Os impactos mais visíveis da inteligência artificial no mercado imobiliário tratam da eficiência no processo de comercialização, por meio de atendimentos de chatbots, marketing direcionado, criação automática na descrição de imóveis ou pela capacidade de acelerar processos burocráticos ainda bastante demandantes e analógicos.
Mas há mudanças ainda mais significativas ao longo das etapas anteriores no desenvolvimento de um produto imobiliário, processos provavelmente menos conhecidos do público geral. E, neste caso, o que se espera é uma revolução: maior customização, alto potencial de valorização e aumento de liquidez.
A transformação começa pela matéria-prima do setor: o terreno. O incremento na capacidade de tratar bases de dados robustas torna a decisão sobre potenciais projetos imobiliários extremamente fundamentada.
O direcionamento passa a levar em conta um conjunto extremamente rico de informações, cruzando dados como legislação e zoneamento, lançamentos e tendências por região, perfil e comportamento populacional, previsão de demanda, mobilidade urbana e até mesmo cálculos de probabilidade de catástrofes naturais.
O resultado é uma alta precisão na análise de preços, estoque e liquidez. Os gestores imobiliários terão a capacidade de otimizar cada vez mais seus portfólios e melhorar a leitura do contexto.
Parte desse processo já é realidade. As proptechs, plataformas imobiliárias que têm se destacado no contexto digital, vêm revolucionando o mercado ao criar seus próprios modelos de avaliação automática (AVMs).
Por meio da combinação de grandes volumes de dados com uma modelagem matemática avançada, garantem maior previsibilidade e segurança sobre a transação, reduzindo o tempo que o produto permanece ofertado e aproximando as expectativas de valores do comprador e do vendedor.
Um exemplo é a Zillow, nos Estados Unidos. A empresa foi pioneira no uso dessa tecnologia ao fornecer previsões de preços em tempo real. Fundada em 2006 por Rich Barton, ex-funcionário da Microsoft, a proptech tem como grande diferencial a capacidade de transacionar imóveis com grande rapidez e ter uma média de apenas 2% de diferença entre preço de anúncio e preço de transação.
No passado recente, a avaliação de um imóvel dependia exclusivamente da experiência subjetiva de alguns players, que se baseavam majoritariamente em fatores como localização, tamanho do imóvel e condições do mercado. Mesmo com excelentes equipes de análise, o desenvolvedor imobiliário não podia contar com esse nível de precisão.
Outro campo em que a inteligência artificial tem revelado o seu poder transformador é na chamada arquitetura generativa, em que designs podem ser feitos instantaneamente por computadores. A criação de projetos arquitetônicos sempre foi um processo artesanal. Cada escolha representava um fator de acréscimo ou redução no custo final do produto.
A arquitetura generativa tem revolucionado o processo em termos de eficiência, ao combinar as premissas paramétricas com a inteligência artificial para criar inúmeras soluções de design e implantação praticamente em tempo real. Isso significa que um projeto pode ser adaptado e repensado a qualquer momento, sem custos adicionais, respeitando as limitações legais, as condições específicas de cada terreno e de acordo com as necessidades do usuário do imóvel.
Essa tecnologia já começa a ser utilizada para elaborar projetos de diferentes portes. Inicialmente vem sendo aplicada em produtos de tipologias modulares e replicáveis, como galpões logísticos, data centers ou até mesmo residenciais populares. Mas, em breve, espera-se que alcance qualquer tipo de incorporação.
A consequência será um mercado que consegue personalizar e dar escala ao mesmo tempo, garantindo as premissas arquitetônicas desejadas e com o volume necessário para a sustentabilidade do negócio.
O futuro do setor imobiliário tem características que não passavam pela cabeça de quem acompanha o setor há pouquíssimo tempo – e o principal fator de influência no novo cenário tem nome: inteligência artificial.