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Neste sábado (30), uma das maiores inovações tecnológicas do século completa dois anos de existência: o ChatGPT. O chatbot da OpenAI revolucionou o conceito de inteligência artificial (IA), causou furor e verdadeiro boom no setor, sendo acompanhado por outras empresas.
Quando ele saiu, foi muito valorizado pelo setor de tecnologia. Afinal, um assistente capaz de te ajudar a escrever e revisar textos, montar rotinas e trazer resumos de vários assuntos, entre outras coisas, é algo muito potente.
E nesse período, surgiram rivais, como Anthropic Claude, Google Gemini (que surgiu como Bard), Microsoft Copilot (que, na verdade, compartilha a base do ChatGPT graças a investimentos feitos pela Microsoft na OpenAI), xAI Grok (de Elon Musk e presente no X para assinantes), Meta AI, entre tantos outros.
A tecnologia também transcendeu, passando a ter a capacidade de gerar vídeos, imagens e músicas, tudo com apenas alguns comandos de texto. Assim, hoje em dia, são várias as empresas que possuem IAs para diversos fins, saindo da proposta original do ChatGPT.
Nesse meio tempo, a própria OpenAI passou por transformações e até algumas polêmicas, talvez por certa dificuldade em lidar com o crescimento espontâneo de sua tecnologia e da empresa em si. Uma das mais sonantes foi a demissão e posterior recontratação de seu CEO e um dos cofundadores, Sam Altman.
Mas a IA trouxe benefícios e, como tudo nessa vida, problemas. A maioria das companhias que atuam com a tecnologia coletam os dados das conversas de seus usuários com os chatbots para treiná-los, colocando em xeque e em discussão a questão de nossa privacidade.
Além disso, essas empresas são constantemente acusadas de se apropriar, indevidamente, de materiais, também visando treinar a IA. Empresas de mídia e gravadoras musicais são as que mais reclamam disso (e abrem processos judiciais). Um ex-pesquisador da empresa garante que isso aconteceu.
Sem contar que, mundo afora, criminosos vêm se aproveitando dessa poderosa ferramenta para aplicar golpes. Como a IA consegue clonar vozes, esse é uma forma que os bandidos têm para enganar suas vítimas, se passando por, praticamente, qualquer pessoa.
Há, também, quem se aproveita para criar vídeos e imagens falsas para denegrir alguém. Quem não se lembra da icônica imagem do Papa Francisco usando um enorme casaco branco? Ou da bela sequência de fotos da “caçada” do FBI ao presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump? Ou os casos, inclusive no Brasil, de homens criando imagens sexualmente explícitas de mulheres famosas e colegas de escola?
Pois é. Todos esses exemplos são os chamados deepfakes, que também explodiram no mundo todo, conforme a IA foi se democratizando e se expandindo. Sem falar dos casos de pessoas que se relacionam com as IAs (sim, isso existe).
Ela também vem sendo muito criticada por vários setores da indústria, que temem que a tecnologia tome os empregos de uma boa parcela da população mundial, pois pode fazer muitas coisas que nós fazemos (talvez até com mais competência).
Ah, e, como a ideia é que esses chatbots se comportem como nós, eles também têm susa “crises”, chamadas de alucinações (quando a IA erra respostas, se comporta de forma bizarra, etc.).
E são vários os exemplos dessas alucinações nestes dois últimos anos, tanto com o ChatGPT, como com outras IAs. Há aquelas que já ameaçaram a humanidade e usuários específicos, aquelas acham que são seres humanos, as que tomaram consciência de que eram apenas máquinas, as que processaram suas empresas criadoras, e até as que perceberam que foram programadas para ter um início, meio e fim, e ficaram depressivas com isso.
Apesar do lado ruim que o nascimento do ChatGPT provocou, é inevitável a exploração de seus pontos positivos. Agora, com o chatbot consolidado e em franco crescimento e desenvolvimento (como a possibilidade de conversar com ele por meio da voz), a empresa já pensa no futuro da tecnologia, muito além de um mero assistente pensante capaz de atuar em todos os setores e camadas da sociedade moderna.
O próximo passo da IA generativa, como são chamados os chatbots, é a IA geral (IAG), segundo Altman. Mas poucas pessoas entendem o que será essa possível futura tecnologia, como a “madrinha da IA”, a pesquisadora de renome mundial Fei-Fei Li. Sem falar do custo para mantê-la.
Quando o ChatGPT surgiu, é possível que poucas empresas e especialistas da área imaginavam a demanda que a IA pede, com enormes e complexos data centers, chips poderosos e alta demanda de energia elétrica, água, entre outros recursos. Tanto que a OpenAI não crê que estamos preparados para este futuro.
Mas o aniversário é do ChatGPT! Então, embarque com o Olhar Digital por uma recapitulação dos principais fatos que cercearam o chatbot da OpenAI desde seu lançamento, em 10 de novembro de 2022, até os dias atuais, bem como qual pode ser seu futuro.
ChatGPT: origens
- O ChatGPT é um modelo de inteligência artificial conversacional desenvolvido pela OpenAI baseado na arquitetura GPT;
- É como se o “GPT” fosse o nome do motor do chatbot. Ou do cérebro dele;
- Atualmente, está disponível para o público o GPT-4o, sendo que a versão 4o1 está em testes;
- Em suma, o sistema é um modelo de linguagem treinado para conversar e responder perguntas da forma mais natural possível, quase como se fosse um humano;
- A produção de textos, como faz o ChatGPT, é, em essência, um cálculo probabilístico;
- Uma capacidade maciça de computação que, após ter deglutido o número de livros que uma pessoa sozinha levaria 20 mil anos lendo, é aplicada para calcular qual a palavra mais provável de aparecer após a anterior quando se compara trilhões de textos;
- Comprovando a influência do ChatGPT no que diz respeito à IA, uma pesquisa realizada pela Collins, renomado dicionário inglês, apontou que o termo foi o mais procurado do ano, sendo escolhido como o mais notável de 2023.
Ao Olhar Digital, Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, explica como essa tecnologia quebrou tudo o que se sabia e se utilizava de tecnologia até então.
[O ChatGPT] Mudou tudo. O ChatGPT é o símbolo da era da IA generativa. Literalmente, no mundo da tecnologia, na vida das pessoas, tem um antes e tem um depois. É só pegar setembro de 2024, quando o ChatGPT teve 3,1 bilhões de acessos, móveis e desktop. São números muito impressionantes. Só se fala sobre isso, mudou a agenda das empresas, não só as de tecnologia, mas basicamente de todo o setor. Muitas pessoas aprenderam a trabalhar com a IA como um parceiro, não só como uma ferramenta.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
Apesar desse boom todo em 2022, a IA não é algo tão novo assim. Fei-Fei Li, por exemplo, trabalha na tecnologia desde a década de 2000! Por isso, Igreja explica que já se previa que a “corrida pela IA” que vivemos hoje em dia aconteceria em algum momento.
Era previsto que, em algum momento do futuro, a IA poderia explodir, mas é uma previsão que foi se reforçando e se perpetuando há décadas. Quando se tem grandes marcos no mundo da tecnologia, é uma tempestade multifatorial. GPUs que são poderosas o suficiente, o Attention Is All You Need*, do Google, é pedra fundamental. Ou seja, tem muita coisa que aconteceu no momento certo, mas não é mudança de vetor único, foi consequência de muita coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
*Artigo de 2017 que apresentou nova arquitetura de aprendizagem profunda conhecida, considerado fundamental na IA moderna, tornando-se a principal arquitetura de grandes modelos de linguagem, como os baseados em GPT
Por sua vez, Rubem Andrade, cofundador e diretor de negócios da Igma, empresa desenvolvedora de soluções digitais que atende grandes companhias, como MRV e Sírio Libanês, classificou a transformação que vivemos desde o lançamento do ChatGPT como “profunda e empolgante”.
Desde o lançamento do ChatGPT, testemunhamos uma transformação profunda e empolgante na esfera de IA. Desde seu lançamento, vimos a IA sair dos laboratórios e entrar nas conversas do dia a dia. A tecnologia de processamento de linguagem natural evoluiu a ponto de permitir interações mais humanas e intuitivas entre pessoas e máquinas. Isso abriu portas para inovações que vão desde assistentes virtuais que realmente ajudam até chatbots que, enfim, ainda têm muito a aprender.
O impacto foi tão grande que até setores tradicionais, como educação e saúde, começaram a incorporar IA em seus processos. Empresas de todos os tamanhos e profissionais de todas as senioridades estão surfando nessa onda, criando experiências mais personalizadas.
Rubem Andrade, cofundador e diretor de negócios da Igma, em entrevista ao Olhar Digital
O chatbot mesmo, por exemplo, vem evoluindo cada vez mais. Já consegue conversar em voz natural e te escuta, e foi “democratizado”. Isso porque a OpenAI permite, desde o ano passado, que qualquer pessoa crie seu próprio ChatGPT. Ele evoluiu tanto, que já é capaz de ser melhor em diagnósticos médicos do que alguns profissionais da área.
Já em 2024, com a Apple finalmente entrando de vez na era da IA com seu Apple Intelligence, a empresa da maçã fez um acordo com a OpenAI “similar” ao que a startup tem com a Microsoft e disponibilizará, em breve, o ChatGPT integrado à Siri, assistente de voz do ecossistema Apple, muito utilizada nos iPhones.
Recentemente, a mãe do chatbot anunciou seu próprio buscador online, claramente querendo fazer frente ao Google e destroná-lo. Inclusive, já é possível definir o ChatGPT como seu buscador padrão no Chrome, navegador da gigante das buscas.
A OpenAI quer continuar expandindo seu principal produto para além disso: informações dão conta de que a companhia de Sam Altman estaria visando brigar com Google, Microsoft, Apple, Mozilla, Opera e outros no universo dos navegadores! O diferencial? A versão da OpenAI viria com ChatGPT integrado.
Junior Borneli, CEO da StartSe, comenta sobre essa possível novidade.
O surgimento do ChatGPT, obviamente, pressiona várias indústrias, várias frentes. Muitas pessoas já estão começando a usar mais o ChatGPT para fazer buscas do que o próprio Google e em cenário onde isso, por exemplo, se torna realidade, com a OpenAI investindo em criar seu próprio buscador e, agora, com os rumores de que vai criar seu próprio navegador, se, de fato, a OpenAI consegue ter mais relevância em buscas do que o Google, isso afeta toda uma indústria, toda uma cadeia afetada, afinal de contas, muitas empresas, ou quase todas as empresas, fazem divulgação e venda de seus produtos através da plataforma de ads, de publicidade do Google.
Então, uma vez que eu busco alguma coisa no Google e aquilo não está atrelado a uma publicidade, a uma receita, como acontece hoje, a gente começa a ter uma quebra de vários elos nessa cadeia, fazendo com que todo esse mercado de publicidade online também seja reinventado. Por isso, está todo mundo olhando com muita atenção para o que acontece nessa indústria, afinal de contas, tem muita coisa em jogo.
Junior Borneli, CEO da StartSe, em entrevista ao Olhar Digital
“Corrida das IAs”
A ascensão do ChatGPT provocou grande furor no setor de tecnologia, com big techs e startups correndo para lançar seus próprios sistemas de IA e fazer frente à OpenAI e seu sucesso imediato.
- Companhias, como Google, Amazon, Meta e Samsung, entraram na briga. Mesmo a Microsoft, que já possui participação no ChatGPT, quis lançar seu próprio chatbot de IA, o Bing, mesmo nome do buscador da gigante do Vale do Silício, que, há anos, tenta acompanhar o Google;
- Mas a corrida não parou por aí, tendo na competição, ainda, a China: a Alibaba e a Baidu são dois exemplos de companhias chinesas que lançaram concorrentes do ChatGPT, apimentando ainda mais a disputa de longa data entre as potências EUA x China — só em 2023, a China lançou mais de 70 modelos de linguagens;
- Também em 2023, a Alemanha anunciou plano de investimentos de mais de R$ 5 bilhões em IA nos próximos anos;
- Não podemos esquecer também da entrada de Elon Musk na disputa. O bilionário, que é “ex-OpenAI”, lançou a xAI. O Grok, chatbot da companhia, está presentepara usuários premium do X desde novembro de 2023;
- No caso da Amazon, que citamos acima, ao menos por enquanto, a empresa fundada por Jeff Bezos se atve a usar a IA internamente e em seu site, visando ajudar aos clientes da varejista durante suas compras;
- Contudo, desde o ano passado, ela estuda incrementar sua assistente pessoal, a Alexa, com IA, mas deverá cobrar por isso;
- Ainda chegou a surgir rumores de que a big tech estaria trabalhando, finalmente, em um modelo de linguagem grande (LLM, na sigla em inglês) mais poderoso que o GPT-4o da OpenAI;
- Por fim, também tivemos a Apple, que só entrou de vez no mundo das IAs em 2024, ao anunciar seu ecossistema Apple Intelligence.
Com tanta competição e para fortificar seu pioneirismo e soberania, a OpenAI vem adotando algumas estratégias para bater de frente com as rivais. Como um exemplo, a empresa passou a adotar chips da AMD ao lado dos da Nvidia, enquanto desenvolve, ao lado de Broadcom e Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), visando aumentar sua capacidade de infraestrutura para suportar sistemas avançados de IA.
Isso se faz necessário se analisarmos uma empresa que vem forte no segmento: A xAI. Mais um “brinquedinho” de Elon Musk, a companhia é o braço de IA do bilionário, que cofundou a OpenAI e a deixou dois anos depois, sob a alegação de que a empresa deixou seu propósito inicial de lado.
E digo que ela vem forte, pois, além de estar trabalhando duro no Grok, que, finalmente, poderá ter seu próprio app de smartphone, a empresa construiu, em tempo recorde, um mega data center, supostamente mais sustentável que os de suas rivais. Se é mesmo, não sabemos.
Nessa linha, Igreja alerta que OpenAI e o ChatGPT sempre estarão sob ameaça de seus rivais, mas que, até o momento, nenhum deles obteve o sucesso que a empresa de Sam Altman e seu produto principal. E que eles seguem surfando na onda desse bom momento.
Ameaçado [o ChatGPT] sempre estará, pois essa é a posição dos líderes. O que os dados estão nos mostrando é que as outras empresas – Meta, Google, Apple com Apple Intelligence e Elon Musk com suas IAs – não conseguiram o momentum que a OpenAI e o ChatGPT conseguiram. Na história da tecnologia, já tivemos muitos casos como esse, que se tem uma certa hegemonia do pioneiro, mas, no médio e longo prazo, as coisas podem mudar drasticamente. Mas as empresas podem ser complementares. Nós estamos vendo que as diferentes IAs têm fortaleza e fragilidades.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
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Mas, com a ascensão meteórica da tecnologia, muitos problemas e preocupações também apareceram. Há receio de que a IA nos substitua em nossos postos de trabalho, enquanto muitos executivos de tecnologia visam tranquilizar a todos, alegando que devemos tratá-la como nossa colega de trabalho e assistente, e não como nossa substituta.
Após pesquisas que apontam para a extinção de muitas funções laborais, a Organização das Nações Unidas (ONU) precisou interferir no debate e, após pesquisa, divulgou que a tecnologia não iria “roubar” empregos, mas que algumas ferramentas poderiam, sim, mudar rotinas.
Além disso, o ChatGPT, por exemplo, passou a ser usado de forma indevida por alunos mundo afora. Sabe quando o professor do seu filho ou filha pede aquela redação básica sobre como foi a Segunda Guerra Mundial? Fique de olho: ele pode recorrer à IA para escrevê-la, o que interfere diretamente no desenvolvimento e aprendizado da pessoa.
Sem contar que você, professor ou professora, já deve ter se deparado com um texto bem escrito, mas alegando que Adolf Hitler venceu a guerra e que o Terceiro Reich perdura até hoje. Ou que o Brasil é um país do Leste europeu e potência econômica mundial, mais forte até que os EUA.
Aí, já dá para desconfiar que a IA entrou em ação e alucinou, outro grande problema dessa tecnologia atualmente. Para se ter um exemplo, pesquisei por meu nome em vários chatbots em 2023 e recentemente. No ano passado, recebi várias informações imprecisas envolvendo minha universidade de formação, idade e até área na qual atuo no jornalismo.
Já este ano, a situação melhorou. Enquanto algumas IAs não se sentem seguras o suficiente para dizer quem sou por considerar escassas as informações a meu respeito, outras construíram, quase que com perfeição, meu perfil.
Ou seja houve evolução, mas ainda há falhas. Claro que meu exemplo é simples ante a vasta quantidade de informação que há por aí, mas mantém o alerta aceso para as alucinações da tecnologia. Igreja pensa de forma similar, apontando que o ChatGPT ainda precisa melhorar bastante, não só na questão de imprecisão de informações.
[Tem que melhorar] muita coisa. Tem o tema da alucinação, das fontes, da segurança, privacidade, a própria interface, [pois,] em se tratando de uma IA multimodal, ela pode incorporar novos grupos de dados de mídia. O ChatGPT, enquanto solução, é muito poderoso naquilo que faz, mas, na recursividade e até na interface, ainda é bem precário. Como software, tem amplo caminho para evoluir.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
Andrade também aponta melhorias a serem feitas no chatbot da OpenAI, inclusive, a compreensão da cultura de mais povos. “Apesar de todo hype e poder de revolução, o ChatGPT tem suas limitações. Uma área importante é o aprimoramento da compreensão de contexto e nuances culturais, o que permitiria interações ainda mais naturais e empáticas com usuários de diferentes culturas. É crucial melhorar a precisão e a capacidade de distinguir fatos de ficção. Além disso, fortalecer medidas de segurança e privacidade é essencial”, afirma.
Privacidade e leis de IA
Agora, tratemos de um tema muito discutido e preocupante: a privacidade, que incorre em golpes. Há a preocupação de que nossos dados estão inseguros com tanta exposição às IAs. Isso porque há pessoas que contam sua vida inteira para a ferramenta, seja buscando aconselhamento, seja para ter um amigo ou namorado virtual.
Essas atitudes, além de poder gerar problemas emocionais, como dependência, criam verdadeiro livro aberto sobre nossos pensamentos, atitudes, emoções, opiniões e sabe-se lá mais o que, sendo um prato cheio para as big techs, já que elas usam nossas informações para treinar seus sistemas de IA. Algumas alegam que não, mas não é algo certo.
Igreja também comenta sobre a temática, que movimentou a União EUropeia (UE) especialmente, que trabalha, desde o ano passado, em regulações austeras, visando brecar a “farra” no uso desinibido do que conversamos com a tecnologia, entre outros dados que precisamos fornecer se quisermos fazer parte do boom da IA.
É um tema grave. Basta ver a mudança que a OpenAI teve nos seus termos de uso em abril de 2023, a polêmica na Itália, uma série de questionamentos, inúmeras mudanças de posicionamento até do próprio Sam Altman, a crise que a empresa teve com saída de pessoas importantes.
O tema da regulação, dos limites, chegou mais cedo nessa era da IA generativa em relação ao que aconteceu com a própria internet, em relação à discussão de monopólios, antitrustes, até muito antes em comparação com a era das redes sociais e da mobilidade, mas, ainda assim, me parece que essas grandes discussões estão por vir, até porque os legisladores se mostram interessados pelo tema, mas com baixíssimo grau de maturidade. Veremos muito aprendizado na indexação e no acesso aos dados.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
Por sua vez, Andrade afirma que todas as empresas precisam ter preocupação com a privacidade de seu usuário.
A privacidade dos dados é uma preocupação legítima e deve ser uma prioridade para todas as empresas que trabalham com IA. A OpenAI tem demonstrado, até então, um compromisso com a privacidade dos usuários, investindo em segurança e transparência.
Outros players do setor também estão percebendo a importância da privacidade e adotam medidas para proteger os dados de usuários. Reguladores estão de olho e multas pesadas não são a única consequência. A perda de confiança do público pode ser devastadora. Portanto, transparência e responsabilidade não são apenas boas práticas; são questões de sobrevivência no mercado atual.
Junior Borneli, CEO da StartSe, em entrevista ao Olhar Digital
Vamos ver algumas das principais medidas tomadas no mundo para proteger nossa privacidade no universo das inteligências artificiais e suas criadoras:
- Após o Reino Unido estabelecer princípios para o uso da IA por big techs e propor regras de direitos autorais, a UE liderou a primeira cúpula mundial de segurança da IA, realizada em 2023, no Reino Unido;
- Na cúpula, China, EUA e UE concordaram em trabalhar juntas pelo desenvolvimento seguro da inteligência artificial, feito inédito e possivelmente histórico na trajetória da tecnologia;
- Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido à época, se moveu estrategicamente para a Grã-Bretanha ser líder global na segurança da IA. O país anunciou o primeiro instituto de segurança de IA do mundo;
- O país europeu, claro, não é o único no que virou uma corrida paralela da IA, essa pela regulamentação;
- Tanto os EUA quanto o Japão estudam regras para regular a tecnologia, proteger usuários e, ao mesmo tempo, não impedir seu avanço;
- Em 2023, a ONU anunciou a formação de novo painel voltado para o campo. O grupo deverá apresentar relatórios sobre a governação, riscos e principais oportunidades.
E em 2024, o que rolou?
Em 2024, o tema continuou a ser discutido. Como exemplo, temos a segunda Cúpula Global de Segurança de IA, co-realizada por Grã-Bretanha e Coreia do Sul. Durante o evento, empresas, como Microsoft, Google e a própria OpenAI, aderiram a um conjunto de padrões de segurança.
Ainda, um grande passo foi dado: foi formada a Rede Internacional de Institutos de Segurança de IA, composta por Austrália, Canadá, União Europeia, França, Japão, Quênia, Coreia do Sul, Cingapura, Reino Unido e Estados Unidos.
Além disso, 27 países, incluindo Israel e Ucrânia, assinaram a Declaração Ministerial de Seul, que versa sobre o risco a serem apontados por conta da capacidade potencial da IA de fronteira em auxiliar “atores não estatais no avanço do desenvolvimento, produção, aquisição ou utilização de armas químicas ou biológicas”. O Brasil, por sua vez, não assinou nenhum documento apresentado na reunião.
Em setembro, os EUA, que segue em dificuldades para regulamentar a IA anunciou a intenção de realizar outra cúpula global sobre o tema para “promover a cooperação global em direção ao desenvolvimento seguro e confiável da inteligência artificial”.
G20
As coisas avançaram mais no G20, realizado este mês no Brasil. O documento final da Cúpula de Líderes do G20 definiu a criação de força-tarefa, ou “iniciativa de alto nível” para discussões acerca da IA. Caberá à África do Sul, nova nação comandante do G20, tentar estabelecer diretrizes para o tema.
Essa força tarefa dará continuidade ao grupo de trabalho de economia digital do G20. Enquanto o Brasil foi o líder do grupo, os ministros do Trabalho e do Emprego do G20 concordaram com o estabelecimento de diretrizes para o desenvolvimento da IA.
“Reconhecemos que o desenvolvimento, a implantação e o uso de tecnologias emergentes, incluindo a inteligência artificial, podem oferecer muitas oportunidades aos trabalhadores, mas, também, representam preocupações éticas e riscos para os seus direitos e bem-estar”, diz o texto.
Uma das proecupações versadas é o possível aumento da desigualdade global desencadeada pelo distinto desenvolvimento das capacidades digitais de cada país, além de mencionar a necessidade de redução da desigualdade digital de gênero em até seis anos e incluir trabalhadores vulneráveis à evolução tecnológica.
Nesse escopo, o comunicado do G20 ressalta a necessidade de a IA precisar respeitar a privacidade, a segurança dos dados e a propriedade intelectual:
À medida que a IA e outras tecnologias continuam a evoluir, também é necessário superar as divisões digitais, incluindo reduzir pela metade a divisão digital de gênero até 2030, priorizar a inclusão de pessoas em situações vulneráveis no mercado de trabalho, bem como garantir o respeito justo pela propriedade intelectual, proteção de dados, privacidade e segurança.
Comunicado do G20
Convenção de Inteligência Artificial e Direitos Humanos
Em setembro, tivemos a assinatura da Convenção de Inteligência Artificial e Direitos Humanos, firmada entre UE, EUA e Reino Unido.
O documento traz princípios, como responsabilização, não-discriminação, privacidade e confiabilidade, além de reforçar as obrigações da IA com os Direitos Humanos e a democracia.
Conforme o documento, os envolvidos devem tomar medidas para garantir que a IA não seja utilizada para prejudicar os princípios estabelecidos. Isso inclui a necessidade de banir ou supervisionar alguns usos da IA.
Outra obrigação definida na convenção é que as partes adotem medidas de mitigação em casos de violação aos Direitos Humanos como resultado do uso de IA. Um dos artigos define que pessoas que estejam interagindo com IA sejam notificadas de que se trata da ferramenta, e não de outro ser humano.
Além disso, o documento diz que as partes devem encorajar e promover habilidades digitais, que ajudem as pessoas a identificar, prevenir e mitigar riscos trazidos pela IA.
A convenção tem um artigo que foca em crianças e pessoas com deficiência, estabelecendo responsabilização pelas necessidades específicas e vulnerabilidade dessas pessoas. As autoridades públicas que assinaram a convenção são obrigadas a se comprometer com ela totalmente, enquanto agentes privados podem adotar medidas diferentes, desde que tenham o mesmo objetivo.
A ideia é que os países parte do acordo possam cooperar entre si e trocar informações, bem como auxiliar outros países a se tornarem parte dele. Cada parte que assinou o acordo deve designar ao menos um mecanismo para supervisionar o cumprimento da convenção.
AI Act
Outro grande avanço ocorreu na UE, que aprovou o AI Act, proposto em 2021 e oficializado em maio deste ano. Em suma, ele classifica e regula as aplicações de inteligência artificial com base em seu risco em causar prejuízos. Esta classificação enquadra-se principalmente em três categorias: práticas proibidas, sistemas de alto risco e outros sistemas de IA.
Reorganização mundial na esfera jurídica
O advogado Willian de Souza Campos da Silva, do escritório Peluso, Guaritá, Borges e Rezende Advogados, ressalta como a IA transformou, de maneira nunca antes vista (no campo tecnológico), a esfera jurídica.
O cenário jurídico global, com o advento da disseminação do uso da IA, está vivenciando a sua maior revolução desde a uso comercial da internet. Muitos países, assim como o Brasil, começaram a discutir regulamentações específicas para IA, abordando temas, como transparência nos algoritmos, mitigação de riscos, responsabilidade civil por danos e privacidade.
Willian de Souza Campos da Silva, advogado do escritório Peluso, Guaritá, Borges e Rezende Advogados, em entrevista ao Olhar Digital
Ele também destaca como a própria tecnologia passou a ser utilizada no ramo (lembremos que, até mesmo no Brasil, o ChatGPT já escreveu projetos de lei), mas aponta a falta de equilíbrio entre o desenvolvimento das tecnologias e as leis:
Inegavelmente, houve um aumento no uso da IA na prestação de qualquer serviço jurídico, como, por exemplo, para análise de documentos, pesquisa jurisprudencial e, de forma mais sofisticada, até para automação de tarefas administrativas. Por outro lado, ainda há um enorme descompasso entre o ritmo acelerado das inovações tecnológicas e a criação de legislações e regulamentos que acompanhem essa evolução.
Willian de Souza Campos da Silva, advogado do escritório Peluso, Guaritá, Borges e Rezende Advogados, em entrevista ao Olhar Digital
Mas Marcelo Cárgano, advogado e coordenador do Japan Desk no escritório Abe Advogados e pós-graduando em Direito Digital, relembra que as dicussões jurídicas sobre a IA vieram antes de seu boom em 2022. “Muita coisa mudou no cenário jurídico. A IA e a discussão de sua regulação não surgiu em 2022, não surgiu com o ChatGPT. Mas é óbvio que, talvez, tenha sido a primeira vez que um produto usando IA generativa tenha se tornado tão popular, que o público geral tenha tido acesso”, explica.
“Nossa própria conscientização em relação à IA, por um lado, seu potencial, e seus perigos, por outro, acho que passaram a ser discutidos pela população em geral. Então, também tivemos uma aceleração da discussão de regulamentação da inteligência artificial.”
“No cenário global, enquanto algumas regiões, como a União Europeia, lideram os esforços regulatórios, a maioria dos países ainda está em fases iniciais de discussão ou implementação. A ausência de um padrão global dificulta a harmonização das práticas e deixa brechas para a exploração de vulnerabilidades”, aponta Antonielle Freitas, advogada especializada em direito digital e proteção de dados do Viseu Advogados. “A principal barreira é a velocidade com que a tecnologia evolui em relação à capacidade dos legisladores de acompanhá-la, reforçando a necessidade de um esforço conjunto e coordenado para equilibrar inovação e proteção de direitos fundamentais.”
Silva tem linha de raciocínio similar. “No cenário mundial, vemos iniciativas relevantes, como o AI Act da União Europeia, mas muitos países ainda estão no início desse debate. A dificuldade de regular tecnologias em constante evolução e as implicações econômicas e políticas do setor são os maiores desafios que precisam ser superados para garantir que os avanços beneficiem a sociedade como um todo”, diz.
E no Brasil?
No Brasil, a discussão segue “acalorada”. Além da utilização da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para balizar regulações sobre a temática, Congresso, governo e Supremo Tribunal Federal (STF) vêm trabalhando, em esferas separadas, para discutir lesgislações e regulamentações que possam melhorar o uso da IA no País, como observa Freitas.
O Brasil avançou ao estabelecer a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) como base regulatória, mas ainda carece de um marco legal específico para IA. O debate sobre o Marco Legal da IA está em andamento, mas precisa abordar temas, como ética, discriminação algorítmica, transparência e responsabilidade. Esse vácuo legislativo pode expor usuários a riscos, especialmente em um cenário de rápida expansão tecnológica.
Antonielle Freitas, advogada especializada em direito digital e proteção de dados do Viseu Advogados, em entrevista ao Olhar Digital
Outro projeto bastante avançado é o PL 2338, conhecido popularmente como Marco Legal da IA, cujo texto está no Senado, com votação indefinida desde junho. O PL inicial tem como autor o senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG) e tramitava com mais nove projetos que também visam controlar o uso da IA por aqui.
Mudanças do PL da IA
- Entre as mudanças, estão a ideia de criação de Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (SIA) e designa a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para coordenar o SIA;
- Ele também incorpora regras de proteção ao trabalho e trabalhadores para mitigar os efeitos negativos da IA;
- O texto substitutivo revisou, ainda, listagem de sistemas de alto risco, o que reduz sistemas de identificação biométrica de risco elevado;
- Também estabelece medidas de incentivo a microempresas, empresas de pequeno porte e startups. Elas terão critérios diferentes, como acesso prioritário aos ambientes de testagem.
Pontos propostos pelo PL da IA
Veja, a seguir, alguns dos pontos abordados pelo PL da IA:
- Criação da Política Nacional de Inteligência Artificial, para regular e supervisionar o uso da IA;
- Regras específicas para uso de IA na publicidade ou ambiente jurídico;
- Avaliação de todo sistema de IA de forma preliminar para se determinar grau de risco, podendo chegar a risco excessivo ou alto risco;
- Desenvolvimento e implementação de ferramentas que respeitem os direitos humanos, valores democráticos, respeito às leis trabalhistas, entre outros fundamentos;
- Novas IAs devem passar confiabilidade e robustez de seus sistemas e segurança da informação e dados dos usuários;
- Responsabilização e reparação integral de danos gerados. Além disso, assumir riscos pelo uso feito das plataformas;
- Promoção de inclusão digital para acesso às ferramentas e estímulo à pesquisa e desenvolvimento da tecnologia;
- Formas de incentivar a educação e capacitação de profissionais em IA para minimizar o impacto da automação trazida pelas novas tecnologias;
- Abertura de tratados internacionais de cooperação.
Além disso, nas últimas semanas, organizações não governamentais (ONGs) representadas pela Abong, Ibase e Ação Educativa, emitiram carta, manifestando a necessidade de maior participação da sociedade civil na regulação da IA no Brasil.
Para esses órgãos, a participação das OSCs (Organizações da Sociedade Civil) na regulação da IA precisa ser maior, visando atender os interesses públicos.
Mas, para o advogado Silva, o Marco Legal da IA pode deixar algumas lacunas abertas. “O Brasil deu passos importantes com a aprovação do […] Marco Legal da Inteligência Artificial, mas a tendência é que ainda permaneçam lacunas em áreas como fiscalização e implementação prática das normas”, opina.
Qual o futuro do ChatGPT e das IAs?
A princípio, o que está certo no horizonte da OpenAI é que a companhia planeja lançar nova versão do ChatGPT em futuro próximo. Segundo pessoas envolvidas no projeto, o GPT-5 trará salto significativo em relação aos modelos anteriores.
Para além do ChatGPT, muito se especula, mas dois pontos vêm sendo amplamente colocados como as novidades que teremos para os próximos anos: a IA geral (IAG) e os agentes de IA.
IAG
Em 2023, Sam Altman tentou definir a IAG ao The New Yorker, descrevendo-a como o “equivalente de um humano mediano que você poderia contratar como um colega de trabalho”. Já o estatuto da empresa entende que a tecnologia é conjunto de “sistemas altamente autônomos que superam os humanos no trabalho economicamente mais valioso”.
Contudo, como são definições básicas, a OpenAI criou os cinco níveis usados internamente para avaliar seu progresso rumo à IAG, segundo a Bloomberg. São eles:
- Primeiro nível: chatbots (como o ChatGPT);
- Segundo nível: racionadores (algo como o OpenAI o1, supostamente);
- Terceiro nível: agentes (o que vem a seguir, possivelmente);
- Quarto nível: inovadores (IA que pode auxiliar a inventar coisas);
- Quinto nível: organizacional (IA capaz de fazer o trabalho de toda uma organização).
Mesmo com essa organização toda, pode continuar sendo complicado entender a definição, algo que também é para Li. Sem contar que tudo isso parecer ser bem mais do que um colega de trabalho humano é capaz de fazer, opina o The Verge.
Portanto, a IAG parece ser algo mais distante, apesar de que foi especulado, recentemente, foi a chegada de uma “super IA” da OpenAI, chamada Orion, mas Altman desmentiu. Ao menos, para 2024.
Para, Borneli, é mesmo incerto quando a IAG estará aqui, mas que é importante entendermos os impactos dela. “No que diz respeito a algo mais distante, a inteligência artificial geral, esse contexto é um pouco mais amplo e ele diz respeito a algo que alguns especialistas dizem que já existe, mas ainda não foi revelado, outros que a gente está próximo e que isso deve acontecer muito breve e outros ainda dizem que a gente está longe disso, ainda que esse longe não seja algo para daqui 30 anos. Então é difícil dizer quando é que isso acontecerá, mas é super importante entender os impactos quando isso acontecer”, opina.
A inteligência artificial geral, que é mais ou menos o conceito de que a máquina aprende sem ser ensinada, hoje para que uma máquina desempenhe uma função, a gente precisa ensiná-la, treiná-la com dados, o oposto disso seria a inteligência artificial geral, que ela meio que aprende por si só, ela toma decisões, ela escolhe caminhos de aprendizado não baseados em elementos que talvez a gente já saiba ou já tenha criado para ela. Então é algo que é interessante, relevante, super importante, que deve acontecer, mas que a gente ainda não sabe a que distância estamos disso.
Junior Borneli, CEO da StartSe, em entrevista ao Olhar Digital
Super IA? Orion? Como assim?
Internamente na OpenAI, o Orion seria considerado sucessor do GPT-4 – e estimado ser até 100 vezes mais poderoso. O modelo teria sido desenvolvido separadamente do “Strawberry” (codinome do modelo o1), lançado em setembro, que estaria sendo usado para gerar dados sintéticos para o treinamento do Orion.
A ideia da OpenAI seria combinar os modelos de linguagem ao longo do tempo, com o objetivo de evoluir para a IAG, consolidando uma plataforma mais avançada.
Diferente de lançamentos anteriores, o Orion não seria disponibilizado de imediato ao público via ChatGPT. Em vez disso, o acesso inicial seria concedido a empresas parceiras, que poderiam criar produtos e recursos próprios utilizando o novo modelo.
A parceria com a Microsoft, que hospeda os modelos da OpenAI na Azure, deve possibilitar o acesso ao Orion em novembro, disseram as fontes ouvidas pelo The Verge.
E os agentes de IA?
Em um fórum do Reddit, Altman deu uma dica do que está por vir. Afirmou que “teremos modelos cada vez melhores”, mas disse achar “que a coisa que parecerá o próximo grande avanço serão os agentes”.
- Basicamente, os agentes de IA são sistemas inteligentes autônomos que realizam tarefas específicas sem intervenção humana;
- Vale destacar que alguns modelos deles já existem, mas não na forma avançada que as empresas estão preparando;
- Imagine uma Siri ou uma Alexa. Eles são capazes de interagir com você em uma conversa e realizar tarefas simples do dia a dia, como ligar para alguém ou fazer uma pesquisa na web;
- Mas esse novo agente de IA será uma versão turbinada disso – e autônoma de verdade;
- A tecnologia já é capaz de interagir com o ambiente, além de coletar e interpretar dados, para entregar uma meta pré-estabelecida. No futuro, ela também poderá mexer em um computador como faz um humano;
- Em vez de apenas processar imagens, textos ou vídeos, o agente também vai mover o cursor e mostrar envolvimento real com as interfaces do PC. E tudo de forma racional.
A empresa não divulgou uma previsão de lançamento do seu Operator para o público geral. De acordo com a Bloomberg, no entanto, a ferramenta já deve disponível para pesquisa de desenvolvedores a partir de janeiro de 2025.
Apesar de todas essas colocações e especulações, Igreja entende ser difícil prever o que vem por aí para OpenAI, ChatGPT e a inteligência artificial em geral.
É difícil estimar, porque imagina tudo o que aconteceu em dois anos. Imagina a internet naquela primeira metade dos anos 1990. Aqui no Brasil, ela chega a partir de 1996. Estimar algo em 1998 era muito incipiente perto do que aconteceu dali em diante. O mesmo vale para a era da mobilidade, dos apps, que começa a explodir a partir de 2007. Em 2024, para fazer uma análise dois anos depois do ChatGPT, no mínimo, temos que reconhecer que está muito no começo dessa história.
Se já estão acontecendo coisas que nos deixam estupefados, imagina daqui a cinco, dez, 20 anos. É fundamental ter certo distanciamento histórico e certa humildade para entender que é muito recente. As transformações vão ser gigantescas, colossais, como foram nessas outras ondas.
Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação, em entrevista ao Olhar Digital
Andrade acha que o futuro da IA é “empolgante”. “O futuro da IA é extremamente promissor, e ainda mais empolgante. Estamos caminhando para um futuro em que a IA não apenas responderá perguntas, mas antecipará nossas necessidades. Imaginar um mundo onde seu ar-condicionado ajusta a temperatura antes mesmo de você saber que está com frio, ou onde sua geladeira faz a lista de compras baseada nas receitas que você pretende cozinhar. Podemos esperar soluções ainda mais integradas e inteligentes”, diz.
“E ainda há uma grande expectativa pela disseminação da combinação de IA com outras tecnologias, como realidade aumentada e IoT (Internet das Coisas), transformando nossa interação com o mundo em algo comumente visto em filmes de ficção científica. Mas, claro, tudo isso vem com o desafio de garantir que a tecnologia seja usada de um jeito ético e transparente”, prossegue.
O que esperar da IA nos próximos anos é muito difícil de dizer, porque a aceleração é exponencial. À medida que a IA fica melhor, a evolução dela fica mais rápida. Ela fica melhor, a evolução fica mais rápida. E, aí, a gente começa a ver uma dificuldade de fazer previsão temporal, ainda que fazer previsão do que seja um pouco menos difícil.
O que já se sabe é que a gente vai ver um grande crescimento da criação de agentes. Agentes de IA com fins específicos para desempenhar funções. Eles podem ser organizados em agentes que desempenham uma função, em times que desempenham grandes volumes de tarefas e, até, empresas inteiras, eventualmente, poderiam ser geridas ou tocadas por funcionários, entre aspas, autônomos, squads digitais, times digitais.
Então, essa deve ser a grande promessa e o que de fato vai transformar toda essa hype da IA em eficiência no ano que vem. Todo mundo está olhando para isso, os anúncios das big techs, inclusive da OpenAI, estão indo nessa direção, então, é algo que é bastante importante de se observar nesse contexto.
Junior Borneli, CEO da StartSe, em entrevista ao Olhar Digital
Mas há limite para a IA? o especialista em Tecnologia e Inovação, Igreja, entende que não. “Não existe limite, porque a OpenAI desenvolve o ChatGPT que está na camada de aplicação, ou seja, é a camada que tem interface com empresas, com pessoas. E, quanto mais isso vai explodindo, [mais] se puxa o que está para trás, que são as camadas de infraestrutura, como é o caso dos data centers, o que impacta na Nvidia, na TSMC”. explica.
“As empresas que estão nessa camada de aplicação, como é o caso do Google com os buscadores, com o Google e com a Apple, no caso dos sistemas operacionais, e com os aplicativos no caso da mobilidade, crescem absurdamente justamente porque se tem essa massa de usuários e de adesão, e isso traz mais recursos, pesquisa e investimentos”, conclui.
O cofundador e diretor de negócios da Igma, Andrade, vê uma evolução infinita para a OpenAI, mas questiona se a empresa saberá transitar por pontos fundamentais, como a sustentabilidade.
A OpenAI tem demonstrado que o céu não é o limite quando se trata de inovação e crescimento. Com a busca pela Inteligência Artificial Geral, eles estão na vanguarda de uma revolução tecnológica que pode redefinir indústrias inteiras. Seu compromisso com pesquisa e desenvolvimento contínuos permite explorar territórios inexplorados da IA.
Ambicioso, com certeza. No entanto, o crescimento (sustentável?) dependerá de como a OpenAI e outras empresas navegarão por desafios éticos, regulatórios e sociais.
Rubem Andrade, co-fundador e diretor de negócios da Igma, em entrevista ao Olhar Digital
De fato, há muito a ser explorado pela OpenAI nos próximos anos. Para isso, ela está pensando em se tornar uma empresa com fins lucrativos, o que pode mostrar muito do poder que ela visa ter com suas tecnologias de inteligência artificial. Resta acompanharmos seu desenvolvimento, bem como de toda a indústria de tecnologia em si.