhos a se descarbonizar e ter mais segurança energética.

Sobre a diversidade de fontes, tem crescido no Brasil o interesse na geração de energia a partir de biomassa e de biogás. Qual o apetite da Engie nessas frentes?

Essa é uma área interessante. Na Europa, já fazemos isso com mais intensidade, porque lá existe uma rede de gasodutos capaz de receber esse biogás. Mas, no Brasil, essa rede ainda é muito pequena em comparação ao tamanho do país. Temos basicamente a Transportadora Gasoduto Brasil-Bolívia, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) e a Transportadora Associada de Gás [TAG, na qual a Engie Brasil e a Engie S.A. têm, juntas, 50% da participação]. São os três gasodutos principais e estão concentrados na costa.

O Brasil  é um país agrícola, com produção de biomassa, e tem a questão dos lixões e aterros sanitários [onde o biogás também pode ser produzido]. Mas essa fonte ainda é incipiente, vai dar muito trabalho pela frente e não é uma prioridade para nós no momento. 

A Engie Brasil tem a meta de ser net zero até 2030. As emissões de carbono nos escopos 1 e 2 já foram zeradas, mas o 3 ainda é um desafio. Vocês investem, por exemplo, na TAG. Qual o papel do gás na estratégia da Engie? 

O gás é um combustível de transição energética. No Brasil, ele tem um papel importante, porque ainda tem pouco uso e pode substituir muitos combustíveis mais poluentes. 

Nós, na Engie, não exploramos gás nem comercializamos. O que fazemos é apenas o transporte para viabilizar que determinadas fontes possam utilizar esse combustível. Há uma previsão de que, se o Brasil trocasse o óleo combustível e o coque em algumas indústrias por gás, teríamos um acréscimo no consumo desse combustível na casa de 70 milhões de m³ por dia, enquanto estaríamos descarbonizando a matriz energética.

Nós não sabemos qual será a duração dessa transição. Olhando para o futuro e pensando no caráter transitório do gás, como ficam os investimentos nesse combustível?

O gás natural também é finito e, daqui a pouco, vai dar lugar ao biogás e a outras fontes renováveis. Esses investimentos [que fazemos] não vão ser abandonados. Os gasodutos vão continuar sendo necessários e eles vão passar a transportar outras coisas. Talvez biometano, biogás ou hidrogênio. Essa é a nossa visão de longo prazo. 

Cada país tem o gás na sua transição energética num prazo diferente. Talvez no Brasil ela ainda tenha um prazo maior do que em outros países porque a gente tem que abandonar alguns combustíveis que são queimados hoje, como são o óleo pesado e o diesel, o que fará com que a transição seja um pouco mais lenta. Mas tem um mérito enorme de se transformar em gás ainda esse consumo, essa transformação industrial.

Pensando ainda na descarbonização, nos últimos anos, vocês trabalharam bastante para sair do carvão.  Por que a Engie decidiu vender as usinas de Jorge Lacerda e Pampa Sul, e não descomissioná-las ou convertê-las em gás natural como foi proposto por alguns investidores?

O carvão no Brasil é praticamente marginal, muito pequeno comparado à matriz elétrica brasileira. Se você pensar, hoje mais de 90% da energia do país vem de fontes renováveis.

Com a exploração das minas de carvão, há um projeto mais social de empregabilidade daquela região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É um projeto que tem suas datas definidas, mas que tem um papel ainda a cumprir dentro da descarbonização brasileira. É pequeno, mas tem uma importância local e social importante, por essa razão, decidimos vender e não descomissionar.

Uma das críticas na época da negociação foi justamente que, ao vender e não converter, a Engie estaria se eximindo da responsabilidade de capacitar funcionários para uma economia mais verde. Além disso, as emissões de carbono continuam acontecendo, já que a usina segue funcionando, e a obrigatoriedade de transparência diminuiu, uma vez que os compradores não são uma empresa de capital aberto como a Engie. Como vocês receberam essas críticas?

Nós fizemos a venda para investidores que tinham o compromisso de ter uma jornada de descarbonização no médio prazo compatível com a política do governo brasileiro. Não vejo isso como algo com o objetivo de fazer nada específico. 

Foi, na verdade, uma atividade que nós decidimos abandonar, mas era importante para a política nacional que alguém assumisse o nosso papel, e teria que ser alguém com responsabilidade para levar isso a cabo.

Nós não estamos nos eximindo de nada. Existem cláusulas que nos obrigam ainda a determinadas coisas. Com certeza foram vendas responsáveis, não foram vendas para fazer qualquer tipo de greenwashing.

*A repórter viajou a convite da Engie

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