Discorrer sobre o papel transformador da IA na economia global está em alta. Presenciar a aplicação prática em setores como saúde, finanças, telecom, utilities, manufatura e varejo têm estado na ordem do dia da imprensa brasileira, internacional e agenda do C-level e conselhos de administração trazendo luz e otimismo quanto ao futuro dessa tecnologia e ao impacto que ela pode gerar. Mas como será que as organizações, de fato, estão conduzindo as discussões sobre IA, IA generativa, automação e computação em nuvem que precisam ser incorporadas não apenas em áreas funcionais, mas em suas estratégias de negócios?
Especificamente no universo financeiro, dados do Gartner mais recentes demonstram que o uso de IA no setor cresceu 58% entre 2023 e 2024, com um aumento de 21 p.p. no mundo todo. Independentemente da aplicação – que pode ir desde chatbots e assistentes virtuais, análise preditiva, detecção de fraudes e anomalias, personalização e recomendações, automação, melhoria de processos (hiperautomação) a geração de conteúdo, com a IA generativa – 44% das funções financeiras já contam com automação de processos inteligentes. Durante o IBM TechXchange Conference 2024, em Las Vegas, evento que reuniu 5 mil especialistas no tema de diversos países, muito se discutiu como a IA generativa pode revolucionar a experiência do cliente e otimizar processos em setores como o de meios de pagamento. As ricas conversas foram pautadas além do entusiasmo em torno da IA, mas em consenso de que a busca deve sempre ser direcionada a resultados concretos que gerem valor real ao negócio, como na sessão que tive o privilégio de ser um dos painelistas sobre “Enterprise Generative AI Case Studies CAIOs at CSU Corp., Prudential Insurance, Labcorp, and Discover”.
Entretanto, o otimismo com o potencial de uso da IA, o amadurecimento das tecnologias e resultados em geral já alcançados contrasta ainda com grande frustação e desperdício de recursos de algumas empresas na adoção da IA, mas por que isso acontece? O problema é da tecnologia? Da falta de clareza sobre o desafio de negócio a ser endereçado e/ou o retorno sobre o investimento (ROI)? Da falta de conhecimento dentro da organização para a condução adequada da jornada e administração das expectativas, desafios e riscos? Ou uma combinação de todos esses pontos?
O tempo e a vida real, muitas vezes não exposta nas redes sociais e mídia, têm demonstrado que empresas bem-sucedidas (acertaram mais do que erraram) nessa jornada de IA – e transformação digital em geral – moldaram a organização para este fim. Com patrocínio e exemplo da liderança trabalharam o letramento digital dos executivos e áreas de negócios, trouxeram a discussão para o âmbito da estratégia, de como efetivamente poderiam trazer valor para o negócio tendo a IA como habilitador, trabalharam na integração das áreas de negócios com tecnologia, capacitando as áreas de negócios a atuarem em squads usando metodologias ágeis, aprendendo e atuando com protagonismo no ciclo de vida de um produto digital, seja ele um produto de dados, software ou IA, ao mesmo tempo em que deram um banho de loja de negócios nos times de TI, para saírem de suas cavernas técnicas, passando a protagonizar nas discussões de negócios.
Adicionalmente investiram adequadamente na fundação tecnológica, processos e governança necessários para a viabilização da jornada de IA e estabeleceram uma liderança com conhecimento técnico, experiência prática de entrega de produtos dessa natureza, capacidade de articulação e desenvoltura executiva para promover o engajamento necessário e a dizer não quando necessário para que a jornada avance de forma consistente. Mais uma vez a gestão de mudança e cultura organizacional sendo elementos críticos de sucesso.
Se na sua empresa algo precisa ser revisitado quanto a estratégia e/ou operacionalização da jornada de IA, não hesite em fazer rapidamente os ajustes, é o famoso fail fast, learn faster. Faz parte da jornada e do amadurecimento. Comece pequeno, aprenda rapidamente e escale. À medida que os resultados vão aparecendo e a engrenagem vai aperfeiçoando o modus operandi, novas oportunidades de negócios e novos horizontes se abrem.
Portanto, se sua empresa usa IA para alguma iniciativa isolada, departamental, isso não é transformação digital, é apenas um experimento com possível benefício pontual. Não se contente com isso, sua empresa pode ir muito além. A jornada não é fácil e nem mesmo um passe de mágica como algumas pessoas acham que a inteligência artificial é, mas com a visão, o engajamento e os investimentos adequados, a recompensa vem.
Gustavo Pecly, Chief Digital Officer da CSU Digital.