No outono passado, Sam Altman, CEO da OpenAI, perguntou a seu homólogo na Microsoft, Satya Nadella, se a gigante de tecnologia investiria bilhões de dólares na startup, criadora do chatbot ChatGPT. A Microsoft já havia injetado US$ 13 bilhões na OpenAI, e Nadella estava inicialmente disposto a continuar fornecendo mais recursos financeiros.
No entanto, após o Conselho de Administração da OpenAI afastar brevemente Altman em novembro passado, Nadella e a Microsoft reconsideraram, de acordo com quatro fontes familiarizadas com as negociações que falaram sob condição de anonimato.
Nos meses seguintes, a Microsoft não cedeu, enquanto a OpenAI, que espera perder US$ 5 bilhões este ano, continuava pedindo mais dinheiro e mais poder de computação para construir e operar seus sistemas de inteligência artificial.
Altman uma vez chamou a parceria da OpenAI com a Microsoft de “o melhor ‘bromance’ da tecnologia”, mas os laços entre as empresas começaram a se desgastar.
Pressões financeiras sobre a OpenAI, preocupações com sua estabilidade e divergências entre funcionários das duas empresas tornaram tensa essa parceria de cinco anos, de acordo com entrevistas com 19 pessoas familiarizadas com o relacionamento entre as companhias.
Essa tensão demonstra um desafio fundamental para as startups de inteligência artificial: elas dependem das gigantes tecnológicas globais para obter dinheiro e poder computacional, porque essas grandes empresas controlam os vastos sistemas de computação em nuvem que as pequenas empresas precisam para desenvolver IA.
Dependência
Nenhuma parceria ilustra melhor essa dinâmica do que Microsoft e OpenAI. Quando a OpenAI recebeu seu grande investimento da Microsoft, concordou com um acordo exclusivo para comprar poder de computação da Microsoft e trabalhar de perto com a gigante da tecnologia em novas ferramentas de IA.
“Somos profundamente gratos por nossa parceria com a Microsoft; a grande aposta que fizeram em nós no início e os vastos recursos computacionais que nos forneceram foram essenciais para nossos avanços de pesquisa, beneficiando enormemente ambas as empresas”, disse Altman em um comunicado na quinta-feira. “Estamos empolgados e comprometidos em continuar perseguindo nossa visão compartilhada e alcançar ainda maiores feitos juntos por muito tempo no futuro.”
No último ano, a OpenAI tem tentado renegociar o acordo para garantir mais poder de computação e reduzir despesas pesadas, enquanto os executivos da Microsoft têm se preocupado que seu trabalho em IA esteja muito dependente da empresa de Sam Altman. Nadella disse em particular que o afastamento de Altman em novembro o chocou e preocupou, de acordo com cinco fontes.
Desde então, a Microsoft começou a se resguardar em relação à OpenAI. “Continuamos investindo na OpenAI em muitos pontos distintos da parceria”, disse Kevin Scott, diretor de tecnologia da Microsoft, em uma entrevista recente. “Certamente somos o maior investidor de capital deles.”
No entanto, em março, a Microsoft pagou pelo menos US$ 650 milhões para contratar a maioria da equipe da Inflection, uma concorrente da OpenAI. O ex-CEO e cofundador da Inflection, Mustafa Suleyman, lidera um novo grupo da Microsoft que está trabalhando para desenvolver tecnologias de IA para consumidores com base no software da OpenAI.
Ele também é o principal responsável pelo esforço de longo prazo da Microsoft de desenvolver tecnologias que possam substituir o que a empresa obtém da OpenAI, de acordo com duas pessoas familiarizadas com os planos da Microsoft.
— A Microsoft pode ficar para trás se estiver usando apenas as tecnologias da OpenAI — disse Gil Luria, analista do banco de investimentos D.A. Davidson. — É uma verdadeira corrida — e a OpenAI pode não vencê-la.
Alguns executivos e funcionários da OpenAI, incluindo Altman, estão irritados com o fato de Suleyman estar na Microsoft, de acordo com cinco pessoas familiarizadas com o relacionamento entre as duas empresas.
A equipe de Suleyman faz parte de um grupo de engenheiros da Microsoft que trabalha diretamente com funcionários da OpenAI. Dezenas de engenheiros da Microsoft trabalham nos escritórios da OpenAI em São Francisco e usam laptops fornecidos pela criadora do ChatGPT, configurados para manter os protocolos de segurança da startup.
Recentemente, alguns funcionários da OpenAI reclamaram que Suleyman gritou com um funcionário da startup durante uma videoconferência recente porque ele achava que a startup não estava entregando novas tecnologias à Microsoft tão rapidamente quanto deveria, de acordo com fontes. Outros se ofenderam depois que os engenheiros da Microsoft baixaram um importante software da OpenAI sem seguir os protocolos acordados entre as duas empresas, disseram as pessoas.
O New York Times processou a OpenAI e a Microsoft em dezembro, alegando que elas infringiram os direitos autorais do Times ao treinar sistemas de IA.
Situação complicada
Depois que a Microsoft se afastou das discussões sobre financiamento adicional, a OpenAI ficou em uma situação complicada. Ela precisava de mais dinheiro para manter suas operações e seus executivos se incomodavam com a exclusividade do contrato.
No último ano, a empresa de IA tentou repetidamente negociar para reduzir os custos e permitir que comprasse poder computacional de outras empresas, de acordo com sete pessoas familiarizadas com as discussões.
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Em junho, a Microsoft concordou com uma exceção no contrato, segundo fontes. Isso permitiu que a OpenAI assinasse um contrato de aproximadamente US$ 10 bilhões com a Oracle para recursos computacionais adicionais, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o acordo. A Oracle está fornecendo computadores com chips adequados para desenvolver IA, enquanto a Microsoft fornece o software que impulsiona o hardware.
Nas últimas semanas, a OpenAI e a Microsoft negociaram uma alteração em um contrato futuro que reduz quanto a Microsoft cobrará da startup pelo poder computacional, embora os termos exatos não fossem claros, segundo uma pessoa familiarizada com a mudança.
Enquanto buscava alternativas de poder computacional, a OpenAI também correu para ampliar seus investidores, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o plano da empresa.
Parte do plano era garantir investimentos estratégicos de organizações que pudessem fortalecer as perspectivas da OpenAI de maneiras além de apenas injetar dinheiro. Essas organizações incluíam a Apple, a fabricante de chips Nvidia e a MGX, uma firma de investimentos em tecnologia controlada pelos Emirados Árabes Unidos.
Possível parceria com a Apple
Altman e a OpenAI vinham discutindo possíveis parcerias com a Apple há anos. Em 2022, enquanto a OpenAI desenvolvia as tecnologias que impulsionariam o ChatGPT, Altman e Kevin Scott, diretor de tecnologia da Microsoft, se reuniram com executivos da Apple para explorar maneiras de as três empresas trabalharem juntas, de acordo com duas pessoas familiarizadas com a reunião. Esse encontro acabou levando a Apple a concordar em colocar o ChatGPT no iPhone no início deste ano.
A Nvidia era uma parceira importante porque projetava os chips de computador que a OpenAI precisava para construir suas tecnologias de IA. A MGX fazia parte de um esforço ambicioso da OpenAI para construir novos centros de dados ao redor do mundo.
No início deste mês, a OpenAI concluiu uma rodada de financiamento de US$ 6,6 bilhões liderada pela Thrive Capital, com participação adicional da Nvidia, MGX e outros. A Apple não investiu, mas a Microsoft também participou da rodada de financiamento.
A OpenAI esperava gastar pelo menos US$ 5,4 bilhões em custos computacionais até o fim de 2024, de acordo com documentos revisados pelo The New York Times. Esse valor deveria disparar nos próximos cinco anos, alcançando cerca de US$ 37,5 bilhões em custos anuais de computação até 2029, mostraram os documentos.
Não está claro como as recentes mudanças na parceria entre a OpenAI e a Microsoft afetarão essa trajetória, mas os executivos da Microsoft ficaram satisfeitos com as mudanças, de acordo com uma pessoa familiarizada com a estratégia da empresa. A gigante da tecnologia pode continuar a se beneficiar das tecnologias em aprimoramento da OpenAI, enquanto a startup continua pagando à Microsoft por uma quantidade substancial de poder computacional.
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