Uso indevido de inteligência artificial na universidade deixa professores em alerta

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Profissionais relatam experiências com o uso da IA no mercado de trabalho

 

   Não é incomum ver alguém utilizando a inteligência artificial (IA) para realizar as suas tarefas diárias, seja na universidade ou no trabalho. Mas qual é a real definição de IA? Para o professor de Engenharia de Software Willian Xavier, é o campo da Ciência da Computação que se dedica ao desenvolvimento de sistemas capazes de realizar tarefas que, normalmente, requerem inteligência humana. Isso inclui habilidades como raciocínio rápido, percepção, reconhecimento de padrões, compreensão de linguagem natural e tomada de decisões.

   De acordo com o professor, a definição de IA não tem sido utilizada corretamente. “A mídia atualmente promove a IA como uma solução fantasiosa, capaz de realizar tarefas muito além do que ela realmente pode realizar”, comenta Xavier.

   O ChatGPT, por exemplo, é uma ferramenta em formato de chatbot (programa que simula uma conversa com um humano). O recurso tem sido uma das principais escolhas dos estudantes para fazer trabalhos acadêmicos. “Alguns alunos utilizam cegamente as IAs para aprender, e notamos que estes têm desempenho muito abaixo da média. É perceptível que alunos com um pensamento mais crítico já identificaram que o ChatGPT produz muita informação duvidosa”, explica Xavier.

   O professor esclarece que o ChatGPT é um Large Language Model (modelo de linguagem grande) e que seu objetivo é a escrita coesa de frases. “Ele é uma ótima ferramenta para revisão de texto e para retirar ambiguidades das frases. Porém, de maneira alguma deve ser usado para aprendizado. Ele não possui ‘conhecimento’ sobre tópicos do mundo real, apenas escreve frases coesas sobre o tópico devido à análise estatística”, ressalta.

   Em contrapartida, alguns professores têm um olhar positivo em relação às IAs. O professor  Lívio Marcel Queji, conta que o Departamento de Administração da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) está em processo de criação de um núcleo de inteligência artificial. O projeto já ultrapassou a fase embrionária e começou a produzir resultados concretos. Recentemente, esse núcleo publicou seu primeiro artigo, em que  traçou um perfil dos acadêmicos em relação ao uso da IA tanto em contextos profissionais quanto acadêmicos. De acordo com Queji, havia a preocupação de que as IAs pudessem ser utilizadas de forma inadequada pelos estudantes, mas com o passar do tempo, as preocupações evoluíram. “O desafio agora é integrar a IA de forma construtiva e consciente no processo educacional, garantindo que os alunos estejam preparados para utilizá-la como uma vantagem em suas carreiras”, relata.

   Queji afirma que muitos estudantes ainda têm dificuldade em estabelecer diálogos mais elaborados e produtivos com a ferramenta, muitas vezes utilizando a lógica simples de um buscador como o Google ou tentando produzir trabalhos inteiros a partir de prompts limitados. “É essencial que os estudantes sejam orientados a usar a IA de forma mais reflexiva e criativa, desenvolvendo habilidades para gerar prompts mais complexos e análises mais profundas”, explica.

   Segundo Queji, a orientação para os professores, caso seja encontrado o uso de inteligência artificial na realização de um trabalho, é que seja devidamente referenciado pelo estudante, assim como se faz ao utilizar um software de estatística para análises quantitativas. “É importante que os alunos tratem a IA como uma ferramenta de suporte, não como um substituto do pensamento crítico e da elaboração própria”, conclui o professor.

 

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Estudantes utilizam IA’s para fazer trabalhos acadêmicos. Foto: João Victor Lemos

Inteligências artificiais no mercado de trabalho

   No mercado de trabalho também encontramos as IAs sendo utilizadas de diversas formas. O engenheiro de software Felipe Magrinelli conta que atualmente as IAs são utilizadas para completar tarefas repetitivas e aquelas com as quais os seres humanos possuem familiaridade. Porém, existem alguns cuidados para o uso. “Em situações mais complexas, podemos direcionar questionamentos às ferramentas de IA, mas este passo vem após alguns outros mais importantes, como leitura de documentação e fóruns, onde podemos encontrar pessoas com o mesmo problema que já tivemos e buscar uma solução mais certeira”, exemplifica. 

   Rafael Micheli, estudante de Engenharia Florestal na Universidade Federal do Paraná (UFPR), dá um exemplo de criação de IAs com um objetivo específico, como identificar árvores e auxiliar na medição e controle de plantios. Ele trabalha com a IA desenvolvida por uma startup sueca e explica que as empresas têm buscado novas soluções para gerar novas práticas, investimentos, incentivos à pesquisa e, até mesmo, para livrar funcionários de situações perigosas, auxiliar na segurança do trabalho, agilidade, automatização e terceirização de processos. 

   “Trabalhar com IA tem sido extremamente positivo. Não pela substituição de outras atividades, mas como maneira de capacitar profissionais nessa área, trazer novas possibilidades de condução dos processos dentro de uma empresa e integrar a pesquisa e o desenvolvimento na vida do profissional”, conclui Micheli.

 

 

Ficha Tecnica: 

Produção: João Victor Lemos

Edição e publicação: Karen Stinsky, Lívia Maria Hass, Loren Leuch e Maria Tlumaski

Supervisão de produção: Carlos de Souza

Supervisão de publicação: Aline Rosso e Kevin Furtado

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