A Google decidiu remover um anúncio divulgado no início dos Jogos Paris-2024, que mostrava como o seu modelo de inteligência artificial (IA) pode ajudar as crianças a escrever cartas aos seus ídolos, e que indignou muitos telespetadores.
“A publicidade recebeu um bom feedback durante os testes upstream, mas decidimos, face às reações, removê-la dos nossos anúncios ligados aos Jogos Olímpicos”, confirmou, na sexta-feira, à agência France-Presse (AFP), um porta-voz do grupo norte-americano.
O anúncio mostrava um pai a contar a paixão da filha pela corrida e a sua adoração pela atleta norte-americana Sydney McLaughlin-Levrone, rainha dos 400 metros barreiras.
De seguida, chama Gemini, o modelo generativo de IA da Google, para escrever uma carta: “Gemini, ajuda a minha filha a escrever uma carta para dizer a Sydney como ela é uma inspiração. E não te esqueças de mencionar que a minha filha pretende bater um dia o seu recorde mundial”.
Nas redes sociais surgiram comentários a criticar a gigante tecnológica por não incentivar as crianças a serem criativas.
“É exatamente isso que não queremos que as pessoas façam com a IA”, realçou Shelly Palmer, professora de comunicação na Universidade de Syracuse (nordeste dos Estados Unidos).
“O pai do vídeo não incentiva a filha a aprender a expressar-se. Em vez de a orientar a usar as suas próprias palavras (…), ensina-a a confiar na IA para esta capacidade humana essencial”, defendeu.
Contactada pela AFP, a Google respondeu na terça-feira: “Acreditamos que a IA pode ser uma grande ferramenta para melhorar a criatividade humana, mas que nunca poderá substituí-la”.
O porta-voz esclareceu que o objetivo era mostrar como o Gemini pode servir como “ponto de partida”.
No YouTube, os comentários no anúncio publicitário foram desativados.
Desde o avanço do ChatGPT (OpenAI), as gigantes tecnológicas têm implementado aplicações de alta velocidade que possibilitam a geração de textos, imagens e outros conteúdos de elevada qualidade, mediante utilização de linguagem do dia-a-dia.
O crescimento desta tecnologia entusiasma muitos utilizadores. Mas também incomoda muitos profissionais, nomeadamente professores, preocupados em ensinar certas competências essenciais, e artistas, que acusam as empresas de terem ‘saqueado’ as suas obras para formar modelos de IA.
Em maio, a Apple pediu desculpa depois de um anúncio do seu novo iPad Pro, mostrando todo o tipo de objetos que representam a criatividade humana esmagados e substituídos pelo tablet, ter irritado muitos artistas.